segunda-feira, 30 de maio de 2011

Cartas- "Tolas, se não não seriam cartas"








Clint Eastwood nos traz o cinema "da evidência", de Howard Hawks. Da câmera à altura do olho humano.

Contudo, de um Hawks mais ao estilo "Hatari! "( ou pós), onde os homens não se encontram no centro.

Em seu cinema, em meio a uma narrativa que nos parece clássica, tudo gira em torno e, assim, tons e gêneros se metamorfoseiam como instabilidades.


Nesse caso, gêneros norte-americanos serão recodificados: fazendo gira o thriller em "Um Mundo Perfeito", o filme de boxe em " Menina de Ouro"- em que justo a queda de uma lutadora equivalerá a sua libertação. Ou a recodificação do filme policial em "Crime Verdadeiro", em que tons sombrios igualam vítimas e profissionais, como fantasmas vivos pincelados pela direção.

Essa última acopla o isolado Ethan, de "Rastros de Ódio" (John Ford) que, ao mesmo tempo em que tudo perde, favorece uma família e vice-versa. Junto ao cineasta alemão Fritz Lang, com a engrenagem da máquina da pena de morte sendo trabalhada como algo -também- da ordem do metafísico.

Se a salvação dos condenados é certa, tal momento não nos será mostrado: somente a imagem congelada da esposa do condenado, sob a forma de reticências.

(A salvação nos aparecerá, pois, como sendo algo da ordem do “irreal”. Do surreal).



Certa feita, cheguei a escrever:



“ Temos aqui um personagem à cinema americano clássico, fiel a suas tarefas, levadas até o fim. Publicamente, obstinado em suas causas.

Privadamente, péssimo pai e marido. O que ele guarda de si mesmo são suas sombras, seus estilhaços, como o Ethan de "Rastros de Ódio"- igualmente um fiasco na vida familiar, a viver a vagar por entre os ventos.


Essa obra volta a inserir a questão do olhar desconfiado e, somente assim, um homem poderá livrar um condenado injustamente à pena de morte.

Ou seja, retoma-se o problema das vistas embaralhadas presente em “Um Mundo Perfeito”: a imagem fantasma, a sombra sugere a verdade -ou, a não verdade-, por outro viés, que não o óbvio.

Essa imagem de cinema esteve por ali desde o início, em meio aos estilhaços, a carregar consigo uma História de histórias: corpo ausente e presente.


Mas o protagonista Clint é possuído por dados que somente pensa dominar.


Tanto que, ao se resolver a trama, os dilemas do herói-antiherói não o serão. Muito menos, será ele agraciado pelo homem salvo, uma vez que parece não ter feito mais do que sua obrigação: “Que os mortos cuidem dos mortos”. Agora é ele o condenado.


No momento final, em que a ex-vítima e o protagonista trocam olhares- após a cena chave em que certa inverossimilhança faz valer a ideia de milagre em surdina (não mostrado)-, serão ambos sombras, mas cada qual à sua maneira:

O homem liberto, com crenças mais definidas, a se despedir. E, em posição diametralmente oposta, o personagem de Clint, a partir pelo outro lado do enquadramento.


De um lado, um personagem salvo e sua família, a seguir. De outro, o protagonista- consigo mesmo para carregar. É, portanto, e de certa maneira, uma variante da cena final do clássico "Rastros de Ódio", de John Ford, com o verde ao fundo, em meio à noite e um jazz melancólico a se instalar em cena.

É após a imagem da troca de olhares, vivida em tempos de Natal, que a obra compõe seu agridoce cartão natalino: um cenário escuro esverdeado a permanecer em cena, estaticamente, como uma bela natureza morta, na medida em que os créditos fluem até a dissolução da imagem."




Em "Além da Vida", em que muitos esperavam por um filme sobre o "além", o que a obra novamente nos impõe é o cinema da câmera à altura do olho humano, da evidência do olhar.

Sem negar propriamente um além, trata-se de um filme de buscas, de relações e de toques. Com alguns tateamentos, um pouco à maneira do cinema independente de John Cassavetes. E a obra, portanto, a girar em sua configuração de instabilidades.

Ou bem, a impor seu sentido da incompletude humana, tal como na obra do diretor alemão Fritz Lang ( de "M", "Um Retrato de Mulher", " Scarlett Street").


Mas o que seria, no caso, esse além- em nós ou fora de nós?

É justo o que confere o perigo de estar diante de seus limiares pessoais ou suprapessoais- mais ao estilo de Howard Hawks ( autor de " O Paraíso Infernal", "À Beira do Abismo", "Rio Bravo", Hatari!")-, traduzidos para o mundo atual de desastres físicos.

A tela que aprisiona os personagens é a mesma a abri-los, em travessia pelo mundo.

Limites e expansão. E não um filme a mais de "foco espírita".

De Cabeceira- 2





De cima pra baixo: " Além da Vida" - de Clint Eastwood, "Sangue sobre a neve"- de Nicholas Ray e "O Raio Verde"- Eric Rohmer

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Código Aprovado, Amorim e classe média





A maioria dos textos aqui postados, sobretudo os que não são de minha autoria, tem como intuito trabalhar pontos de partida para discussões em sala de aula, ou algum outro local.


Portanto, não são todos os que endossaria em gênero, número e grau.

Aliás, garantir mesmo só os de meu próprio punho.


Ainda assim, devo dizer que a grande maioria deles é endossada, tal como o sobre a cobertura da mídia ao caso do assassinato em Realengo. Mas o mesmo não posso dizer que tenha se dado, por exemplo, com o texto de Amorim sobre o Código Florestal.


Continuo aqui a defender minhas palavras sobre a visão fragmentada que a “classe média de James Cameron” apresenta da questão, que se trata de uma espécie de "causa” única e chique, etc. Fato, contudo, é que somente uma mudança na maneira de pensar certos modelos de vida levaria a uma postura de menor poluição.

A cultura do consumo prossegue enraizada, como a principal a lançar toda sorte de lixo tóxico no planeta.

E, até onde saiba, a grande maioria não pretende abrir mão da substituição contínua de “lixo descartável”. Muito menos no Brasil: trocar seus chiques carros por luta por um melhor transporte coletivo, ou por locomoções menos poluentes.


Logo, seríamos quase todos responsáveis. E justo a classe média que se autonomeia ecológica.



Já sobre a aprovação do novo Código Florestal, posso dizer que domino pouco o assunto, mas que não deu para bem digerir o texto do PHAmorim, que me parece conivente com a “eterna” bancada ruralista no país.

Chegar em um local- tipo Região Norte, por exemplo- como se fosse Terra de Ninguém, e daí a estabelecer suas próprias leis, como em espécie de faroeste caboclo, não deveria ser encarado como algo tão normal assim.


Portanto, a isenção ao dito pequeno proprietário não convence, por haver muitos desses chamados “pequenos” que são simplesmente sonegadores e, dessa forma, nunca revelarem seu real e aquisitivo poder.

Geram emprego? À custa de escravidão, na maioria das vezes: apanhadores de café, açaí, etc.


Portanto, quem seria, Amorim, em vias de fato, esse dito “pequeno proprietário”? Conheço quem se nomeie como tal, mas que é cheio de espécime oculto.

Sei que é tema polêmico, mas que também essa história de Código é uma enrolação a mais para não tocarmos no proibido tema da reforma agrária... tão protelado, quanto velha é a bancada ruralista...

Falei palavra proibida?


A ocorrida aprovação ao Código hoje me parece lamentável, como retroalimentação do estagnado.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

De Cabeceira- Part. 1






( De cima para baixo: "Gosto de Cereja"- de Abbas Kiarostami, "O Milagre"- Roberto Rossellini, "O Pão Nosso"- de King Vidor e "Viver a Vida", de Godard).

