quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Em Sala: O Imperativo da Imagem depressiva




Maria Rita Kehl:


“Uma hipótese é de que aceleração de nossa experiência do tempo produz o esvaziamento da vida psíquica. E as pessoas que não estão deprimidas no sentido clínico podem estar se queixando desta mesma sensação de vazio e falta de vontade de viver.
 
Esse sentimento corresponde a uma vivência que é quase reduzida a uma experiência permanente de você responder a estímulos.

Nesse sentido, se houver cura, provavelmente uma experiência possível de desaceleração poderia promover, a médio prazo,  que algo da vida psíquica pudesse se recompor. Porém, essa aceleração não depende tanto da pessoa querer ou não: está inscrita no ritmo do capitalismo contemporâneo.


Claro que a alta competitividade no campo profissional estimula as pessoas à aceleração. Vivemos respondendo aos desafios, às demandas, aos estímulos e ao que esperam de nós. Então você pode falar nesse esvaziamento na medida em que se começa a responder aos “padrões”. 

Embora seja paradoxal, porque vivemos em uma sociedade muito livre, no sentido de que não há uma imposição de forças sobre as pessoas, uma imposição rigidamente moral.

 Não há uma sociedade muito religiosa, militarizada, mas há uma imposição da imagem. E a tentativa de responder permanentemente a essa imposição de imagem é vivida como um impositivo.
  

E talvez a depressão, em relação a isso, sofra o pior tipo de culpa, que é a culpa por não conseguir obedecer ao preceito que aparentemente lhe seria favorável.

O que é distinto da culpa que o sujeito sente quando contraria seus impulsos: uma moral rigidamente repressiva, por exemplo, que não permite o prazer. O sujeito se sentiria culpado por não responder, mas de certa forma perceberia que é uma moral que vai contra seus impulsos.




Hoje a moral aparentemente vai a favor. Você TEM que se satisfazer, ter tudo de bom: objetos, sexo, lazer e, ao mesmo tempo, subliminarmente, todo esse tempo é atravessado pelo tipo de ritmo do tempo do trabalho.



 Vamos pegar o exemplo da publicidade, que é muito boa como analisadora da cultura.

Como é que os bancos fazem publicidade?  Não mostram o sujeito numa fila, nem num escritório, num lap top, preocupado. Motram o sujeito numa rede, numa ilha paradisíaca, ligando para o banco a fim de pedir como aplicar melhor o dinheiro.  Do tipo: “Se você perder esse bonde, você ficou pra trás”.

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