sábado, 25 de dezembro de 2010

Escolhas e Controle








"E então é Natal, e o que você fez?

Aumentei desproporcionalmente meu salário- claro- como naquela música do Ira: "eu quero sempre mais de ti". Assim deu pra comprar mais presentes para toda a família e minhas amantes. Lembram-se de "Se meu apartamento falasse", de Billy Wilder?

E quem sabe agora dar continuidade ao financiamento de novos tráficos, ao abaixar essa poeira toda, após termos (re)garantido o status do exército e cia, enquanto nenhum documento sobre os crimes da ditadura foi, ou é aberto no país. O Brasil oferece um tipo único de privacidade: o da democracia sem transparência.

Jogamos novamente um gelo na população, em nome da "segurança nacional" direcionada ao Rio de Janeiro, a oferecer nosso circo turístico de Copa e Olimpíadas ao restante do planeta. Investimos em publicidades solidárias, com seus shows globais, habituais, nos preparando, mais uma vez, para formar nossos melhores consumidores: as crianças! A rigor, nós é que as consumimos no bombardeio de imagens: Mônicas a anunciar seus produtos com a velha face da inocência.

E se por acaso alguém exigir uma legislação mais criteriosa para tanto, relembraremos que, com isso, estaríamos voltando à ditadura, não é mesmo? Mesmo que a maioria dos países da Europa já tenham adotado tais critérios, sem serem acusados, por isso, de ditadores. Mas para quê, já que temos tantas escapadelas em nossas mágicas mangas?

Começamos com o "céu" da imagem inocente de personagens infantis, desde que Xuxa rachou o mundo lúdico nacional em dois tempos, inaugurando a Era das Paquitas. Daí para Tchans e Axés, e a nova imagem da "mulher liberada" enquanto objeto de mercado, até "Malhação"- a subnovela que criamos para lançar nossas modas instantâneas. E claro está que, quem não entra na festa, estará de fora da "turma da Mônica adolescente".

Crianças e jovens devem se sentir "livres", ok? Livres para comprar à beça e- com muita angústia junto à bastante adrenalina compensatória- poder passar nos vestibulares da vida. Não sem antes passar pela escola mais adestrante, apadrinhada a dedo por pais e amigos.

Adolescentes precisam sentir essa "liberdade" a fim de afirmarem que, com míseros 14 anos, não são virgens, uma vez que, se disserem o contrário, poderão entrar na lista negra de linchamento, propiciada pelas amigas "mais avançadas" da escola. Daquelas que já participam do jogo de mercado do sexo programado. A internet, nossos banners e revistas muito ajudam com suas receitas de bolo, em que a imaginação já chega pronta em rápida e empetecada deglutição- ao menos virtualmente falando. Mas sexo é fantasia,pô! Nós só tiramos um pouco do trabalho deles em poder imaginar "per si", uma vez que nosso estoque industrial é tremendo, ilimitado e apenas mais explícito.

Para o tráfico, preparamos uma bela ofensiva contra os mais visados traficantes, uma vez que damos nossas Caras na revista de mesmo nome quando há convite. Nossas bundas, no entanto, permanecem em zonas privadíssimas. Quem sabe, assim, esqueçam esse negócio de remexer em torturas e mortes de "milênios atrás". Pra que revirar em público as nádegas de um país, por vias menos vistosas?

Pra que acompanhar países mais desenvolvidos, se lucramos tanto sendo assim, como diz outra música do Ira: " me vendem essa droga, nos proibem essa droga"? Aos "mais fracos": o mais atrasado. Mas não sem antes sofisticarmos nosso arsenal tecnológico de armas e contactos. Isso é que é uma supraorganização!

Roubamos até algumas ideias de republicamos que, em nome de um Bem maior e da democracia estabeleceram a relação prolífica entre provincianismo e altos requintes em festas privadas- como no filme "De Olhos Bem fechados", o último de Stanley Kubrick, que esteve por lá antes de morrer a registrar a relação entre Eros e Tanatos(pulsão de morte), poder e seitas, máscara e ocultismo: "Sociedade Secreta". Você, meu caro, só entra se convidado for, se pertencente à família x ou y, Real! Lembram-se quando Bush, Nixon e tanta gente "religiosa" se encontra, de quando em vez, em um campo para um belo de um descanso?

Somos escolhidos a dedo por nossos intocáveis deuses. Assim, constituímos uma multinacional na translação de uma nova era, superando em pontos e números a demagogia da Igreja Universal. Pois fingimos combater aquilo que mais amamos, financiando nossas indústrias, ao mesmo tempo em que compramos alguns policiais e políticos. Empurrando uma massa em completa anomia para substâncias, crimes, na mesma medida em que os combatemos, numa super organizada estratégia "esquizofrênica" direcionada para mirins, ou adultos igualmente esquizofrênicos, "perdidos".

Não venham agora com discursos moralistas, já que podemos nos encarregar dos mesmos em nossas mensagens de Natal de fim de ano. Estamos, como um bom Papai Noel, com o saco cheio delas e para todas as idades: da mais tenra à mais decrépita- em sua sede de juventude e medo da morte. Dessa morte que nos é tão cara".

(Carta enviada a mim por um dono de uma grande empresa, que mantém fortes relações com certos setores da política nacional e internacional).

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