O Anjo e a Mídia- continuação






" A mídia ocultou a responsabilidade da mesma, que faz do sensacionalismo crescente seu meio de aumentar a audiência e faturar mais pelos minutos de comercial. "

(José Arbex Jr.)




" A mídia negligencia informações de que Wellington passou por vexames e humilhações por conta de sua introversão e bizarrices, quando aluno da escola. Não aborda a falta de acompanhamento e tratamento adequados de um paciente diagnosticado com esquizofrenia há muito tempo, o que agravou a evolução de sua enfermidade.

Não reavalia a divulgação maciça, cotidiana e acrítica dos mais variados atos e formas de violência praticados por grandes potências e contumazes delinquentes, reproduzidos ( legitimados-AC) em filmes de sucesso e em jogos eletrônicos.

Não alerta para a atmosfera envenenada de individualismo e competição em que a infância e juventude vêm sendo forjadas."

( Duarte Pereira)



" De todas as tragédias que superpõem no Realengo, talvez a de menor gravidade- ainda que mais visível e dolorosa- seja a do assassinato em si. Sua importância fica pálida em face do terror em que o Estado brasileiro trata a população mais pobre em geral, diante da total subserviência da mídia patronal às ordens do patrão em Washington, da impotência repetidamente demonstrada pelas pessoas, toda vez que sua dignidade é atacada e seu imaginário manipulado.


Veremos o dia em que Homer Simpson dará uma lição nos office boy-nners da vida".

(José Arbex Jr.)

O Anjo Exterminador- parte 100





"Violência: a Culpa é do Islã"


"Cobertura da tragédia do Realengo oculta a responsabilidade do Estado, a da própria mídia patronal e tenta transformar Wellington de Oliveira na versão tupiniquim de Osama Bin Laden.


Seria risível, não fosse a dor que se abateu no dia 7 de abril sobre a Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro do Realengo (Rio de Janeiro): tudo foi culpa do Islã, nas palavras do brilhante âncora da Rede Globo William Bonner, em 11 de abril.

Adotando sua careta mais dramática (pelo menos, é o que o olhar arregalado e esgares de espanto parecem pretender), Bonner esclarece, finalmente, o que levou Wellington de Oliveira, 23 anos, a fuzilar crianças inocentes para, em seguida, liquidar a própria vida: foram as suas ligações com um “grupo terrorista” supostamente islâmico. Claro.

Provavelmente Wellington era membro da rede de terroristas que, segundo a “revista” Veja (edição 2.211, de 6 de abril) mantém uma vasta base no Brasil. E a escola do Realengo foi o alvo, talvez, por ser um centro de operação dos serviços secretos dos Estados Unidos e de Israel. Ora... Se houvesse um prêmio para débeis mentais, Bonner seria imbatível.

Mas é equivocado tratar o “caso Bonner” como de debilidade mental. Fosse isso, o correto seria defender o seu direito à supervisão clínica adequada, a mesma negada a Wellington, diagnosticado como esquizofrênico e filho de uma portadora de distúrbios psiquiátricos. A referência da Globo ao Islã – assim como a “reportagem” da Veja - está em perfeita consonância com uma “campanha” feita pela embaixada dos Estados Unidos no Brasil, junto aos principais órgãos de imprensa do país, como revelam vazamentos recentes do WikiLeaks, reproduzidos pelos blogs dos jornalistas Luís Nassif, Paulo Henrique Amorim e muitos outros.

Um telegrama de 2009, enviado a Washington pela embaixada estadunidense, critica a abstenção do Brasil em votação feita no âmbito do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em 26 de março de 2009, sobre o tema “difamação de religiões”.

Tio Sam defende o direito de difamar religiões, em nome da "liberdade de expressão". Segundo um certo Kubiske ( que assina o telegrama da embaixada) explica:

" Grandes veículos da mídia, como o Estado de São Paulo e "O Globo", além da Revista Veja, podem dedicar-se a informar sobre os riscos que podem advir de punir-se quem difame religiões, sobretudo entre a elite do país. Essa embaixada tem obtido significativo sucesso em implantar entrevistas encomendadas a jornalistas, com altos funcionários do governo dos EUA e intelectuais respeitados seriam excelente oportunidade para pautar a questão para a imprensa brasileira. Outra vez, especialistas e funcionários de outros governos e países que apoiem nossa posição a favor de não se punir quem difame religiões garantiriam importante ímpeto aos nossos esforços."

Não poderia estar mais claro. William é um office boy-nner da embaixada, e a Veja o seu porta vez semanal. "

(por José Arbex Jr.)

segunda-feira, 23 de maio de 2011







Sem internet em casa e o pen-drive estragado, aproveito o momento na lan para tecer algumas breves estrelas, ou comentários a respeito da turnê de Paul McCartney em Quebec, França, cujo repertório foi mais ou menos semelhante ao executado por aqui, em Terra Brazilis:

Jet- Das melhores músicas de seu clássico disco “Band on the Run”.

A versão ao vivo reforça um peso necessário: 4 estrelas.


Ps- ( Bom lembrar que saiu nova versão de " Band on the Run" em cd, em que a sonorização nos traz um novo disco quando comparado à fraca remasterização anterior).


2- Drive my Car - Música inovadora a abertura do grande “Rubber Soul” ( 1965), dos Beatles: 4 estrelas

3- Only Mama Knows- Grande faixa do cd solo "Memory Almost Full", em versão- pasmem!- superior à original.

4--All my loving- 5 estrelas

5-4-Flaming Pie - Confesso não ter ouvido, até por não ser das que mais gosto do (ótimo) cd homônimo de Paul.

6-Got to Get to into my life - Como bem disse um amigo, os metais ao vivo ajudariam essa música, estilo poesia de Walt Whitman em canto à liberdade lírica- lançada no grande “Revolver”, dos Beatles (1966).

Permanece a grande pegada e a capacidade de cantá-la aos quase 70 de idade: 5 estrelas

7-Let me Roll it- Cansei de ouvi-la ao vivo.

Aqui ele acrescenta uma variante rockeira, e se dá bem: 4 estrelas


8- C Moon- Esse reggae- de piano e metal bem apanhados- soa bacana, despretensioso: 3 estrelas e meia.

9- My love- Mais do mesmo: 3 estrelas.

10- Let em In - Grande música, em versão superior à original de 76.

Em Quebec, soa mais sóbria que a interpretada na Rússia. Ambas genias, em todo caso: 5 estrelas.

11- Fine Line- Do cd "Chaos and Creation", um de seus melhores, atinge o feito de também superar a versão original.

Piano "seco, tenso" executado por Paul, a evocar a chamada música modal: 5 estrelas.

12- The Long and Windind road- É uma dessas que dispensam rótulos, não importa se gravada- ou não- em disco de rock/pop.

Feita em qualquer época, a grandeza permanece: 5 estrelas.

13- Dance Tonight- Embora longe de ser a melhor faixa do cd "Memory Almost Full", é baita abertura para o mesmo.

O vigor permanece: 4 estrelas.

14- Blackbird- Paul, certa feita, disse que gostava de impressionar madames, ao tentar improvisar algo de Bach ao violão.

Simplificando a coisa, daria em “Blackbird”. De suas melhores colagens: letra e música.

De aparência singela. A rigor, precisa, econômica e contundente como poucas: 5 estrelas


15- Calico Skies- O acordeon funciona bem: 5 estrelas

16- I ´ll follow the sun- Mais um dos feitos de superar a original, lançada no disco “Beatles for Sale”.

