domingo, 29 de novembro de 2009






Os Kinks foram aquela banda inglesa da época dos Beatles, que não tiveram a mesma sorte dos Fab Four em conseguir adentrar o terreno norte-americano.A banda de Lennon e Macca quando lá chegaram,conseguiram a propulsão definitiva para a exportação/divulgação de sua obra para o restante do mundo.Já a banda de Ray Davies, tendo lá chegado, encontrou resistências ditadas por rígidas leis protecionistas.
De qualquer forma,tanto os Beatles influenciaram os Kinks quanto os Kinks os primeiros.
O renascimento do pop inglês nos anos 90 dizia ter tido influência tanto de uma quanto de outra.Mas até hoje poucos sabem quem foram os Kinks.Uma banda que antecipou o hard pelo riffe de You Really Got Me?,embora não tenha dado maiores continuidades a ele e nenhuma dessas bandas tenha tido um décimo de sua elegância dandy.
Uma banda que parecia pré-punk bem antes dos Stooges.Que poderia ser glitter(Lola)ou bem art-rock(Arthur),ou mesmo fazer lindas e sofisticadas trilhas de filmes(Percy).
Antes de tudo,uma trupe que sabia unir a melhor pegada instrumental aos melhores devaneios experimentais,sem perder a finesse da crônica poética,da sátira de costumes avant la lettre para o pop(os Beatles ainda não o faziam),de comentários agridoces.
Uma banda que se impôs com o furor de sua exatidão notada nas batidas secas e precisas de sua batera, ou na guitarra mais rasgada,de extremo feeling do irmão de Ray Davies,Dave.Tudo isso somando-se ao tom algo cáustica do compositor,que nem por isso abria mão de seu enorme lirismo britânico,seja na empostação de music-hall(e alguém ainda quer saber de onde veio parte considerável de um David Bowie,anos 70?),seja,sobretudo,por sua enorme genialidade melódico-harmônica.
Muitas outras coisas poderiam ser ditas.Na verdade,iria somente postar uma letra,mas acabei falando demais(é sempre assim.Começo pensando em um comentário e a coisa se estende para além de muá).Meu disco favorito é o Village Green Preservation Society,seguido talvez do Something Else by the Kinks que, mais britânico impossível.Ou o Face to Face, que alterna com perfeição o melhor rock primitivo com as elaborações mais nuançadas.
A seguir a letra de um single(compacto)de peso,à frente de seu tempo.Na verdade,ninguém fez singles como eles dentro da proporção quantidade/qualidade.Talvez até nisso eles tenham sido únicos e "marginais".

A Well Respected Man

'Cause he gets up in the morning, Porque ele acorda de manhã,
And he goes to work at nine, E ele vai trabalhar às nove,
And he comes back home at five-thirty, E ele volta pra casa cinco e meia,
Gets the same train every time. Pega o mesmo trem toda vez
'Cause his world is built 'round punctuality, Porque seu mundo é construído ao redor da pontualidade,
It never fails. E nunca falha

And he's oh, so good, E ele é tão bom,
And he's oh, so fine, E ele é tão legal
And he's oh, so healthy, E ele é tão saudável
In his body and his mind. Em seu corpo e sua mente
He's a well respected man about town, Ele é um homem muito bem respeitado na cidade,
Doing the best things so conservatively. Fazendo o melhor tão conservadoramente

And his mother goes to meetings, E sua mãe vai à encontros,
While his father pulls the maid, Enquanto seu pai brinca com a empregada,
And she stirs the tea with councilors, E ela mexe o chá com os conselheiros,
While discussing foreign trade, Enquanto discute o comércio estrangeiro,
And she passes looks, as well as bills E ela dá olhadelas tanto nas contas quanto
At every suave young man Em todos os caras educados

