sábado, 5 de junho de 2010

Atentos aos lançamentos(notas)







Dentre eles:

Lola, a Flor Proibida:

Estréia mais do que promissora do cineasta francês Jacques Demy em um longa.
O diretor faria grandes musicais, tais como Duas Garotas Românticas, Os Guarda Chuvas do Amor e Pele de Asno.
Lola não se assume dentro do “gênero” citado, mas pelo tipo de ritmo e de enquadramento empregados, junto a algumas avulsas canções, não deixará, de certa maneira, de ser um deles. Sua primeira obra pode não ser perfeita ou ir tão longe como alguns desses, mas é, no mínimo, admirável.

Clamor do Sexo, de Elia Kazan:

Filme admirado e, na mesma medida, tratado hoje com certa indiferença ou incômodo.
O diretor levou a um máximo a tensão entre “naturalismo” e romantismo, tal como entre teatro e cinema (essa última era praxe sua ).
Tudo parece dilacerar junto aos protagonistas que não suportarão a pressão de papéis predeterminados e contraditórios sobre seus corpos. O primeiro alquebrado será Warren Beatty,cuja perna não se sustentará ao longo de um jogo de campeonato de basquete e, posteriormente, sua namorada Natalie Wood,que se sentirá,ora entre a necessidade de ser “santa”,ora de ser suposta “prostituta”. Papéis mui demarcados que provocam confusões e distorções em seus corpos e almas.

O naturalismo no filme é em um sentido de descrição maníaca de seres e de ambientes como em um Eça de Queiroz. E o romantismo encontra-se nas paisagens fotografadas, entre o lírico e o esmaecido, a evocar o poema de Woldsworth, citado por mais de uma vez na obra.
Como Juventude Transviada, seu filme primo, a água desempenha papel central, a exprimir desejos e sonhos represados, junto à dimensão de abismo incipiente de afogamento do ser. Há um estudo da insanidade da América, em que se transporta o mal estar do período da Depressão dos anos 30 para o contexto dos anos 50 até o início dos 60,em que o filme foi,de fato, realizado.
Há um momento em que, internada, Natalie Wood pergunta ao amigo, futuro marido, sobre o quadro que ela acabara de pintar, ao que ele, mais ou menos, responde: ”Não precisava ser tão direto”. Nisso, ambos olham para a câmera, para as objetivas inclinadas, a se situarem de maneira oblíqua no plano, o que provoca uma leve distorção no olhar. Em seguida,chega à clínica a mãe da moça e enquanto espera Natalie na sala de estar do recinto, fita, um tanto quanto constrangida, um quadro modernista, para além de descentrado em sua forma.Ou, por outra, é o “insano” quadro que a contemplará.Duas provocações em seqüência, feitas pelo mesmo filme.

Em uma obra de desintegrações de papéis e consequentes resignações, Elia Kazan monta um jogo de quadros espelhados, em que uma época refletirá a outra, em que um olhar duplicará outros, enquanto todos se igualarão em um mesmo sentimento de mal estar e de “insanidade”. Inclusive, talvez, o próprio diretor.

O Intendente Sancho, do cineasta japonês H. Mizoguchi e Europa 51, de Roberto Rossellini dispensam, ao menos por ora,comentários. Há um Renoir imperdível como recém-lançado; O Testamento do Doutor Cordelier,o que ficará para uma próxima oportunidade.

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