Com mais pegada e cadenciada: 5 estrelas.

17- Michelle- O artista erra a letra ao final e conserta belamente.

Os vocais do “Rubber Soul” retornam. Coro: 5 estrelas.


18-Mrs. Vanderbilt- Talvez a melhor faixa do aclamado “Band on the Run” volta em versão cadenciada.

Parece ser a melhor música de Paul Simon, da fase "World Music". Mas quem a compôs e gravou foi o ex-Beatle mesmo: 5 estrelas.

19- Eleanor Rigby- Dispensa comentários e até orquestra original: 5 estrelas.

20- Something- Começa por ser tocada ao som de um pequeno Ukelê, de forma despojada. Repentinamente, o solo de guitarra do velho Harrison dá as caras e a coisa ganha organicidade.

Excelente homenagem: 5 estrelas

21- A Day in the life/ Give peace a chance- Formidável versão da música de fecho apoteótico, presente no disco Srg Pepper´s ( 1967). Alucinante a parte composta por Paul, com baixo e piano "jazziados": 5 estrelas.

Já a emenda final, com o hino de paz de Lennon não emplaca. Até porque “Give peace” é musicalmente fraca perto da anterior: 2 estrelas.

23- Too Many People- Faixa de abertura do excelente disco solo “Ram”, de 1972.

Ao vivo, quase se torna um jazz, com o artista a segurar altos vocais: 5 estrelas.

24- Penny Lane - Nunca considerei que essa música de câmara funcionasse bem ao vivo.

Para a gravação original, Paul soprou o solo memorável de trompete para o músico da "Filarmônica de Londres".

Ao vivo e na falta de metais, cabe talvez: 3 estrelas e meia.

25- Band on the Run- Versão mais pesada que a original, embora a música não se defina por isso.

Feita de belas pontes/variações: 4 estrelas e meia.

26- Birthday- Grande vocal de Paul e trabalho lúdico de banda: 5 estrelas.

27- Back in the USSR- A atmofera um pouco mais pesada a prosseguir com 5 estrelas.

28- I´ve got a feeling- O coroamento do tipo de clima instalado no show a partir de “Band on the Run”.

Essa versão consegue o milagre de se equiparar à original, presente em “Let it Be”, disco lançado em 1970 em tom de despedida dos Beatles.

Ao vivo, um pouco mais discreta, mas sem perder o peso, o feeling: 5 estrelas.

29- Live and Let Die - Mais do mesmo dispensável, sobretudo com aqueles fogos...

30- Let it be- O grande gospel de Paul emplacou melhor na Rússia do que na França. Seu intimismo, contudo, parece não combinar com esse tipo de show.

De qualquer forma: 3 estrelas e meia.

31- Hey Jude: A herança da música negra, novamente, na fabulosa canção que Kiko Zambianqui tentou, mas não conseguiu estragar.

Os franceses em comunhão com um grande hino, de maneira que nunca vi em shows de rock, ou do próprio McCartney: 5 estrelas.

32- Lady Madonna - Sóbria, com o teclado a fazer vezes de sopro de jazz.

Sofisticada, contém ainda uma das melhores letras do músico: 4 estrelas e meia.

33- Get Back- Talvez por medo de desgastes, via inócuas versões ao vivo, não encarei.

34- I saw her standind there- A explosão de Paul, que abre o primeiro disco dos Beatles ( "Please Please me") mantém a força, magia e certa sobriedade: 5 estrelas.

35- Yesterday- Não ouvi a bela sonorização dos arranjo de cordas nessa versão.

Pode ser problema de captação de som para transmissões ao vivo, não sei. Em todo caso, parece ser a mesma: 4 estrelas.

36- Srg. Pepper- parte 2- e The End: Após o tom mais baixo de “Yesterday”, a despedida engata muio bem, para depois retornar a um dos pontos altos do disco " Abbey Road":

O melhor da música modal-de pegada-, junto ao melhor da tonal-: melódica e harmônica. The End.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Puristas da Língua, por Marcos Bagno






Polêmica ou ignorância?

Discussão Sobre Livro didático Só Revela Ignorância da Grande Imprensa


"Para surpresa de ninguém, a coisa se repetiu. A grande imprensa brasileira mais uma vez exibiu sua ampla e larga ignorância a respeito do que se faz hoje no mundo acadêmico e no universo da educação no campo do ensino de língua.

Jornalistas desinformados abrem um livro didático, leem metade de meia página e saem falando coisas que depõem sempre muito mais contra eles mesmos do que eles mesmos pensam (se é que pensam nisso, prepotentemente convencidos que são, quase todos, de que detêm o absoluto poder da informação).

Polêmica? Por que polêmica, meus senhores e minhas senhoras? Já faz mais de quinze anos que os livros didáticos de língua portuguesa disponíveis no mercado e avaliados e aprovados pelo Ministério da Educação abordam o tema da variação linguística e do seu tratamento em sala de aula. Não é coisa de petista, fiquem tranquilas senhoras comentaristas políticas da televisão brasileira e seus colegas explanadores do óbvio.

Já no governo FHC, sob a gestão do ministro Paulo Renato, os livros didáticos de português avaliados pelo MEC começavam a abordar os fenômenos da variação linguística, o caráter inevitavelmente heterogêneo de qualquer língua viva falada no mundo, a mudança irreprimível que transformou, tem transformado, transforma e transformará qualquer idioma usado por uma comunidade humana.

Somente com uma abordagem assim as alunas e os alunos provenientes das chamadas “classes populares” poderão se reconhecer no material didático e não se sentir alvo de zombaria e preconceito. E, é claro, com a chegada ao magistério de docentes provenientes cada vez mais dessas mesmas “classes populares”, esses mesmos profissionais entenderão que seu modo de falar, e o de seus aprendizes, não é feio, nem errado, nem tosco, é apenas uma língua diferente daquela – devidamente fossilizada e conservada em formol – que a tradição normativa tenta preservar a ferro e fogo, principalmente nos últimos tempos, com a chegada aos novos meios de comunicação de pseudoespecialistas que, amparados em tecnologias inovadoras, tentam vender um peixe gramatiqueiro para lá de podre.

Enquanto não se reconhecer a especificidade do português brasileiro dentro do conjunto de línguas derivadas do português quinhentista transplantados para as colônias, enquanto não se reconhecer que o português brasileiro é uma língua em si, com gramática própria, diferente da do português europeu, teremos de conviver com essas situações no mínimo patéticas.

A principal característica dos discursos marcadamente ideologizados (sejam eles da direita ou da esquerda) é a impossibilidade de ver as coisas em perspectiva contínua, em redes complexas de elementos que se cruzam e entrecruzam, em ciclos constantes.

Nesses discursos só existe o preto e o branco, o masculino e o feminino, o mocinho e o bandido, o certo e o errado e por aí vai.



Nenhum linguista sério, brasileiro ou estrangeiro, jamais disse ou escreveu que os estudantes usuários de variedades linguísticas mais distantes das normas urbanas de prestígio deveriam permanecer ali, fechados em sua comunidade, em sua cultura e em sua língua. O que esses profissionais vêm tentando fazer as pessoas entenderem é que defender uma coisa não significa automaticamente combater a outra. Defender o respeito à variedade linguística dos estudantes não significa que não cabe à escola introduzi-los ao mundo da cultura letrada e aos discursos que ela aciona. Cabe à escola ensinar aos alunos o que eles não sabem! Parece óbvio, mas é preciso repetir isso a todo momento.