'Cause he's oh, so good, E ele é tão bom,
And he's oh, so fine, E ele é tão legal
And he's oh, so healthy, E ele é tão saudável
In his body and his mind. Em seu corpo e sua mente
He's a well respected man about town, Ele é um homem muito bem respeitado na cidade,
Doing the best things so conservatively. Fazendo o melhor tão conservadoramente

And he likes his own backyard, E ele gosta do seu próprio jardim dos fundos
And he likes his fags the best, E ele prefere as suas bichas,
'Cause he's better than the rest, Porque ele é melhor que o resto,
And his own sweat smells the best, E seu próprio suor cheira melhor
And he hopes to grab his father's loot, E ele espera agarrar o lote do seu pai,
When Pater passes on. Quando Pater for dessa pra uma melhor

'Cause he's oh, so good, E ele é tão bom,
And he's oh, so fine, E ele é tão legal
And he's oh, so healthy, E ele é tão saudável
In his body and his mind. Em seu corpo e sua mente
He's a well respected man about town, Ele é um homem muito bem respeitado na cidade,
Doing the best things so conservatively. Fazendo o melhor tão conservadoramente

And he plays at stocks and shares, E ele brinca em estoques e ações,
And he goes to the Regatta, E ele vai à Regatta,
And he adores the girl next door, E ele adora a vizinha,
'Cause he's dying to get at her, Porque ele está morrendo para chegar nela,
But his mother knows the best about Mas sua mãe entende mais sobre
The matrimonial stakes. As apostas de casamento

'Cause he's oh, so good, E ele é tão bom,
And he's oh, so fine, E ele é tão legal
And he's oh, so healthy, E ele é tão saudável
In his body and his mind. Em seu corpo e sua mente
He's a well respected man about town, Ele é um homem muito bem respeitado na cidade,
Doing the best things so conservatively. Fazendo o melhor tão conservadoramente

sábado, 28 de novembro de 2009

Patéticas safadas




Esse novo filme sobre o Lula deve ser o coroamento de uma demagogia que despejou seus ranços por todos os lados em dois mandatos.Parece-me qualquer coisa que poderia ser produzida no Estado Novo.
Provavelmente verei,mas para sentir raiva.
E essas empresas que o estão financinado, tipo Camargo Correia?É a cara de uma atitude de um paternalismo extremo frente aos mais diversos setores da sociedade,os mais opostos.É o governo que tudo traga para si,das Ongs e sindicatos(que perdem qualquer independência)a uma Camargo Correia da vida.
Parece mais um desses esforços sob "legitimação" de "Pai dos pobres"de trazer qualquer coisa para um único seio:ricos e pobres,mentirosamente conciliados por meio de um inchaço publicitário e sob o pretexto aqui de arte,de "cinema".Uma tentativa de legitimar o ilegítimo.Esforço publicitário se passando por "cinema".Mobilidade social individual por mobilidade global e una de toda uma nação.(Todos os Outros cooptados para o Reino do Mesmo).
Reflexo talvez da confusão entre governabilidade e sonho pessoal de poder,democracia e populismo,mas sobretudo,pobreza pretérita como purgação para o "Reino dos céus".
Agora todos os setores da sociedade estarão,em tese,cantando suas Aleluias em praça pública(os shoppings e seus derivados)dentro desse estado de espírito de uma falsa unificação,sem contrastes.
O governo do PT atira para todos os lados,precisa agradar a todos como um Pop Star que se alimenta das farinhas mais singelas às mais "refinadas".De camelôs à banqueiros.Don Quixotes são mais adaptáveis do que pensávamos.
O pragmatismo faz parte da política,sabemos. Mas o que talvez esse filme deixe mais evidente é o que seria o máximo de uma estratégia não administrativa ou de projetos de horizontes.Sonho mais publicitário do que proprimente artístico,cinematográfico,político ou cultural.
A estratégia de uma integração mais para integralismo(a camada conservadora do nacionalismo modernista que daria em Plínio Salgado),guardadas as devidas proporções,do que para uma concreta abertura democrática que fortaleça um país a partir de uma instigação à certa independência de forças e pensamentos.
Que é tudo que certos governos preferem negar ou rejeitar.

