sábado, 7 de maio de 2011

A Obra de Roberto Rossellini-parte 2





"O grande cineasta foi levado a romper, em grande parte, com a linguagem tradicional dos encenadores: desde “Paisá” e, sobretudo, com o incompreendido “Alemanha ano zero”, ele abandonou o artifício do cenário pré-fabricado, da montagem clássica e da decupagem de Eisenstein (teórico e cineasta russo), como mostrou Amédée Ayfre em seu estudo clássico (Cahiers du cinéma, número 17).

- Quando empreendo um novo filme, parto de uma idéia sem saber onde ela me levará. O que me interessa no mundo é o homem e esta aventura, única para cada um... (Roberto Rossellini).


“Rossellini foi assim, levado a voltar a uma apreensão global do universo no plano do conjunto, recusando as manhas da montagem analítica... Deixando entrever, ao mesmo tempo, o núcleo da vida e as raízes do sobrenatural. Se o modo de expressão de uma arte merece o nome de sacro, é bem esse".


"Stromboli, a história de um parto, pode servir ao conjunto desta meditação bíblica: se hoje a criação é escrava da desordem, o é contra sua vontade e porque Deus havia permitido que assim se escravizasse. Mas ela mantém a esperança de ser liberta da corrupção que a tem escravizado...Nós o sabemos: a criação geme ainda agora nas dores de parto e não só ela, mas também todos os que começamos a receber o Espírito Santo, gememos no mais profundo de nós mesmos".

"É bem de uma dilaceração de todo ser, de uma ruptura da alma e do corpo que aqui se trata: o sofrimento deve entreabrir esse mundo fechado e separado. Entreabri-lo, seja na pessoa dos que sofrem em batalha (“Paisá ou “Roma, Cidade Aberta”), seja forçado pelo invisível (as heroínas de Rossellini), por esse Deus à espreita, de que fala Mauriac- que acua a criatura como uma caça ternamente cobiçada.

E é aqui que o estilo revela sua riqueza, embora seja preciso, para admirar essa alta catedral, libertarmo-nos do prestígio do gótico flamejante que cega a maioria dos críticos. Somente um desenho de uma rugosidade medieval, um talhe vigoroso e direto, cuja minúcia iguala o fervor.”

( Henri Angel- mestre de Daney, em apanhado da obra do italiano).

Foto do conto "O Milagre", contido em "O Amor".

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