terça-feira, 26 de julho de 2011

Carta aos amigos professores- a partir da sessão do filme " Cidade de Deus"





A julgarmos por um histórico de telenovelas, jornais (teles ou não) e por muitos filmes nacionais( mas não somente), o pobre ou negro no Brasil sempre foi condicionado a ser visto como “coitado”. Ou, pior, como alguém perigoso, um Et indigno de confiança.

Mas quase sempre é ele que comparece a ameaçar nossa bolha pretensamente bem montada, como habitat físico, psicológico, místico, cultural, etc.

Quando certos ricos ou a dita classe média decide tematizar o “social”, a tendência é das coisas se inverterem. E, como no caso do filme "Cidade de Deus", impõe-se uma espécie de videoclipe do horror, entre blindagem extrema de proteção- de um lado- e extremado terror- de outro.

São eles ( eles "Quem?" ) uma categoria de Outros, a nos ameaçar em nossa previsibilidade pseudoracional e emocional.

Telejornais e cia enfatizam a violência em favelas, como reiteração de estereótipos. Mas como nada é problematizado em suas imagens e sons, não haveria "história", processos. Mas tão somente destinos, fatalidades.

Se, por um lado, teríamos, com isso, a cultura do pânico, do autocentramento sombrio. De outro lado de uma mesma moeda, um anestesiamento em aparelhagens de anulação históricohumana, uma vez que esquizofrenia e autismo sociais são doenças que demandam remédios (drogas, bebidas, videogames, taras) diante da alienação na multidão, da falta de algum comprometimento por quem quase somente absorve suas enevoantes substâncias provenientes de (hiper) conexão prolongada.

A tv, como bem dizia Paulo Freire, esforça-se por nivelar passado, presente e futuro- esse mesmo que, virtualmente, comparece como já dado, pronto. Frente a isso, como estar disponível a processos de descontrução ou reconstrução?

Hoje observamos um tipo de renegação do passado, como se dele proviessem tão somente "nostalgias". Afinal, “nessa época eu nem havia nascido”, uma vez que o mundo começaria a partir de meu umbigo, como no da eterna criança ou adolescente.

Como se instantes e processos não se cruzassem, se reabsorvessem, enquanto nosso “tão novo” se torna, em mesma velocidade, gagá: um produto novo-velho.

Diante disso, podemos nos refugiar em variações cosméticas- reais ou virtuais-, ao passo que o tempo e suas reelaborações de “identidade” até pudesse nos passar batido. Como se não houvesse história pessoal.

E cínicos, acomodados, estivéssemos com nossa Santa Razão ou nosso niilismo congelados em movimento multicircular, como o cachorro a comer seu próprio rabo.

Não falo aqui em revoluções, como, por exemplo, a dos anos 60. Mas a favor de algo que, não nomeado, seja contra a estagnação educacional.

No caso de professores, por certo estudo, sem prévia fragmentação. De artistas, por pincelamentos.

De intelectualistas, por vida. De mídias, por menos desinformação.

De religiosos e partidaristas, contra fundamentalismos.

De esotéricos, por argúcia crítica.

De céticos, por maior entrega e abertura a “algo mais” ou menos.

Por uma desautomatização do olhar, dos ouvidos, contra certas receitas de explicação para tudo ou acadêmicas teorias do "hiper-racionalismo" , ou do bode.

Desaprendendo tanta coisa, podemos entrever nelas certas brechas, e quem sabe nisso, o inusitado. O "simples" ?

Nada disso é, para como se diz, mudar o mundo. É tão somente uma carta de blog.

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