Não é preciso ensinar nenhum brasileiro a dizer “isso é para mim tomar?”, porque essa regra gramatical (sim, caros leigos, é uma regra gramatical) já faz parte da língua materna de 99% dos nossos compatriotas. O que é preciso ensinar é a forma “isso é para eu tomar?”, porque ela não faz parte da gramática da maioria dos falantes de português brasileiro, mas por ainda servir de arame farpado entre os que falam “certo” e os que falam “errado”, é dever da escola apresentar essa outra regra aos alunos, de modo que eles – se julgarem pertinente, adequado e necessário – possam vir a usá-la TAMBÉM. O problema da ideologia purista é esse também. Seus defensores não conseguem admitir que tanto faz dizer assisti o filme quanto assiti ao filme, que a palavra óculos pode ser usada tanto no singular (o óculos, como dizem 101% dos brasileiros) quanto no plural (os óculos, como dizem dois ou três gatos pingados).



O mais divertido (para mim, pelo menos, talvez por um pouco de masoquismo) é ver os mesmos defensores da suposta “língua certa”, no exato momento em que defendem, empregar regras linguísticas que a tradição normativa que eles acham que defendem rejeitaria imediatamente. Pois ontem, vendo o Jornal das Dez, da GloboNews, ouvi da boca do sr. Carlos Monforte essa deliciosa pergunta: “Como é que fica então as concordâncias?”. Ora, sr. Monforte, eu lhe devolvo a pergunta: “E as concordâncias, como é que ficam então?"


Ps- Marcos Bagno é escritor, linguista e professor da Universidade de Brasília

Um Pouco de genialidade







Oscarito e Grande Otelo, Sandrine Bonnaire ( na obra-prima de Pialat "Aos Nossos Amores"), Katharine Kepburn e Cary Grant ( em Holiday, OP de George Cukor).

Diálogo entre textos- Questões da Língua, a Mamãe de Pombal








"Algumas vezes nesse espaço foi falado sobre Oswald de Andrade, Mário, Carlos Drummond, Adoniran Barbosa, Noel Rosa,... Com o intuito de procurar entender o que seria uma tal “língua brasileira”.

O primeiro movimento de busca de uma literatura mais autônoma no Brasil foi o romantismo. Mas, na maioria das vezes, celebrava-se nossa exuberante natureza e nenhuma pesquisa viável sobre cultura propriamente dita chegava a ser feita, ou bem era ignorada.

Em José de Alencar, a natureza brasileira representa o paraíso. Mas tal Éden só seria completo em casamento com a cultura do colonizador.

Lima Barreto, pré-modernista, consumou uma linguagem mais despojada, a ponto de ser tratado pelos monarcas da língua como escritor de incorrigível desleixo. Além do mais, negro.
Hoje, percebe-se que está entre nossos melhores.

Machado de Assis, igualmente mulato, “se escondia” atrás de um narrador de certa casta brasileira.

Sua narrativa era a voz de um protagonista casmurro, volúvel, incapaz de lidar com certas situações como, por exemplo, aceitar viver, sem dramas de consciência, com uma mulher que chegara a estabelecer amizades com homens(na obra Don Casmurro).

Muitas ainda confundem o narrador com o escritor, como a crítica Pauline Kael fez em um texto sobre Rastros de Ódio, chamando John Ford, diretor da obra, de racista, pelo fato de seu protagonista sê-lo em demasia.
Não soube separar o cineasta do personagem doentemente obsessivo.

Com o Modernismo propriamente dito, milhares de arestas deixadas por românticos, parnasianos e etc., seriam ironizadas e limadas.
Sem o esforço, talvez não houvesse Graciliano Ramos, Carlos Drummond, Murilo Mendes, Clarice, Guimarães Rosa, entre outros e outras.

Contudo, com o empenho grandioso de autonomia e pertinência de um linguajar, não conseguiríamos escapar ainda de Marquês de Pombal em muitas esferas, desde que o mesmo impôs uma língua oficial, unificada e lusitana para o Brasil.

Simultaneamente, o mesmo marquês que dinamitava com a educação brasileira, ao empregar professores na base do “espontaneísmo”, em que o critério era a falta de critérios.

Um tanto por conta isso, nossas petições são mais demoradas, nossos exercícios jurídicos morosos, etc.

Somos um país de burocracias infindáveis e tudo isso, claro, passa pela língua, já que a mesma significa poder.
E, no caso formal-formalista, marca de “status”, reconhecimento social.

Brasileiros sempre buscaram marcar sua distinção pela língua, em que profissões ditas “respeitáveis” exigiam uma mimese do léxico mofoso pombalista.


Quem falasse mais para “brasileiro do que para português” (Noel Rosa) sinalizaria seu locus de “cozinha da nação”.

Nos anos 50 e 60, com a brecha de ditaduras anteriores, como a de Vargas, o país experimentou um imenso crescimento cultural: música, teatro, arquitetura, cinema, em que muitas das lições modernistas passaram, enfim, a serem incorporadas por artistas e outra parte da população. Mesmo que antes disso, músicos como Noel Rosa ou Lamartine Babo, em plena ditadura anterior, exploravam a autonomia e abertura nos modos de se expressar.

Em 1964, houve -pra variar um pouco- outro golpe militar e, posteriormente, um terrorismo mais acirrado, com a instalação do AI-5 em 1968.
Tornaríamos a regredir para o oficialesco oligárquico, em nome da “integração e da segurança nacional”.

Com Médici no poder, a educação era redinamitada, em busca de um modelo industrialista de fragmentação de saberes mecanizados, entre outras “intempéries inócuas”, como diria algum dicionário bestialógico.

Com o advento das Diretas (nem tão diretas assim, por obra e graça de nosso colegiado eleitoral), assumiria o oligarca José Sarney como presidente do país, com seu linguajar bacharelesco. O mesmo-mesmíssimo político do outrora partido único da ditadura: a Arena".

(Alessandro)




O mais, deixo por conta do linguista e escritor Marcos Bagno:



“Quando os revolucionários franceses demoliram a Bastilha em 14 de Julho de 1789, decerto ficaram tão emocionados com o feito que se esqueceram de demolir outro prédio, o da Academia Francesa. Que pena!

Tanto quanto a Bastilha, a Academia representa o que há de mais arcaico e feudal. Basta lembrar que foi fundada em 1935 por ninguém menos que o cardeal Richelieu (para quem leu ou assistiu Dartagnan...), todo poderoso chanceler de Luís XIII, em pleno apogeu do regime monárquico absolutista.

Se a coisa ficasse por lá, entre os pernósticos franceses, não teria problema. Mas os espíritos colonizados não iam suportar abrir mão de mais uma macaqueação francófila. E toca a fundar a Academia Brasileira de Letras em 1897, com os mesmos 40 membros da francesa e num prédio chamado Petit Trianon, cópia em escala menor da outra.

Criada já na República, a ABL é um belo símbolo do caráter oligárquico, elitista e aristocrático de nosso regime republicano, inaugurado por marechais.

Eu não teria nada contra uma Academia Brasileira de Letras se ela prestasse para alguma coisa.

Mas como querer cobrar qualquer presença significativa de uma entidade que tem entre suas “imortais” figuras desprezíveis como José Sarney, senhor feudal do Maranhão e do Amapá, e Marco Maciel que (graças a Zeus!) não foi reeleito pela ducentésima vez para cumprir seu destino reptiliano de “se há governo, sou a favor”...

Adorei quando o bruxo Paulo Coelho foi eleito para a ABL, pois assim o escracho se institucionalizou de vez. No entanto, lamentei quando as mulheres foram admitidas nesse antro de vaidade essencialmente masculina (aliás, vaidade masculina é redundância: comparada à dos homens, a vaidade feminina é uma bênção). E, claro, essa admissão se deu porque a matriz francesa abriu as portas às mulheres.