O cinema iraniano de Abbas Kiarostami



Nessa espécie de pós-tempo,em meio aos escombros da história,"revoluções" vanguardistas e contra revoluções anulam-se.
Resta ao Abbas Kiarostami,de Gosto de Cereja, o registro da força de uma poeira fundadora.Quem sabe, seu ethos.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Factual




A curva compõe o hálito do dia
Da noite intempestuosa
Tempestades caem,racham a marmórea
Cidade que se dissolve esplêndida

Brota o dia com suas ofertas gratuitas
Renovam-se as curvas
Encantadas ou presentes de grego

Tatuagens no crânio
Botâmica enfeitiçada
Por vezes muda
Por vezes levantada

São grelhas,átomos no chão que se evapora
Sensação de gemido
Órgãos contidos

Beija o ar, o céu
Na terra que se desdobra
Lentamente
Surdina de sol poente

Encantamento de sibila
Regatos encantados que te admiram
Te gostam,te sentem

Como uma suave aderência
No entre-lugar
Sem ruminar
Ou escancarada latência

Somente um gostar


Alessandro C.

domingo, 22 de novembro de 2009

Marginália 2



A sombra da noite é áspera como o
Sol que a todos arremata
Simbiose no dia,tesouros amorosos
Abertura ao mundo caído
Proteção de "papai" dia e noite adentro
Longanimidade
De pouca e muita idade
Na cidade

O poeta é um angustiado
Cheio cheiro de farrapos
Reluzindo num topo de abismo
Sede de sentido
Multi sentidos
Entoando a canção

O repente repetente
Na vida de amorosos
Multi ação

Alessandro C.

sábado, 21 de novembro de 2009




A música do Ira é continuadora da linhagem do pop inglês e levando-se em consideração o período em que teriam iniciado a carreira,a principal referência era (muito provavelmente) The Jam.Embora o Ira me pareça melhor.
Depois de alguns lamentos quanto ao vocalista Nasi ter "escapado" da banda,uma lembrança de que o gênio da empreitada,tanto em composição quanto em execução, chama-se Edgard Scandurra. E isso,claro,não significa nenhum demérito para os demais.
Aqui uma letra que ainda pretendo trabalhar com os alunos.Aliás,o ideal é mesmo ouvir a música.Mas quando li seu trecho no momento reflexivo da escola,provocou impacto certo.E fica a pergunta:Quantas bandas conseguiriam tamanha precisão,sem comprometer em nada sua enorme elegância instrumental?

É Assim Que Me Querem
IRA!
Composição: Edgard Scandurra

Estou sonhando de olhos abertos
Estou fugindo da realidade
Todas as cervejas já bebi
Todos os baseados já fumei
O que há de errado no mundo
Meus olhos já não podem ver
Eu estou do jeito certo
Pra qualquer compromisso assumir

É assim que me querem
Sem que possa pensar
Sem que possa lutar
Por um ideal
É assim que me querem
Ao ver na TV todo o sangue jorrar
E ainda aprovar
A pena capital
A pena capital

Estou sonhando de olhos abertos
Estou fugindo da realidade
Todas as cervejas já bebi
Todos os baseados já fumei
E o que há de errado no mundo
Meus olhos já não podem ver
Eu estou do jeito certo
Pra qualquer compromisso assumir

É assim que me querem
Sem que possa pensar
Sem que possa lutar
Por um ideal
É assim que me querem
Ao ver na TV todo o sangue jorrar
E ainda aprovar
A pena capital
A pena capital

É assim que me querem
É assim que me querem

E me vendem essa droga
E me proibem essa droga
Para os desavisados poderem pensar que o governo combate
Invadindo a favela
Empunhando fuzis
Juntando dinheiro corrupto para a platina no nariz

