quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Gotas de Realismo- parte 1


  
 “A periferia por ela mesma”-   Mano Brown ( 2001)



1-Violência, Paz e consumo:

Qual das violências? A do revólver? Há vários lados a analisar. Uma é a do desemprego, ainda mais com tanta competição.

Tem muita arma na rua. Falta comida, mas tem arma. É o circo do cão.




Hoje tem um monte de coisas “bala” pra comprar, mas falta dinheiro. Isso desperta mais cobiça ainda.


Por outro lado, tem o dinheiro. Todo mundo quer ter. E aí o ladrão tem mais respeito que o trabalhador. Até pra sociedade.




Por isso, a molecada, filha daquele pai que já sofreu pra caralho, que não tem nada, que mora no barraco, não quer viver igual ao pai...Quer ser notório. Quer ser notado. Quer seu espaço.



Ele não é ninguém pro governo, não é ninguém pra patrão dele, pra mulher dele, pros vizinhos dele, “não é ninguém.”. Aí quem faz o crime é notório, “é alguém”. 



O mundo é violento, o sistema é violento. Hoje o que manda é o ter. Quem não tem “não é”.
Se você pode consumir, “você é”. Senão, “você não é”. 




As pessoas veem muita televisão, o que é vendido na televisão. Você quer ser o cara da TV. Compre o Startac, “se você não tem, é vacilão”. “Tem que estar a pampa no dia a dia”, senão as minas te veem como um prego.




2- O Povo Brasileiro:




O brasileiro não confia muito no Brasil, não confia na melhora, não confia no vizinho. Não há sentimento de união.


Não tem esse povo brasileiro que o pessoal fala. Tem um monte de gente. O Brasil não tem um povo. O que é o brasileiro?



3- Alienação e Bandidagem:



É o que eles estão conseguindo. O crime é alienado. Os criminosos na periferia não são políticos, não têm ideologia. São alienados: 


É ouro, puta, motel, roupa de marca, carro de playboy. Não têm ideologia, têm merda. Eu vivo na periferia, eu vejo o que é.



4- Dignidade:



Eu sou um homem, não sou uma peça, um móvel. Mas eu vejo que aqui as pessoas são tratadas como móvel velho.




5-Drogas:


Elas não desestruturam só a periferia. O que existe em toda periferia é tráfico. Droga é problema geral. Se bobear, até o presidente dá uns pegas. Mas rico, se passar mal, vai pra clínica. 

Na periferia, não, a guerra do tráfico da droga mata. Sem a droga, a periferia já é desestruturada.



6- A Polícia




A polícia não reprime, representa, faz teatro. A polícia não repreende nada. É mais um Trabalhador que está enganando o patrão, que nesse caso é o povo.

“Eu vou dar um role pra aqueles lados, se eu catar um otário-vacilão, eu mando. 

Se a bocada tiver dinheiro e der pra eu catar um cara, eu cato; se não tiver nada também se dane, não é meu filho”. É desse jeito. 


Esse espírito do vamos combater o crime para o bem da população não existe. Não tem nada disso. Ele nada mais é que um criminoso com farda.



Agora o que dá nojo é que ele é um cara que muitas vezes sabe das coisas. Mas lá na polícia, dentro da corporação, não sobra ninguém. Uma vez eu estava numa delegacia e vi um policial chegando pra falar com o comandante dele. Aí o comandante berrou:

“Volta pra trás, cadê seu chapéu?” O cara parou e o comandante mandou: “Eu te chamei pra você entrar aqui? Volta pra trás, pra lá, mais pra lá”.



Mandou ele voltar três ou quatro vezes. 


Agora solta aquele cara na rua e você é o primeiro a trombar com ele numa favela. Na hora ele pensa: “Vou tirar a neurose é nesse aqui”.

( Continua...).

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