Quando vejo a produção, por exemplo, da Real Academia Espanhola, fico roxo de inveja. O dicionário da ERA é uma beleza, abrange todas as variedades das línguas faladas mundo afora...
Recentemente, em conjunto com todas as academias de língua espanhola do mundo, foi publicada uma monumental gramática da língua, em dois volumes, com mais de 3.000 páginas, contemplando e dando aval a todas as formas de falar a língua, já devidamente implantadas nos diferentes países.

O problema do português é que ele é uma língua polarizada: Portugal e Brasil. E como tradicionalmente somos colonizados por portugueses, apesar de termos um território dezenas de vezes mais amplo, uma população dez vezes maior..., ainda temos de acreditar nas bobagens que as gramáticas normativas tentam nos ensinar, desconsiderando por completo as características próprias do português brasileiro. E toca a usar mesóclise e outras igualmente ridículas... ”! Ay, qué invidia!”


Ps. O texto de Marcos não fala, mas Roberto Marinho chegou a ser bacharel na Academia.
Ou seja, chegou a ser “imortal” até morrer.
Drummond, por sua vez, ao ser convidado, preferiu recusar o penduricalho.



"Nóis e a língua"



Como todo mundo sabe ou suspeita, nós, jornalistas, temos a língua pátria como ponto de honra.


Não que sejamos mestres nela. Até onde vai minha experiência não somos lá grandes coisas nesse particular.

Vivemos pendurados no prof. Pasquale ou outro. Ele ensina uma coisa e na semana seguinte a gente vai lá e fica encaveirando a ignorância alheia – que é tão nossa.


Bem, na sexta passada a bancada do Jornal Globonews ficou em pé de guerra por um livro, licenciado ou comprado pelo MEC, “ensinar errado”.


Foi uma espécie de êxtase, porque a hipótese do erro alheio, sobretudo de um erro de quem deveria ensinar – a professora que escreve o livro, o Ministério da Educação – revelava um pouco a superioridade dos jornalistas. Somos os que conhecem a norma culta.


É óbvio que ninguém tem obrigação de conhecer linguística ou a questão das particularidades.


Mas é um vício dos jornalistas, nosso, a precipitação. Me ocorreu às vezes. Não quero falar de ninguém. Mas é algo que a TV potencializa, porque o jornalista é revestido de certa autoridade.


Então ele não diz: eu quero entender tal coisa. Não. Ele imagina que sabe e o mundo inteiro é composto por idiotas.
Quase sempre não é bem assim."

(Inácio Aráujo)


Fotos de "progressistas": Marquês de Pombal e sua língua materna oficial, Médici e Academia Brasileira de Tretas-tetas (mamando em Portugal)

terça-feira, 17 de maio de 2011

Notas para um um Cinema de Questionamentos






M. Night Shyamalan, até certo tempo, não significaria muita coisa para esse espaço. Aliás, mal assistia a seus filmes, como ocorre com a leitura de um Paulo Coelho, guardadas as devidas e enormes proporções, inclusive de vendas.

Com "Sinais", as coisas mudariam de figura.

A mídia, até então, tratava o diretor de herança indiana como uma espécie de novo Spielberg. Ao assistir a "Sinais", os alienígenas da história mal compareciam. Tratava-se de uma ameaça real, ou de uma subjetividade que iria ganhando um cunho a um tempo coletivo e particularizado? Em todo caso, um aspecto que se repetiria por várias vezes em sua obra.

Nessa, um ET não é glorificado, idolatrado, como um belo “de fora” a nos salvar. Tal ser, mitificado em outros cineastas (como tentativa também de salvação das bilherias de cinema na era das grandes produções infanto-juvenis) comparecerá aqui em vestígios de reflexos fragmentados, constituindo imagens baças.

Nos confrontamos, então, com um estranhamento a se situar entre certo horror, tênue piedade, ou sei lá o quê mais- o que dependerá da argúcia de cada um. É nesse estado de nula representatividade aparente, que silêncios e dúvidas se infiltram.

No caso, o dito ET que nos aparece como mal refletido “em algo” não seria, ele mesmo, o reflexo de um estranho em nós? Fato é que o poder de nosso olhar, com sua onipotência tão condecorada em habituais fábulas passa, no mínimo, a ser relativizado.

De onde transpassará um novo questionamento: os únicos a poder parir uma fábula minimamente viável hoje - um pouco como no cinema iraniano de Abbas Kiarostami-, seríamos nós, espectadores, como uma espécie de extensão de Mel Gibson, o protagonista impotente da obra, ao contrário dos papéis que o consagraram?


Alguns dirão que nada disso importa, que não seria essa uma “crítica séria”, se é que se trata mesmo de algo com objetivo tão “ambicioso e quase inalcançável”. Em todo caso, prossigamos.

O que foi dito já não seria, de alguma maneira, algumas das constatações a serem feitas em um sucesso como "O Sexto Sentido", onde, a rigor, importaria menos a revelação-reviravolta do roteiro, do que a constatação de que o olhar do protagonista e, por extensão, o nosso em uma fábula é paulatinamente posto em xeque: Bruce Willis, psicólogo: homem, portanto, do suposto saber, com seu olhar conjugado ao do espectador, pensa ver os seres. Entre eles, uma criança que, por certa nudez no olhar é quem poderá enxergar um pouco melhor.

Shyamalan parece, em todo caso, confrontar o desgaste da visão contemporânea, em meio ao excesso de imagens com que nos defrontamos de forma poluente.


Em "A Vila", por exemplo, já com maior independência após alguns sucessos, decide por "chutar de vez o balde" e, com isso, perderá adeptos. Entre os mesmos, aqueles que, equivocadamente, o viam como um novo Spielberg.

Na obra em pauta, o insólito e deveras contemplativo é radicalizado, para a frustração dos que preferem obras mastigadas e bem catalogadas. De roteiro minguado, as lacunas se impõem ao filme como meditação de imagens.

Há algo na relação dos personagens com os cenários, a intercalar espaços interiores e exteriores em trajeto telúrico a aéreo dos seres, o que nos permitirá confrontar os gêneros da fábula.

"A Vila" desmascara o artifício do tipo de terror "proposto", com o suspense provindo unicamente do inusitado de imagens silenciosas. Contudo, não se trata, em absoluto, de negar o recurso fabulístico, uma vez que uma cega no périplo - a criança dos adultos-, será a única a poder levar alguma possibilidade de cura para uma aldeia desgastada, justamente pelo fato de "não ver".

Se olhos cansados ou cínicos carecem de reinjeção, por outro lado, nada na obra opera como retórica. O que fica são mistérios, lacunas, silêncios.


Em "Fim dos Tempos", o clima de apocalipse do filme "Sinais" é retomado. Há dificuldade de comunicação e o diretor, por uma vez mais, anulará os álibis da trama, com os trajetos se afirmando como provenientes de seu detido trabalho de direção e experimentação de sons e imagens, independente de ser essa, a princípio, uma obra de gênero.

O que se dá a ver é certo clima de filme B, tempos mortos e um sentido raro dos ambientes e da relação dos personagens com seu entorno, normalmente ao ar livre. A meditação construída num espaço/tempo, que caberá somente ao espectador recompor, se e quando possível.

A suposta redenção, com o encontro do casal focado à distância, sem os habituais campo/contracampo ou sequer planos americanos reafirmam o clima de não invasão do mistério dos indivíduos e de suas relações. Ou seja, se a obra parece reduzir o clima de horror aparente, não será a mesma a entregar uma solução.

Imagens, ao final, comparecem como estáticas, em estado de congelamento a se somar à anterior, de redenção. Ambas breves no interior dos planos, dentro de uma lógica de estranhamento no emprego da montagem.


