sexta-feira, 28 de setembro de 2012



"O musical oferece ao personagem a possibilidade de cantar ao mundo sua alegria ou sua tristeza.

Assim sendo, está mais apto que os gêneros ditos naturalistas a representar de forma direta, imediata aos sentidos, alguns aspectos da existên

cia:

A continuidade de nossa vida mental ou de nosso “monólogo interior” (expresso pela canção-monólogo),
O pertencimento do indivíduo à comunidade e ao mundo (coreografias coletivas),

O diálogo do corpo com os espaços que o acolhem ou o oprimem,

O desejo de se deixar levar por um voo da imaginação ou de sacudir o mundo com as vibrações de um sentimento.

O musical realiza o que Alexandre Astruc afirmava ser a quintessência da mise en scène cinematográfica: “prolongar os elãs da alma nos movimentos do corpo”.

( Rancière)


"Killer of Sheep" veio ao mundo entre duas ondas populares de cinema americano negro: o período da blaxpoitation dos anos 70 e a revitalização operada por Spike Lee nos anos 80.

"Killer of Sheep" também é importante por ser um dos poucos
fi

lmes americanos nos quais os personagens negros não são metáforas para algo além de si mesmos. Não são simples variações de estereótipos ou vítimas passivas...

Muitos filmes sobre afro-brasileiros são filtrados por uma terrível "história da vida real", ....

Burnett reduz o ritmo, remove camadas, cria situações propositalmente banais e ilumina o espírito por trás de carne e osso.

Deixa o espectador sem fôlego ao não tentar deixá-lo sem respirar, não tentar deslumbrar ou assoberbar o espectador com um tratado político de peso- e ainda assim seu filme é um exemplo de arte radical".

(EH)
Benjamin, ao falar da modernidade e sua alienação, refere-se à arte alegórica em Charles Baudelaire.

Carlitos, em sua coreografia em "ponto de fuga", luta contra o aprisionamento moderno.

Em "The Kid", suas asas de albatroz ( poema de Baudelaire) trombam na multidão ( massa).


Chaplin, o flaneur na multidão- em sua alegoria da cegueira geral de uma cidade.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Berkeley



Berkeley-2


Berkeley


Kyoshi




Em "Je Vous Salue Marie", Godard- um tanto extenuado com a massiva coisificação do corpo via imagens "chapadas", decidiu por reconfigurar a ótica, ao resgatar um erotismo via arte:

"Quanto mais discreta a beleza, mais intensa".


Se tudo já estaria dado, não haveria mais a necessidade desta arte específica do campo e do extracampo- do visível e invisível, de ocultações e desvelamentos.


Godard, claro, vai na contracorrente, ao afirmar o cinema, a mulher, o estatuto do corpo....


O filme é também um retrato dos tumultos de uma sensível mulher na sociedade moderna- entre outras.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012



Não achei aqui a bela entrevista com o diretor Marcelo Gomes para a extinta Revista Paisà sobre seu belo filme "Cinema, Aspirina e Urubus", em que ele fala do emprego da luz e da câmera colada aos atores na obra.

Luz caiada do europeu, luz caiada do nordestino- em encontro.

E o mesmo tipo de iluminação, como expressão da busca de um caminho por esses "estrangeiros".


"Andrea Tonacci nasceu na Itália em 1944, mas ainda na infância veio para o Brasil para se instalar na cidade de São Paulo, onde reside até hoje.
Na década de 70, passou a “existir” (como ele próprio costuma dizer) para o cinema, após ganh...
ar notoriedade - sem qualquer tipo de glamour - com “Bang Bang” ....


No dia 30 de setembro, Tonacci recebeu o Cinequanon em sua casa, que também é a sede de sua produtora, a Extemart. Falou sobre assuntos como a história de “Serras da Desordem”, seu trabalho com a questão indígena, sobre “Bang Bang”, seu processo criativo....."
( Cinquanon)



Blake Edwards é antes de tudo um cineasta vivo.

Ele sabe descobrir o movimento que anima dois seres um rumo ao outro. Sua experiência pessoal, até hoje, nada mais é do que a compreensão do nascimento e da existência do amor.
Ele sabe no...
s fazer ver e perceber o amor tanto à sua origem, no momento do encontro entre dois seres, como no seu movimento, sob as formas que estabelecem as condições de suas relações – em todos os níveis. Daí essa gravidade da emoção que nos arrebata durante cenas como nós raramente as vimos, tão vivas como um organismo.

A cena inteira é um organismo vivo, de coração aberto. Nós assistimos a olho nu o batimento de um coração – e ao mesmo tempo sentimos e percebemos os batimentos do nosso – e a vida de repente encontra-se em nós, ao mesmo tempo que um conhecimento completo nos é dado do élan vital.

Se há um cineasta que toca e desperta em nós a vida mais orgânica, essa vida que é a matéria e a própria expressão do seu trabalho, é certamente Blake Edwards cuja atenção não é torpe como a da maioria dos cineastas, mas ao contrário, alerta e ativa - daí essa sensação de vida. Ela é uma das raras que podem durar longamente, tanto dentro de uma cena como na totalidade de um filme.

Blake Edwards só pode ser o autor de filmes pessoais de contatos vitais com ele. O calor de certas cenas prova, enfim, que sua sensibilidade, longe de fechar-se em si mesma, é ao contrário receptiva e reativa à realidade e aos acontecimentos do mundo."

( Pierre Rissient, Présence du cinéma)

Tradução- Felipe Medeiros


"Quando o intelectual francês vem discursar no Brasil, os caras se enchem a recolher as babas com seus potinhos.

O intelectual brasileiro é a escarradeira do Sartre."

( Nelson Rodrigues)