domingo, 26 de julho de 2009

Nas Sombras do Som e da Imagem


Ainda dentro do frisson Michael Jackson em que muitos que o atacavam chegam agora a condecorá-lo como semi-deus, o "Rei do Pop" e muitos que mal o conheciam se auto-declaram agora seus fãs... Até onde sei, esse negócio de "Rei do pop" não passa de uma invenção do próprio Michael que não era tão Rei do Marketing quanto a Madonna, mas nesse ramo também se saia muito bem. Ou seja, a mesma mídia que o escurraçou, agora tem participado do espetáculo masturbatório em torno da morte daquele que morto já se encontrava há tempos.
Não existe "Rei da pintura", Miles Davis ou Louis Armstrong não são tidos como "Reis do Jazz"( nem Bach ou Beethoven o são da música erudita). Já na intensa e, hoje mais do que nunca, supra-organizada cultura de massa, já houve o rei do rock(Elvis), há o Rei Roberto...Todos lidando muito mal com esse trono em que foram alçados( por quem, afinal?) a "Reis pops" de uma cultura que exige uma enorme renúncia de seus homens para que adentrem seus papéis. Do tipo, vamos jogar no ar pra ver o que que dá já que súditos sempre existirão ao máximo ... há até os súdito, guardadas as devidas proporções, da chamada "Rainha dos Baixinhos".
Eu quando baixinho, quarta série do ainda chamado ginásio, ouvia tanto Beatles que para mim, MJ não era ninguém. Com o tempo descobri que ele havia feito o Off the Wall. Feito claro, ou bem "co-feito", já que o verdadeiro autor sempre pareçeu ser o Quincy Jones, que já havia produzido musicalmente Sinatra e Aretha Franklin.
Como bem disse meu amigo Daniel, é lógico que aquelas linhas de baixo de Billy Jean não foram obras do Michael. No entanto, MJ ganhou uma enorme projeção na Era MTV, era um autêntico showman, dançava muito( seu grande talento, de fato). E dançou muito num período em que o diretor do filme Irmãos cara de Pau (John Landis), cujo talento estava no auge durante esse período, projetou com uma espécie inegável de inovação nos videoclipes o "Lobo Michael".
Em Bad ele contou, em uma enorme produção para videoclipes, com a grandeza do talento de Martin Scorsese, que já havia feito e ainda estava fazendo coisas geniais( Taxi Driver, O Rei da Comédia, O Touro indomável...). A projeção em massa via videoclipes atingia seu auge e a MTV não seria nada sem Michael, nem ele sem ela, provavelmente. Pelo menos não o ícone Michael Jackson, que aos poucos foi se acomodando musicalmente e se centrando mais e mais em se "limpar" de seus fantasmas( em Thriller ele ainda era seu próprio fantasma, seu "Lobo Noturno").
O fato é que o showman conquistou um espaço nunca pensado para negros em "horário nobre" em plena América, bem depois de ter enfiado com os Jackson Five músicas em primeiríssimos lugares nas paradas ditas "brancas". Abriu portas e o resto, como se diz, é lenda.
E Michael foi se ocupando em "limpar-se" do Espelho Devorador de proliferantes lobos assassinos, se mantendo progressivamente mais e mais num Castelo fechado, abrigando-se em seus condomínios fechados sem nenhum contato com o "Mundo impuro", com o "Real World", morando em sua Disney particular e em suas máscaras de gelo. E dá-lhe remédios, já que a obrigação de um astro, além do mais, é ser um corpo perfeito, estar sempre no auge da forma, tendo sua sauna particular(Naverland) cobiçada por tantos...os mesmos cobiçadores que optaram por um acordo milionário frente à acusações sobre um suposto lobo devorador. Bem, devorador ou devorado?
Depois de ter contado com o impulsionamento da "sereia negra" Diana Ross, Steve Wonder( esse sim, um gênio da música), Quincy Jones( seu produtor) e até, quem diria, Paul McCartney( outro gênio incontestável do pop, provavelmente o maior deles), passou a contar com sua própria auto-(in)suficiência rodeado de sangue-sungas por todos os lados, os mesmos lobos dos quais quanto mais ele parecia correr, mais o seguiam como essas sombras que permanecem até hoje no pós-morte, nessa mutação final de lobos.
Com muita influência de Fred Astaire e James Brown, Michael impõs sua dança para o mundo todo, muito embora morrendo longe do mundo em uma espécie de "sacrifício final", em que muitos agora elaboram sua cínica e demagógica "mea/culpa". E vendendo mais hoje do que à época de Thriller( o mais vendido disco, mas não o seu melhor).
Ao contrário do que disse um de de seus irmãos no "velório/espetáculo", Michael: nem agora te deixam em paz.

PS. Um bocado saturado do frisson, deixei uma foto de um verdadeiro Gênio da música, Marvin Gaye, em sua obra-prima "What`s going on".


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