segunda-feira, 9 de julho de 2012



"Marnie", de Alfred Hitchcock, como lugar dramatúrgica da obra é uma personagem frígida. 

Mark (Sean Connery) é aquele que deseja possuí-la. Neste caso, torná-la mulher e curada de seus traumas.

Na dimensão estético-cinematográfica, Marnie incarna o imponderável da Beleza, da obra de arte.





Ora, em muitos Hitchcocks as imagens se acumulam umas sobre as outras, em contra-luz. O desafio para Mark será, pois, o despir cada uma dessas camadas para se chegar à mulher.

Para tanto, necessitará submetê-la ao Real, desnudando-a física e espiritualmente e, assim, poder chegar a alguma luz .  Ou seja, possuir a obra de arte, mas, sobretudo, a mulher. 



Trata-se de um exercício de quase desmodelamento: a cena final, em flashback, filmada com a câmera bem distante dos seres e dos objetos, e de maneira disforme,  já anuncia certas experiências de seu herdeiro,  Brian De Palma.


Nesta "grande obra doente", nas palavras de Francois Truffaut- assim como Marnie é a obra de arte problema para Mark- se dará o difícil encontro entre o Imaginário e o Real, como o lugar, por excelência, do cinema e do amor.

Desse equilíbrio difícil, Hitchcock nos legou um de seus melhores trabalhos.

2 comentários:

  1. 'Marnie' inclusive considero um filme sinfõnico e o mergulho na alma de uma mulher atormentada é, também e sobretudo, uma exasperação da crise interna de um artista como Hitchcock.

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  2. É mais ou menos o que quis dizer a respeito desse "difícil equilíbrio" entre Real e Imaginário.
    Aqui as coisas são mais dilaceradas e apontam para novas experiências do cinema.
    Como o feedback disforme, de árdua representação ( impossível?), que me lembra, entre outras, as experiências que De Palma faria em "Sisters".

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