quinta-feira, 22 de abril de 2010






Papo melômano com amigos


Embora não consiga me desvencilhar do Cafe Bleu, do Style Council, que é uma rara combinação de jazz e pop, bem sucedida, mágica - eu diria-, estive ouvindo um tanto de Elvis Costello, sobretudo Clubland, obra-prima do pop.
Em ambos os casos, são músicas que poderiam ter nascido hoje e que apresentam um tipo de sonoridade pop de tônus bem sofisticado, ameaçando a qualquer momento passar para um outro lado,um outro mundo, mas que já não caberia em um conceito específico,delimitado de rock/pop ou mesmo jazz.
Trabalhos, enfim, para amantes de música e não para fãs de gêneros musicais.

Aproveitei para relembrar outro trabalho de Costello, When I was cruel. A jovialidade comparece desde a primeira: “45”, um balanço de sua vida e carreira. No decorrer, haverá uma obra pontuada por duplas facetas. De um lado, o de quem havia acabado de se dedicar a trabalhos de jazz e de canto lírico. De outro, o de alguém que retoma um estado de espírito mais “punk”, ruidoso dos primeiros tempos de sua carreira.

Haja, aliás, barulho em “Dissolve” ou em “Daddy can I turn this?” Nesses momentos, o disco permanece elegante e saberemos que poucos trabalhariam a cacofonia com tal propriedade e refinamento.

Haverá também menções ao glam rock, como em “Tear off your own head”, ou na finesse minimalista de “When I was cruel”,título do álbum. Já Tart passa abruptamente do pop lamentoso a uma precisa e intensa pegada de jazz que durará segundos a cada vez que comparece. Nada mais é necessário nessa aula de musicalidade e de concisão instrumental.

Minha favorita é “Episode of Blonde”,pontuada por pianos ao estilo do Aladin Sane,de David Bowie- o glam rock novamente- combinados a um canto herdeiro de Bob Dylan,mas com um dom melódico mais apurado,nada indigno dos melhores momentos de McCartney.Ocorrendo quase ao final do disco,funciona como seu momento clímax, como um tipo de apoteose. E mesmo com a riqueza de recursos sonoros a acompanhar um prolífico monólogo teatral, circular, não haverá rastros de inchaço ou de gigantismo e, portanto, nem aqui o disco se afastaria de uma tonalidade geral mais despojada-embora "mais despojada” somente no tom.

Tanto o jazz-pop do Style Council, em Café Bleu ,quanto Elvis Costello,em um disco pontuado por metais como When I was cruel,encontram-se no máximo de suas carreiras, como também de uma maturidade musical que dispensa dogmas ou apanelamentos de idade ou de gênero.

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