Já "A Dama na Água", trabalho anterior do indiano, chegou a ser criticado como filme tolo. Afinal, o que pensar de uma história baseada em um peixe-fêmea ( não o "Peixe Grande", de Tim Burton, mas cabe uma analogia), a mobilizar uma narrativa? Na verdade, um prédio- estilo condomínio fechado- filmado e fotografado em luz baça.

Fechado, entrópico quanto a aldeia de "A Vila", ou a família de "Sinais", em seu alocamento de frustrações e sentimentos de perda. Para completar, um cínico crítico de cinema entre os moradores, atento aos clichês que pensa dominar.

Ao valorizar o processo das palavras, da dita oralidade, a obra restitui aos personagens- com custo- um estatuto, enfim, materializável, filmável pela interseção entre os vários apartamentos, com as palavras a operar como reconstrução de um sentido de crença, em liga com a imagem em mundo gasto.


É um pouco assim que Shyamalan trabalha. Revira clichês, retrabalha o estatuto das imagens, seja instaurando dúvidas em um olhar pretensamente onipotente, seja a resgatar a substancialidade das palavras- do Verbo- em pregnância com as possibilidades de visão.

Por haver seguido um coerente percurso de desconstrução do cinema habitual de roteiro - seja de atuais certezas industriais, como das descrenças intelectualistas-instaurou um sentido de desaprendizagem e aprendizagem da representação do tempo para o cinema ocidental ou norte-americano, ao conduzir o foco para o interior de planos silenciosos. Ou seja, para ambientes em construções prolongadas de espaço, como uma espécie de Kiarostami do cinema ocidental.


Nada disso negaria o aspecto de fábulo presente em seu cinema. Dessa maneira, o preço do sucesso aumenta. E a arte, no caso, tende a ganhar.


Ps- Na foto, a natureza viva em "Fim dos Tempos"

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Minnelli e o drama musical








Reassisti "Some Came Running" ( Deus sabe quanto amei) e talvez seja meu filme favorito, e um dos três melhores do cinema.

Seja pela maneira delicada de retratar modos de vida, o que não excluirá certa crueldade. Seja pela filmagem em que, como no cinema de Alfred Hitchcock, cenários em discretas mobilizações existem em função de flexíveis e amplos movimentos de câmera.

Um grande melodrama clássico torna-se moderno. E um dos motivos se encontraria na extrema opacidade do rosto de Frank Sinatra- quem é esse homem, afinal?. Ou bem, na ausência de julgamentos definitivos, apesar da obra não excluir a aguda observação sobre a estagnação encalacrada de um mundo.

"Some Came Running" tem a seu favor um trunfo, que é saber intercambiar o tom amargo com a generosidade do olhar.

Como também poderá, de um momento a outro, recorrer à licença poética, quando mobiliza com rara delicadeza a iluminação e o enquadramento, de maneira a cortar o elo com a narratividade "convencional"- a que acompanharia a continuidade de um enredo-, no momento da suposta entrega da professora a Sinatra, em contexto visual de filme de câmara (no sentido em que se fala em orquestra de câmara, econômica).


Licença poética na famosa cena final, em que a cidade parecerá impassível frente aos dramas que se desenrolam à sua frente, sob forma de suspense.

Aqui o dilaceramento dos seres apontará para o dilaceramento de toda uma cidade, com seus signos e valores. O espetáculo formado é reflexivo, em que uma tragédia é conduzida com cores e estilo de um filmusical- outro gênero em que se especializou o diretor.

A montagem da festa na cidade equivale à montagem dos bastidores de um cinema ilusionista: ficção em último grau colada ao realismo, em que uma camada se somará a outra, tornando o momento clímax uma tragédia de tônus sacro.

A moça vista como prostituta pela cidade (Shirley Maclaine) talvez seja a única "santa" nessa história, um tanto por não jogar- ou saber jogar- como os demais? Afinal, o jogo na obra comparece tanto nos aspectos de aparência do poder social, quanto no universo dos inconformados decadentistas em seus jogos de cartas.

Contudo, não se trata de simples julgamento. Como em toda ( ou quase) obra do diretor, a câmera foca as laterais dos enquadramentos, passa ao centro e vice-versa: marginais e burgueses, não somente separados, como divididos entre si- em seus próprios grupos.

Mas é na cena clímax que todos comparecem como parte integrante de um mesmo curto-circuito na montagem- a que suspenderá o tempo lógico da encenação. No caso, um labirinto é composto, cuja estilização de espetáculo revelará, enfim, o perdido: ninguém se acha, as "ordens" são cegas. Todos se encontram, de alguma maneira, deslocados, mas quem sabe agora também possuídos por alguma visão.

Ao menos, alguns. Dean Martin abre mão de seu apetrecho- um chapéu- no plano final, em que a moldura de um sacro quadro se faz evanescente até a chegada do "clássico letreiro": the end.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Livre nota sobre a sutileza em Janela Indiscreta- parte 1




O cinema passaria com o tempo a tematizar, com mais força, o lugar do homem no mundo.

Levada da Breca, por exemplo (anos 30/40), de Howard Hawks: enquanto obra de arte tudo que já foi falado funciona menos como metáfora do que como ressonância do corpo. Seja nos objetos: o megadinossauro de brinquedo, símile cultural de um masculino partido. Seja no animal -leopardo: ressonância selvagem daquilo que, de tão recalcado, precisaria de alguma maneira ser recuperado.

É um tanto do sentido da busca dos personagens. Ou melhor, da busca "sem sentido", das pulsões. De onde vem deriva o tom de caos, de absurdo aparente.

Corpos que se aproximam, que se distanciam, que se chocam, mas que também não conseguem se separar.

As falas são muitas, mas parecem não fazer sentido: deslizam como significantes desses corpos neuróticos, histéricos (rachados ao meio), que se negam, se atropelam e se absorvem.

Em Janela Indiscreta (foto), de Alfred Hitchcock, o cinema norte-americano lidou mais uma vez com a questão do lugar do corpo do homem no mundo. Pouco de trama policial. Muito de medo e ânsia de comprometimento.

O jornalista de perna quebrada (James Stewart) só consegue ver o que se passa do outro lado da vizinhança. A rigor, contempla exacerbadamente. Parece que só dá conta de viver nesse filme, do outro lado da tela.

Já Grace Kelly quer o casamento a qualquer custo. Mas é vista por ele como mera burguesa "de plastic".

O desenrolar se dá quando ela capta (intuição feminina) que a melhor estratégia é ocupar seu corpo de dondoca no filme do amado. Ou seja, passar para o lado de lá, onde o desejo do homem se encontraria sublimado e, assim, dar uma chacoalhada nessas imagens fixas.

A gana de Grace ao ir em busca das provas do suposto assassinato será por ânsia de conquista, claro. Por instantes definitivos, ela se tornará parte da tela de cinema do fotógrafo, ao trangredir as linhas que separariam a realidade (o "de cá") do imaginário (o "de lá").

E o faz por meio de seu corpo de gata felina: passando por caminhos árduos, escalando paredes, a dançar para Stewart ao som de uma bela trilha em trajeto sinuoso, em que devassará o quadro/espaço do suposto criminoso ao remexer em segredos.

Naturalmente, que o espaço de segredos do criminoso é também o de Stewart- seus segredos e fantasias de projeção-, uma vez que a dita janela é uma de suas moradias de notívago obsessivo. E aqui a obra entrará em combustão.

Ao ver a moça diante de uma possível queda- do alto de uma janela-, o homem parecerá compreender, ao menos instintivamente, todo um jogo criado por si mesmo (jogo amoroso, existencial).

