sábado, 3 de dezembro de 2011

Cooperifa- Saraus




" Com a efervescência cultural, os moradores passaram a se apropriar do lugar e ter orgulho da região. “Isto traz uma transformação social muito grande. Antes as pessoas tinham que atravessar a ponte para ter cultura, hoje as pessoas tão vindo do outro lado da ponte para consumir a nossa,” avalia Márcio.



Dificuldades


Muitas dificuldades apareceram no caminho para manter a Cooperifa independente de patrocínios, apoio de Ongs e mandatos políticos. “Já cortaram minha água, a luz,... É aquele esquema de sonhador, tudo o que vem, vai. Mas era um bagulho que se eu não tivesse feito eu teria morrido”, descreve Vaz.


Se a Cooperifa nasce, subjetivamente, da necessidade cultural dos moradores da periferia, objetivamente ela vem de uma ideia de Sérgio Vaz, após assistir uma reportagem sobre a Semana de Arte Moderna de 1922.


No primeiro evento ampliado, planejado para ocorrer mensalmente, não apareceu ninguém além dos poetas. “Então vai ter quarta-feira que vem”- falei. Achavam que eu era louco, já que não tinha vindo ninguém, mas na periferia a gente precisa investir nos bagulhos. Na outra quarta, 18, pessoas chegaram e aos poucos foi aumentando”,   conta Vaz.


Disseminar a palavra


O sarau nasceu porque conhecíamos diversos artistas e todos com as poesias guardadas nas gavetas.

Josuel Medrado considera que o extremo sul de São Paulo é a região onde acontece a maior produção popular de cultura, independente de patrocínios, governos, etc.



“Teve a produção cultural autoral, com os Racionais MC´s , depois disso foi a Cooperifa que possibilitou a disseminação do pensamento acerca dos saraus e de diversas atividades artísticas na região”. 

Aos poucos, a ideia foi ultrapassando as fronteiras de São Paulo e atualmente existe o sarau Bem Black, em Salvador, o sarau do Coletivoz, em BH e o saral do Bezerra, em Porto Alegra, todos inspirados na experiência da Cooperifa. “Não é só aqui na nossa quebrada, porque isso vai borbulhando”.




Formação cultural

Atualmente, A Cooperifa possui relações e produz cultura para vários cantos do país. “ É muito comum encontrarmos pessoas de outros estados e até outros países que vieram acompanhar o sarau.

“Aqui, nunca pensamos em salvar ninguém, é a cidadania através da literatura. A gente transforma o cidadão que muda a comunidade”, explica Vaz. Ainda há o Cinema da Laje, onde filmes e documentários de cineastas da periferia são exibidos na laje do Zé Batidão. Além disso, A Cooperifa organizou quatro edições da Mostra Cultural.


O poeta Valmir Vieira, freqüentador há nove anos, conta casos em que, após participarem do sarau, poetas voltaram para a escola. “É um trabalho de difusão da literatura em um país,  onde até as escolas não valorizam a leitura”, opina o escritor Rodrigo Ciríaco.


Também é muito freqüente histórias de pessoas que começaram a escrever após freqüentarem a Cooperifa. Esse é o caso dos poetas Delurdes e Luciana, que frequentam o sarau há seis ou quatro anos, respectivamente. “Fazia algumas poesias antes, mas comecei a escrever de verdade depois que vim aqui. Tinha medo e vergonha de expor as poesias, passei um ano até começar a declamar”,  conta Luciana.



“Sou daqui, mas não conhecia o universo literário que a periferia tem, como se a gente morasse dentro de um casulo e não conhecesse nada ao redor e de repente a Cooperifa me abriu o mundo”, relembra Delurdes.


" A gente veio na esteira do hip hop, que já tinha dado o grito,  já tinha lançado a ideia da periferia, e começamos a ter noção do nosso pertencimento, que a ideia não era se mudar da periferia, mas sim mudar a periferia”, observa Vaz.


Para Márcio Batista: “Rompemos uma barreira muito grande, de produzir cultura de periferia na periferia mesmo e se manter ali. Não precisar sair daqui para ir a um grande centro e ter visibilidade”.

 (Da Reportagem de Otávio Nagoya).

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