É assim que me querem
Sem que possa pensar
Sem que possa lutar
Por um ideal
É assim que me querem
Ao ver na TV todo o sangue jorrar
E ainda aprovar
A pena capital
A pena capital

É assim que me querem
É assim que me querem
É assim que me querem
É assim que me querem
É assim que me querem

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Balanço da Helô




Lendo uma entrevista com a Helô Buarque,ela faz um balanço de Maio de 68 chamando sua geração de prepotente.Até concordo,mas vejamos:Seria possível reivindicar algo,seja os tais direitos civis,seja mais liberdade de expressão e cia usando de muita humildade?
Ou a ditadura militar no Brasil também não usou de prepotência?Pior,ainda contou com um grande apoio de seres com índole de escravos.
Certo,Mao e Cia..quer algo mais arrogante?
Por outra,pra dizer que se tratava de uma geração prepotente,não podemos deixar de lado o hoje.Ou seja, a quantidade impressionante de alunos com sentimento de onipotência e falsa auto-suficiência,mas com um detalhe:sem nunca ter pego um livro na vida(ou pelo menos,um livro mais substancial)e ainda com 0,5 por cento de vivência.
Por esses dias fiquei sabendo que o cara afirmou categoricamente:Que é isso, professora?Os Beatles inventaram foi a bossa-nova.
Disseram-me também que ler é coisa de quem não tem o que fazer.Acredito que jogar videogames,ver tv,etc,então seria.Alguém chegaria para uma criança para dizer que sua atividade lúdica não serve para nada?
Claro,dentro da lógica produtiva essa infância deve ser cortada o mais cedo possível para tão logo ser substituída pelo eterna adolescência,ágrafa e super antenada com celulares e seus "multi-usos"e fetiches,além dos orkuts da vida,..
Se não fosse a tal prepotência da geração de 68 os negros,as mulheres...teriam de fato conquistado algo?
Por outra,esses jovens de hoje teriam ganho uma informalidade que infelizmente acabou sendo assimilada mercadológicamente a ponto de sugar-lhes forças,sentidos,cérebros,almas...?
De qualquer forma,aquela arrogância lia um pouco mais,não tinha esoterismo barato,bruxarias derivadas ou auto-ajuda como referência máxima de leitura;buscava algum tipo de enriquecimento de espírito,para o "bem" ou para o "mal".
Muitos são os erros,claro.Mas a Heloísa esqueceu de dizer que a geração dos 2000 é ainda mais arrogante.Embora quase sempre fundamentada no Nada,na anestesia do excesso de "informações" e sensações pré-fabricadas,sem "causas" ou sensibilidade.Ainda mais umbigada e com o sentimento,melhor, a adrenalina de uma poser liberdade.Ou seja,falsa.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Gênio oculto