A próxima queda, no momento em que Stewart se identifica (ao menos parcialmente) com o vilão, será a de si. Entre o imaginário e a realidade- quase só víamos o que ele via todo o tempo como homem fotógrafo na projeção-, a câmera mudará de foco: queda concreta, embora sem grandes lesões.

Se Stewart entrara com a fotografia obsessiva e suas imagens congeladas em mente, Grace entra (penetra) como cinema- ao lado de Hitchcock: imagem dinâmica.

Seu corpo de modelo/manequim se distende, se reconfigura, ao passo que o do amado passa para uma segunda perna quebrada: dormindo, talvez desinteressado desse mundo outro.

Pode ser que nesse novo sono/sonho o fotógrafo esteja em paz, na mesma medida em que Grace, sem uma única perna quebrada, ou seja, livre a seu lado ensaie os próximos passos do desejo. Não sem antes pegar aquele tipo de revista que ele tanto desprezara, como mais um de seus movimentos no filme.

Se a queda doeu ou não, o que dizer do tapinha? Um tapinha não dói... E quanto ao tapa de luva de pelica desferido pela obra em pauta?

Anjos exterminadores: em sala- Continum





“ Finalmente, a cultura da força empreende-se regularmente em academias de ginástica, onde jovens cultuam os músculos, não apenas para se preparar para os combates cotidianos da vida real, mas para forjar também uma simulação de força na ausência de potência, isto é, de reconhecimento simbólico.

Cabe dizer que a provocação e a violência entre jovens e crianças é prática antiga. O que é novo é a ausência de uma autoridade que possa operar como mediadora no combate entre estes e aqueles... Não obstante tudo isso, a juventude é ainda glorificada como a representação do que seria o melhor dos mundos possíveis, sendo, teoricamente, a condensação simbólica de todas as potencialidades existentes.

Contudo, se fazemos isso é porque não apenas queremos cultivar a aparência juvenil (de capas de revista- AC), por meio de cirurgias plásticas e da medicina estética, mas também porque o código de experimentação que caracterizou a adolescência de outrora se disseminou para adultos e a chamada terceira idade.

Seria assim o imperativo de ser (ou do aparecer- AC) custe o que custar, o que se impõe a nós como exigência ética na contemporaneidade, consubstanciado nas linhas de fuga do desejo e delineando a figura da adolescência infinita ”.
(Joel Birman)



Nesse espaço blogário chegamos a falar em pais e filhos como dotados dos mesmos desejos, o que dificultaria um fermento educativo e cultural, mais alheio aos processos de massificação e banalização em voga.

O filho costuma ser tão consumista quanto o pai e vice-versa. Ou tão fetichista quanto.

O pai quer bancar o garotão. Logo, vai "no estilo do filho": aprende com o mais novo a melhor marca de carro ou celular, quais os filmes da moda, etc. Nesse recíproco espelhamento, prolongam uma utópica adolescência do "infinito".

É aqui que a educação pode se tornar não um eterno (re)construir, mas uma fábrica de eternas banalidades.

Nesse contexto, não será de estranhar a iminência de uma violência que se inicia como simbólica- mercadológica ou fetichista- até o cume de seu extravasamento nos demais ou em si mesmo.

Usualmente em ambos.

Anjos exterminadores: tema em sala ( parte 2)





"A possibilidade de experimentação foi o que passou a caracterizar a condição de adolescência no Ocidente, desde o final do século 18. Nesse contexto, a mesma foi delimitada como o tempo da passagem entre infãncia e vida adulta- a ler: "Os anos de apendizagem de Wilhelm Meister"( Editora 34), de Goethe.


Desde os anos 80, no entanto, essa figuração da adolescência entrou em franco processo de desconstrução. Com a revolução feminista e os posteriores movimentos gay e transexual, a problemática da autoridade foi efetivamente colocada na berlinda, devendo ser remanejada desde então.


Finalmente, a contrução do modelo neoliberal, em conjunção com seu processo de globalização, teve o poder de incidir preferencialmente em dois segmentos da população, no que tange à mercado de trabalho. De fato, foram jovens e trabalhadores da faixa etária dos 50 anos os segmentos mais afetados pela voragem neoliberal.

Se os primeiros passaram a se inserir mais tardiamente no dito mercado, os segundos passaram a ser descartados pela substituição por trabalhadores mais jovens e baratos, pela precariedade que foi então estabelecida.

Com isso, o tempo de adolescência se alongou bastante, ficando jovens fora do espaço social e lançados numa terra de ninguém. Assim, a juventude foi destituída de reconhecimento simbólico ou social, prolongando-se efetivamente.

A esses jovens restaram apenas o corpo e a força física. Vale dizer que, em consequência das novas condições precárias de trabalho, reguladas pelo ideário neoliberal, as classes médias e elites passaram a se defrontar com os mesmos impasses nos registros do reconhecimento simbólico ou social, que outrora marcaram apenas os grupos populares.

A violência juvenil transformou-se em delinquência. Jovens de classe média e das elites passaram a a atacar gratuitamente certos segmentos sociais com violência. De mulheres pobres confundidas com prostitutas até homossexuais, passando por mendigos, a violência disseminou-se nas grandes metrópoles do país. Ao fazerem isso, no entanto, seus gestos delinquentes inscrevem-se numa lógica precisa e rigorosa.

Com efeito, tais segmentos representam no imaginário desses jovens a decadência na hierarquia social, sendo pois os signos do que eles podem ser efetivamente no futuro, na ausência de reconhecimento simbólico que os marca.”

(Joel Birman)

sábado, 7 de maio de 2011

Ferrara/Rossellini



Forest Whitaker-novamente- em Mary, belíssima obra de Abel Ferrara

http://www.contracampo.com.br/83/mostramary.htm - para quem se interessar pelo ótimo texto de Ruy Gardnier.

A Obra de Roberto Rossellini-parte 2





"O grande cineasta foi levado a romper, em grande parte, com a linguagem tradicional dos encenadores: desde “Paisá” e, sobretudo, com o incompreendido “Alemanha ano zero”, ele abandonou o artifício do cenário pré-fabricado, da montagem clássica e da decupagem de Eisenstein (teórico e cineasta russo), como mostrou Amédée Ayfre em seu estudo clássico (Cahiers du cinéma, número 17).

- Quando empreendo um novo filme, parto de uma idéia sem saber onde ela me levará. O que me interessa no mundo é o homem e esta aventura, única para cada um... (Roberto Rossellini).


“Rossellini foi assim, levado a voltar a uma apreensão global do universo no plano do conjunto, recusando as manhas da montagem analítica... Deixando entrever, ao mesmo tempo, o núcleo da vida e as raízes do sobrenatural. Se o modo de expressão de uma arte merece o nome de sacro, é bem esse".


"Stromboli, a história de um parto, pode servir ao conjunto desta meditação bíblica: se hoje a criação é escrava da desordem, o é contra sua vontade e porque Deus havia permitido que assim se escravizasse. Mas ela mantém a esperança de ser liberta da corrupção que a tem escravizado...Nós o sabemos: a criação geme ainda agora nas dores de parto e não só ela, mas também todos os que começamos a receber o Espírito Santo, gememos no mais profundo de nós mesmos".

"É bem de uma dilaceração de todo ser, de uma ruptura da alma e do corpo que aqui se trata: o sofrimento deve entreabrir esse mundo fechado e separado. Entreabri-lo, seja na pessoa dos que sofrem em batalha (“Paisá ou “Roma, Cidade Aberta”), seja forçado pelo invisível (as heroínas de Rossellini), por esse Deus à espreita, de que fala Mauriac- que acua a criatura como uma caça ternamente cobiçada.

