sábado, 10 de dezembro de 2011

O Português Brasileiro

 

 
Algumas vezes nesse espaço foi falado sobre Oswald de Andrade, Mário, Carlos Drummond, Adoniran Barbosa, Noel Rosa,... Com o intuito de procurar entender o que seria uma tal “língua brasileira”.

O primeiro movimento de busca de uma literatura mais autônoma no Brasil foi o romantismo. Mas, na maioria das vezes, celebrava-se nossa exuberante natureza e nenhuma pesquisa viável sobre cultura propriamente dita chegava a ser feita, ou bem era ignorada.   Em José de Alencar, a natureza brasileira representa o paraíso, mas  tal "Éden"  só seria completo em casamento com a cultura do colonizador.


Lima Barreto, pré-modernista, consumou uma linguagem mais despojada, a ponto de ser tratado pelos monarcas da língua de então como escritor de incorrigível desleixo. Além do mais, negro. Hoje, percebe-se,  encontra-se entre nossos melhores.

Machado de Assis, igualmente mulato, “se escondia” atrás de um narrador de certa casta brasileira. 


Sua narrativa era a voz de um protagonista casmurro, volúvel, incapaz de lidar com certas situações  como a de , por exemplo, aceitar viver, sem dramas de consciência, com uma mulher que chegara a estabelecer amizades com homens (na obra Don Casmurro).

( Muitas ainda confundem o narrador com o escritor, tal como a crítica Pauline Kael fez em um texto sobre "Rastros de Ódio", chamando John Ford, o diretor da obra, de racista, pelo fato de seu protagonista sê-lo em demasia.  Qual seja, não soube separar o cineasta do personagem doentemente obsessivo).


Com o Modernismo propriamente dito, milhares de arestas deixadas por românticos, parnasianos e etc. seriam ironizadas e limadas.  Sem o esforço, talvez não houvesse Graciliano Ramos, Carlos Drummond, Murilo Mendes, Clarice, Guimarães Rosa, entre outros e outras.


Contudo, com o empenho grandioso de autonomia e pertinência de um linguajar, não conseguiríamos escapar ainda de Marquês de Pombal em muitas esferas, desde que o mesmo impôs uma língua oficial, unificada e lusitana para o Brasil.  Simultaneamente, o mesmo marquês que dinamitava a educação brasileira, ao empregar professores na base do “espontaneísmo”, em que o critério era a falta de critérios.





Um tanto por conta isso, nossas petições são mais demoradas, nossos exercícios jurídicos morosos, etc.  Somos um país de burocracias infindáveis e tudo isso, claro, passa pela língua, já que a mesma significa poder.


E, no caso formal-formalista, marca de “status”, reconhecimento social.


Brasileiros sempre buscaram marcar sua distinção pela língua, em que profissões ditas “respeitáveis” exigiam uma mimese (cópia)  do léxico mofoso pombalista.
Ou seja, quem falasse mais para “brasileiro do que para português” (Noel Rosa) sinalizaria seu locus de “cozinha da nação”.

Nos anos 50 e 60, com a brecha de ditaduras anteriores, como a de Vargas, o país experimentou um imenso crescimento cultural: música, teatro, arquitetura, cinema, em que muitas das lições modernistas passaram, enfim, a serem incorporadas por artistas e outra parte da população. Mesmo que antes disso, músicos como Noel Rosa ou Lamartine Babo, em plena ditadura anterior, exploravam a autonomia e abertura nos modos de se expressar.


Em 1964, houve -pra variar um pouco- outro golpe militar e, posteriormente, um terrorismo mais acirrado, com a instalação do AI-5 em 1968. Tornaríamos, com isso,  a regredir para o oficialesco oligárquico, em nome da “integração e da segurança nacional”.


Com Médici no poder, a educação era redinamitada, em busca de um modelo industrialista de fragmentação dos saberes mecanizados, entre outras “intempéries inócuas”, como diria algum dicionário bestialógico.



Com o advento das Diretas (nem tão diretas assim, por obra e graça de nosso colegiado eleitoral), assumiria o oligarca José Sarney como presidente do país, com seu linguajar bacharelesco. O mesmo-mesmíssimo político do outrora partido único da ditadura.



Afinal, falamos Português, mas não nascemos em Portugal.  Nossa região é muito maior, composta por uma população muito maior e mais diversificada. 

Nosso português ganha contornos distintos do de  Portugal, como o provam a literatura de Carlos  Drummond, Guimarães Rosa, Noel Rosa, Lamartine Babo, Clarice Lispector e, claro, a própria Ciência da Língua- a chamada Linguística, a questionar os moldes dessa  gramática normativa que herdamos de Marquês de Pombal. 

E quanto tempo já tem isso mesmo? "


 A.C.

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