Diretor tão bom ( tão genial, eu diria) quanto Howard Hawks ou John Ford, King Vidor é o menos lembrado desses.Decidiram por lançar seu O Pão Nosso no Brasil e não foi a Continental(Maravilha!).
Como já havia ocorrido com Aleluia,que fora o primeiro filme da história feito somente com atores negros,Vidor apostou em um projeto totalmente desacreditado.Na verdade, aqui ele chegou a hipotecar a própria casa para poder rodar essa obra feita em período de grande crise:a Depressão norte-americana.
Os estúdios que se preocupavam com as lindas roupas dos atores certamente não queriam embarcar em algo do tipo. Como se tratava desse período difícil da história norte-americana,Vidor considerou que seria mesmo uma prostituição filmar de maneira tão esquiva. Preferiu apostar em algo sobre as possibilidades de um povo vencer em meio às agruras. Que é onde entrava o espírito de cooperação entre os homens de uma comunidade em uma espécie de socialismo primitivo.
Se o diretor em O Pão Nosso optou por filmar essas camadas populares em feroz luta de vida e sobrevida, qual seria a diferença, por exemplo, para um filme de John Ford,especialista em filmar uma América de homens anônimos,mas na verdade responsáveis pela construção em surdina de um país?
Um ponto capital é que, em Vidor, não encontramos rastros de sentimentalidade. Sua emoção brota sempre do mais “bruto”. Por outra, o diretor não perde tempo com nada como forma de fazer seu filme avançar.Sempre direto no ponto,com cortes por vezes mais rápidos,deixando as conclusões de cada cena para o espectador.Assim como Rivette dizia de Rossellini:”não enfatiza”.Contudo,com uma precisão total em cada tomada ou passagem.
Em uma cena do trabalho árduo dos personagens,esforço que seria responsável por devolver a água para aquela comunidade que estaria morrendo,um dos personagens enquanto capina diz algo como:”é assim mesmo,não pense que estamos em um estúdio”.Ou seja, uma cutucada de Vidor ,que foi o grande antecipador de Rossellini nessa recusa das “verdades”formadas nos seios das grandes companhias.Mas,principalmente, por essa disposição de filmar quase infinitamente um esforço de trabalho de homens,que é de onde extrai uma espécie de nova poesia para Hollywood: uma poesia bruta,enraizada na terra e na vida,como aquela dimensão telúrica e de pó do filme Viagem à Itália,de Rosselllini que, diante do enfrentamento com as crostas opacas do espaço/tempo,geraria uma reorganização geológica, material no cosmos do filme.Em ambos os casos,um (re) encontro epifânico entre corpos-almas,enquanto Vidor enfatiza a àgua como o lugar da drenagem da terra e dessas almas.
Um ponto substancial da obra encontra-se nas passagens do triângulo amoroso.O protagonista é casado,mas diante das adversidades por que passava a comunidade,sente-se derrotado.Como era o líder,o restante que lá residia dele esperava alguma atitude. O filme vai sugerindo com nenhuma palavra e muito dom de sutileza seu paulatino desinteresse por aquilo tudo que ele mesmo um dia havia erguido,seu sentimento de impotência.Reside na comunidade uma outra garota e não faltará muito para nos depararmos com uma espécie de novo Aurora,de Murnau.Só que, sem quase palavra alguma ou mesmo acompanharmos qualquer cena de abraço ou beijo entre o novo casal.Sabemos,no entanto, de tudo que está se passando:o sentimento de fracasso total do homem,sua fuga/atração para um outra vida,o desespero de sua esposa...Tudo exposto quase invisivelmente,pois Vidor aposta ao máximo no extracampo e na sugestão, sem se preocupar em “revelar” ou explicar algo.É a genialidade da expressividade em surdina e de seu poder de documentação,íntegro e de total respeito pela sensibilidade do espectador.
Essa bruta poesia nos convida a uma expressividade reinventada,mais espiritualidade que poetização,o que o aproximaria, por esse lado, mais do cinema de um Howard Hawks do que de um John Ford. Mas em todos esses casos,estamos diante de “modestos” épicos do erguimento ou reerquimento de uma nação, de seu espírito desbravador, aos quais King Vidor empresta toda sua gama de incontornável generosidade, sua considerável e íntegra imparcialidade de expressão e seu imenso gênio visionário em antecipar com toda gana uma parcela mais que determinante do (mais que) dito cinema moderno, o chamado neo-realismo italiano.Mais que um gênio das ocultezas,um diretor ainda um tanto quanto oculto.

sábado, 14 de novembro de 2009

Poeminha marginal


O frio abastece a noite e a manhã nasce,
a despeito do sol
Cenário mineiro circunspecto,
tolhido por muitos que são e serão

O comportamento da tarde não lembra a noite
com seus faróis:
A menina que se foi, a despedida, bem-vinda a noite
para aquecer você nua

Engavetei os papéis e rasguei a gaveta
Chorei pela roupa nova e experimentei a antiga