E é aqui que o estilo revela sua riqueza, embora seja preciso, para admirar essa alta catedral, libertarmo-nos do prestígio do gótico flamejante que cega a maioria dos críticos. Somente um desenho de uma rugosidade medieval, um talhe vigoroso e direto, cuja minúcia iguala o fervor.”

( Henri Angel- mestre de Daney, em apanhado da obra do italiano).

Foto do conto "O Milagre", contido em "O Amor".

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Atores/atrizes





(Forest Whitaker- o grande ator de "Bird", Annie Girardot- italiana do barulho, Jerry Lewis e Robert De Niro, na pérola de M. Scorsese, "O Rei da Comédia".

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Amorim sobre a pendenga braçal do Código Florestal





O produtor de soja brasileiro na Amazônia só pode produzir em 20% de sua propriedade. No cerrado, em 30%...

Rebelo quis isentar o pequeno proprietário rural – dono de até 4 módulos fiscais – de ter que recuperar a vegetação nativa que tiver derrubado até julho de 2008.

O módulo fiscal varia de município para município e é de 300 hectares na Amazônia, e de 70 em São Paulo.

Trata-se de 4 milhões e 300 mil proprietários rurais no Brasil, de um total de 5 milhões e 200 mil.

É gente que produz para si, a família, e um pequeno núcleo na comunidade. Tentar fazer com que recomponham a mata nativa, em muitos casos, será condená-los à fome.

São proprietários que, no Brasil, na média, têm uma renda mensal entre um e dois salários mínimos. Porém, o Governo preferiu que Rebelo retirasse esse ponto do relatório que começa a ser discutido hoje, e amanhã deve ser votado na Câmara.

Para Rebelo, com isso o Governo revela total desconhecimento da realidade do campo. O que deve significar, segundo Rebelo, uma derrota expressiva do Governo.

Segundo Rebelo, a grande maioria vai aprovar o relatório dele.

E no item que for votado em separado – essa isenção de recomposição da mata nativa para o pequeno proprietário, o Governo deve perder feio ao votar contra a maioria dos pequenos.



"Por que o Governo da Presidenta Dilma reagiu assim, ao relatório Rebelo ? As considerações que se seguem são de autoria deste ansioso blogueiro.

Rebelo não tem nada a ver com elas.

Este ansioso blogueiro não tem duvida de que o fantasma da Blá-blá Marina estava atrás da porta do ministro Tony Palocci, enquanto ele negociava com Rebelo.

Além, é claro, da natural inclinação do Tony por posições que coincidam com as do concorrente brasileiro.(Ou não foi ele quem, no WikiLeaks, se ofereceu para defender a ALCA, do presidente Bush, em aberto desrespeito à posição do chefe, o Presidente Lula, e do excelente chanceler, Celso Amorim?)

O Governo da Presidenta Dilma deve ter preferido fazer uma reverência à classe média “verde”, aquela que se mobilizou com a Blá-blá Marina e, depois, em parte, como Padim Pade Cerra, que subiu ao altar de manto de linho verde.

O veto ao perdão aos pequenos só se explica com a Marina.

É impedir que a assim chamada “classe média” do James Cameron chame a Presidenta Dilma de “devastadora”. Só pode ser isso.

É onde o interesse não-nacional se encontra com a conservação da natureza – da Holanda".

(Paulo Henrique Amorim)




Podemos pensar que a maioria da população de "classe média" hoje pareça carregar em seu lombo uma única causa- a do meio ambiente. A mesma, infelizmente, não costuma vir acompanhada de uma visão menos fragmentária da coisa a partir de bandeira verde-água.

Qual seja, o moço ou moça, senhora ou senhor que prossegue no instituído programa " consumindo à beça", termina por lançar fora de seu arcabouço patrimonial um belo de um lixo tóxico.

Já que o produto, cibernético ou industrial deverá ser descartado e substituído por outro- teoricamente mais avançado-,...e assim por diante. A máquina precisa girar. O planeta não.


Nessa brincadeira de "mobilização", o trabalho precarizado é deposto para um segundo plano, em nome da bolha hippie de James Cameron e seus avatares.


Ps 1-Ok, como filme tem seus méritos de ser um "Dança com Lobos" com roupagem futurista, New Age. Se for mérito...


Ps2- Na foto, Britney Spirro de visual pandorense.

(Alessandro)

terça-feira, 3 de maio de 2011

A obra do iraniano Abbas Kiarostami



Resiste com brio à sentença da morte do cinema.

Rossellini: O visionário e sua contribuição






Roberto Rosselini não abriu mão da emoção em prol do realismo - como muitos ainda podem pensar-, apenas a buscou de forma distinta. Tanto que não abdicou do formato de melodrama em seus primeiros filmes de destaque.

"Roma"..., "Paisà", "Alemanha ano zero", "O Milagre" já o são, bem antes dos trabalhos com Ingrid Bergman.

O que o cinema de Rossellini veio a ressaltar, entre outras, é que tudo o que está em cena e fora do campo da dramaturgia carrega o mesmo "pathos" e poder de revelação.


Esse abarcar os seres e coisas filmadas, sem deter-se exclusivamente no que parece ser o principal, é o que iguala a todos na mesma beleza de uma direção em surdina.

Para tanto, seria necessário abrir mão de um filme e de um belo programados. Pôr em xeque óticas corriqueiras de estética, inclusive o sonhado formato da obra-prima.


Ao final de "Alemanha ano zero", a câmera nos mostra, após a tragédia, um bonde repleto de pessoas anônimas, algo tão importante para a obra quanto a História/ história em pauta: um movimento de pincelamento de uma arte visionária, que igualou cinema, visão e existência.

Qual seja, o presente mais imediato e sua perspectivação social, existencial e espiritual. Não é para muitos.


Ps. O artista deixaria um número considerável de herdeiros: Godard, Antonioni, Eric Rohmer, Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha, Person...entre inúmeros, como Abbas Kiarostami- de grande força no cinema contemporâneo.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Pitadas de RA- A Inveja e o futebol




"O futebol é uma combinação de tênis e frescobol.

Em relação ao time adversário o futebol é tênis, guerra, o adversário tem de ser derrotado. Se eu não o derrotar, ele me derrotará: ou um ou outro...

Mas, para que o meu time derrote o adversário, é preciso que os seus jogadores joguem, entre si, o jogo do frescobol. Há de haver cooperação. Ou todos ganham ou ninguém ganha: “um e outro“...

Pode acontecer – e frequentemente acontece – que um jogador seja roído pelo rato chamado “inveja“. E a inveja não consegue jogar o jogo da cooperação.

A inveja instaura, então, o jogo da “sabotagem“. O objetivo do jogo da sabotagem é destruir o companheiro que me causa inveja (ele joga melhor, é mais bonito, é mais amado...). Assim, ao invés de lhe passar a bola para que ele faça o gol – ele está livre, sozinho diante do goleiro! – o invejoso prefere driblar os três adversários que se encontram à sua frente para ele fazer o gol e se transformar em herói. O resultado: ele perde a bola e o seu time perde a partida.

O time perdeu a partida, mas o invejoso está feliz: ele não deixou que o outro, que ele inveja, fizesse o gol... A esse tipo de jogador eu dou o nome de “sabotador“.

Pitadas de RA- o fetiche do objecto






O "mundo de fora" é um mercado onde pássaros engaiolados são vendidos e comprados.

Há quem pense que se comprar o pássaro certo terá alegria. Mas pássaros engaiolados, por mais belo que sejam, não podem dar alegria. Na alma não há gaiolas..."