Filme deveras repetido na tv, o que não servirá de desculpa para não comentá-lo. Por ser razoavelmente conhecido, que certas considerações parecem “necessárias”.
Edward Mãos de Tesoura
A personagem que encontra Edward - o “monstro” – é ingênua vendedora de cosméticos. Mas Burton- o diretor-, prefere focar ironicamente os consumidores.
Afinal, o curso da história segue e suga certas pessoas atreladas a um modo de vida como ganha pão, em um tipo de sociedade que não ofereceria muito mais à vista. As consumistas, em “Edward”, seriam histéricas moldadas, em processo de perpetuação de seus espelhos frívolos.
Edward comparece como uma espécie de visor para a sociedade norte-americana. Carrega consigo o excesso e as faltas: as várias tesouras seduzem, ao mesmo tempo em que evidenciam uma falta mais ampla- humana e cultural.
Num primeiro momento, ele será aceito entusiasticamente. Num segundo, será punido. Um mundo que não sabe observar seus espelhos transfere a agressão para o indivíduo supostamente não humano, “fabricado”. Embora, por não ter sido fabricado exatamente em laboratórios, Edward prolonga a natureza criativa da espécie humana, já que uma falha na mecânica de produção o tornará, a um tempo, “estranho” e artista.
Temos, portanto, uma interessante carnavalização realizada pela obra. O indivíduo “fabricado” torna-se humano, ao passo que as possíveis pessoas de carne e osso seriam pré-fabricadas, por moverem-se como tais.
2
Converter beleza em artifício atroz parece ser o caminho mais banal, inscrito na sociedade dos supérfluos.
Edward passa a fazer o oposto. Converte qualquer artifício em arte.
Edward passa a fazer o oposto. Converte qualquer artifício em arte.
Algumas das cenas mais memoráveis na obra são aquelas em o protagonista recria a natureza homogênea- artificialíssima-, produzida como enfeite de moradia dos habitantes no local.
No entanto, a engrenagem atroz não suportará uma criatura alegórica, geradora de uma arte de exposição e reposição de vida. Algo que a comunidade parece desconhecer ao viver em função de um modo de vida industrial/ estandardizado.
Tim Burton, diretor da obra, perpassa com rara habilidade diversas fábulas ( “Frankenstein”, “A Bela e a Fera”...), e as contextualiza para o mundo contemporâneo.
Sua arte consiste em converter firula, supérfluo, vestígios materiais, - lixo orgânico e inorgânico de cultura-, em reciclagem estética consistente. ( Oriunda, a rigor, de um raro casamento de neoexpressionismo com art pop).
Sua arte consiste em converter firula, supérfluo, vestígios materiais, - lixo orgânico e inorgânico de cultura-, em reciclagem estética consistente. ( Oriunda, a rigor, de um raro casamento de neoexpressionismo com art pop).
“Edward mão de tesoura” , além de obra encantadora não deixa de ser expressão da arte por si mesma."
A.C.
A.C.