Não couberam sons e tecidos no teto


Alessandro Coimbra

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A Universidade voltou atrás no caso da "menina endiabrada'.
Ou seja,o protesto via internet serviu pra alguma coisa.As micro-mudanças ocorrem assim hoje.A Net,enfim,tem seu papel.
A sociedade convive com uma anomia junto ao mercado de prazeres.(Controlados,já que se trata de mercado).Marcuse já havia feito o diagnóstico da "revolução sexual" ao dizer que a permissividade teria se tornado a nova moeda de controle.E isso tem tempo.Ou seja,o jogo de repressão havia se invertido.As formas de controle são mais sutis.A ênfase na genitalização comprometeria a dimensão mais ampla da sexualidade como lugar de criação,etc e tal.
De outro lado,existe a campanha higienista do corpo,do tipo:malhe,malhe,não pare,se alimente assim,assado,desidrate,se tornando um símile de tecnologia clean.
E tudo isso se somando aos ranços( pouco admitidos)da culpa Ibérica, católica.
O resultado só poderia dar nessa esquizofrenia agônica(e autofágica)que vimos.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Caetanices "pós-mudernas"




Disseram-me via fone que o Caetano havia dito que Lula é "analfabeto,ignorante", qualquer coisa(s) do tipo.E,o pior, que isso teria gerado uma enorme polêmica(pra variar,tratando-se de quem falou).
Preferi conferir a veracidade disso tudo,até que vi no blog do Inácio Araújo,crítico da Folha, uma espécie de confirmação.
Não vem ao caso aqui se Lula é ou não ignorante,analfabeto(o primeiro, em grande medida,somos todos nós).
As "novas gerações",digamos,têm razão em ter nojo de Caetano.Devem se perguntar por que razão seus pais,tão "cultos",ficam babando ovo nesse cara do "século passado" e,que além do mais,vomita tantos clichês por aí com tanta gana,a Deus dará,como alguém super-protegido por uma "posição" deslocada,se alimentando narcisicamente disso tudo,já que "somente" arte seria pouco,muito pouco para ele.
Eu,que sou um desses velhos(pero no mucho),posso dizer que Caetano,caros jovens,tem seu lugar na música brasileira sim.E julgar toda uma obra por uma música ou outra é leviano.Assim como julgar toda sua produção pelas bobagens que profere.
Agora,mais leviano é um cara como ele nunca se cansar de suas tarefas retroalimentares,disparando suas frases de efeito sem fim(não são observações)sobre todos os assuntos.Aderindo,com gosto e gozo,a essa capa(de cepa babosa)com que a imprensa inócua(igualmente retroalimentar)o cobre(recolhendo suas próprias babas milenares nos copinhos),como um herói da "inteligência" dos trópicos:o "Baiano Rei".
"Admirado" inclusive pelas novas patotas baianas que se sentem bem em proferir que "o amam" tanto,apesar de mal conhecerem sua obra.Como sinal de "respeitabilidade" para um analfabetismo(funcional ou não)que reina.
Será que essa imprensa nunca irá aprender que Caetano não é porta voz intelectual de porcaria alguma e que deveria se restringir a falar de música popular,ou de histórias da carochinha e de seu doce predileto?(Prefiro-o na Caras,é mais coerente).
Talvez se fossem perguntá-lo sobre música,o mesmo teria orgasmos a dizer." Que nada,o Axé é tudo!É lindo! Aliás,não posso falar mal de algo que eu mesmo criei. Guardadas as devidas proporções,claro.Já que eu sou culto e a nova turma,não.Poderia até ter falado tão mal do Lula antes,mas como meu amigo é que era o ministro,deixei esses holofotes pra depois,enquanto me distraia com outras picuinhas que me fazem gozar.E,em meio às cacas que os críticos escrevem sobre mim,eu,Deus Baiano pairando acima das críticas,do Bem, do Mal e do Tempo,contemplo tudo com o sentimento de "êxito interior",do fundo de meu banheiro lindo,seus pobretões.Pois lugar de narcisistas-anais é no banheiro,contemplando a própria imagem,de preferência multiplicada por mil.Esse é o barroco brasileiro que tanto profetizo,seus ressentidos de araque.Crítico é tudo pobre.Resplandeço solar a cada vez que falam bem ou mal de mim.Afinal,esse é meu destino histórico.E,quiçá,desse lindo Brasil dos "cadernos culturais"."

