segunda-feira, 9 de maio de 2011

Anjos exterminadores: tema em sala ( parte 2)





"A possibilidade de experimentação foi o que passou a caracterizar a condição de adolescência no Ocidente, desde o final do século 18. Nesse contexto, a mesma foi delimitada como o tempo da passagem entre infãncia e vida adulta- a ler: "Os anos de apendizagem de Wilhelm Meister"( Editora 34), de Goethe.


Desde os anos 80, no entanto, essa figuração da adolescência entrou em franco processo de desconstrução. Com a revolução feminista e os posteriores movimentos gay e transexual, a problemática da autoridade foi efetivamente colocada na berlinda, devendo ser remanejada desde então.


Finalmente, a contrução do modelo neoliberal, em conjunção com seu processo de globalização, teve o poder de incidir preferencialmente em dois segmentos da população, no que tange à mercado de trabalho. De fato, foram jovens e trabalhadores da faixa etária dos 50 anos os segmentos mais afetados pela voragem neoliberal.

Se os primeiros passaram a se inserir mais tardiamente no dito mercado, os segundos passaram a ser descartados pela substituição por trabalhadores mais jovens e baratos, pela precariedade que foi então estabelecida.

Com isso, o tempo de adolescência se alongou bastante, ficando jovens fora do espaço social e lançados numa terra de ninguém. Assim, a juventude foi destituída de reconhecimento simbólico ou social, prolongando-se efetivamente.

A esses jovens restaram apenas o corpo e a força física. Vale dizer que, em consequência das novas condições precárias de trabalho, reguladas pelo ideário neoliberal, as classes médias e elites passaram a se defrontar com os mesmos impasses nos registros do reconhecimento simbólico ou social, que outrora marcaram apenas os grupos populares.

A violência juvenil transformou-se em delinquência. Jovens de classe média e das elites passaram a a atacar gratuitamente certos segmentos sociais com violência. De mulheres pobres confundidas com prostitutas até homossexuais, passando por mendigos, a violência disseminou-se nas grandes metrópoles do país. Ao fazerem isso, no entanto, seus gestos delinquentes inscrevem-se numa lógica precisa e rigorosa.

Com efeito, tais segmentos representam no imaginário desses jovens a decadência na hierarquia social, sendo pois os signos do que eles podem ser efetivamente no futuro, na ausência de reconhecimento simbólico que os marca.”

(Joel Birman)

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