terça-feira, 4 de maio de 2010






Dando prosseguimento à questão dos "homens comuns",uma breve orientação sobre Marcas da Violência-nem tantos assim o compreenderam(sequer,por vezes,o básico).Por isso,o comentário aqui, como uma pequena ficha a quem se interessar.



Pelos cortes rápidos, entre outros fatores, o filme apresenta algo de western.O gênero citado era pautado pela investigação,ainda que mítica,da formação cultural norte-americana.

Marcas da Violência no original se chama A History of Violence, de onde se infere que o filme estabelece uma relação entre violência e pressupostos culturais de constituição de uma nação. Como no caso de uma família.

Trabalhando a partir de uma história aparentemente mais convencional que outros de seus filmes, Cronenberg atrapalhou a vida de muita gente. Tratou de buscar, com senso de justeza, o estranho menos explícito enfronhado na vida de um cidadão comum. Para tanto, fez com que a limpidez da imagem explorasse potencialidades insuspeitas, de maneira que cada rosto e ambiente carregasse uma voltagem a mais de ambigüidade, de mistério.

Por essa dimensão de um comum levemente se torcendo, com cortes rápidos de western, a ação é filmada em detalhes congelados, a provocar algo incômodo, podendo remeter o espectador a seu próprio gosto por certos filmes de ação. Sobretudo em uma radiografia de cadáveres literais e culturais postos à mostra.

Há uma cadeia de violência-de passado e futuro, de pai a filho-, no filme, de laços socioculturais, mostradas sem a necessidade de recorrer à “profundidade” psicológica ou a outro recurso do tipo. Saberemos que o protagonista apresentava outra identidade, mas não muito mais do que isso.

O filme prioriza os rostos de maneira que as falas quase não emplaquem em seu desenrolar. Nesse sentido, o final seria a prova dos nove, com uma tensão e distensão entre familiares em uma mesa de jantar a evocar o peso de um duplo sangue: o de violência e o familar. Percebe-se, pelo enfoque de um estado possível de comunidade, uma evocação longínqua do western restituído à contemporaneidade, enquanto os demais momentos carregam uma carga física, um peso nada distante dos códigos desse gênero americano, adaptados a um mundo de dúvidas e problematizações.

Cronenberg não trapaceia. Desde o início da obra nos entrega um tanto do estado do espírito planejado, para somente depois nos instalar em um modo de vida mais pacato. Dele, procederá a um exame cuidadoso e sugestivo do “normal” a partir do mais comum, do “convencional, levantando, com limpidez e mistério, dados de um histórico de vida, de uma nação e de uma cultura. De filmes,inclusive.O seu é insólito-a um tempo incômodo e terno.

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