sábado, 7 de novembro de 2009

Notinha

Depois de uns 1000 anos(cada semana desses dias é o equivalente a uns 50 anos,menos em experiências que em corrida temporal), decidiram por lançar filmes de Cassavetes(diretor independente norte-americano)em dvd na Terra Brazilis.
Pena que a segunda notícia não é das melhores:Cinemax é Continental,o que significa que se trata da distribuidora mais picareta do país(pensei que com o Rio Sagrado,de Jean Renoir havia ocorrido uma redenção.Mas o lançamento residual de O Homem do Oeste,de Mann, provou o contrário.Com todas as forças).
Poderíamos pensar em boas intenções.Mas com o preço que eles cobram, só para cinéfilos Kamikazes ou yuppies pós-modernos consumistas,disfarçados de cult-mans.(Redundãncia,já que cult-man já é,por si só,um simulacro de mão cheia).
Como diz a lenda jargão,de boas intenções o inferno já está cheio.Amém!

Ps.O excepcional Homem das Novidades,com Buster Keaton é outro dos queimados agora pela distribuidora.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009



Nesses tempos em que até Deus é contabilizado no tempo-dinheiro(vamos falar rasgado.Não há palavras bonitas para essas coisas,muito menos técnicas ou "teórias"):Um Deus da "Prosperidade" em detrimento de um Deus de misericórdia,compaixão e por que não,"justiça".
Depois do "Amor" já ter atravessado os jogos publicitários e com isso se cansado nas esquinas,a bola da vez se divide em ramificações aparentemente opostas:A mercantilização do sexo,do "desejo" obrigatório,de um lado e,quem diria,Deus(de outro).
Claro que há fiéis e fiéis,há igrejas e igrejas e não dá pra simplesmente jogar tudo numa mesma vala comum.
Claro também que o capitalismo desses tempos procura se reciclar(literalmente), sugando o máximo de quem não tem,por novas vias.
Se tudo isso é óbvio ululante pra quem tem o mínimo de cérebro e de vez em quando ainda queima alguns neurônios no país do "pra que pensar"?Ou "pra que questionar?".Não custa repetir("nada é tão óbvio que não precise ser esclarecido",me parece que Paulo Freire).
Isso tudo vale também para os ambientes universitários onde se repetem os dogmas dos teóricos da vez,como deuses não perecíveis...
Fica aqui esse poema do Cummings pra quebrar o gelo e lembrar o tanto que essas compartimentações,classificações são pobres.E também que Deus não se resume a números de contabilidade de uma lógica Globalizante,não se prestando a tantas padronizações.


"Obrigado Meu Deus por mais este espantoso
dia:pelos saltitantes e vrentes espíritos das árvores
e um azul autêntico sonho celeste; e por tudo
o que é natural o que é infinito o que é sim

(eu que morri estou hoje vivo de novo,
e este é o dia de anos do sol;este é de anos
o dia da vida e do amor e asa:do alegre
grande evento ilimitavelmente terra)

como poderia saboreando tocando ouvindo vendo
respirando qualquer - erguido do não
de todo o nada - ser simplesmente humano
duvidar inimaginável de Ti?

(agora os ouvidos dos meus ouvidos despertam e
agora os olhos dos meus olhos estão abertos)"

[e.e. cummings; tradução de Jorge Fazenda Lourenço]