
"Pseudoimbecilidade e
Pseudointeligência"
As crianças criam a “pseudoimbecilidade” como forma de se defenderem. Fazem-se
passar por estúpidas quando estão num contexto que não podem nem aceitar nem
modificar. Leio isso no livro A ambiguidade, de Simona Argentieri, que sairá
brevemente no Brasil.
Serão só as crianças?
Tem gente que aceita silenciar, se moldar, ser
subalterno ou se comporta como os animais que se mimetizam com o ambiente para
não serem notados. É um tipo de esperteza, esperteza que consiste em parecer
estúpido.
Como variante disto, penso também na questão das pessoas que se inserem numa
ideologia que está na "moda". É uma maneira de se exibir usando uma carapaça
charmosa. E isso me leva logo a uma outra categoria que poderíamos criar — a do
“pseudointeligente”.
Uma pessoa pode, por exemplo, passar por “inteligente” nos meios acadêmicos e
nos bares simplesmente recitando o receituário de uma certa filosofia ou de um
autor que entrou na moda. Pode passar por alguém que está “por dentro” quando,
na verdade, ou seja, é um parasita da ideologia dominante.
Se o “pseudoimbecil” se retrai ocultando a sua verdadeira opinião, como casca,
para se defender (mecanismo que Winnicott estudou), o segundo avança criando
uma máscara de "falso ajustamento".
Os regimes autoritários, as inquisicões, as patrulhas ideológicas obrigam o
indivíduo a esconder sua verdadeira opinião. Realmente, é um risco desafinar no
“coro dos contentes”. Alguns perdem a cabeça, o emprego, o espaço nos jornais.
A “pseudointeligência”, que é uma maneira sábia de ser covarde, nos leva a
consumir o que está na ordem do dia, seja a moda, a música, a arte e
até a comida. Os argumentos usados Repetem a vulgada, o discurso alheio. Poder-se-ia dizer que, neste
caso, são pessoas que não têm “redação própria” ou “autonomia de voo”.
Afonso Romano
Nenhum comentário:
Postar um comentário