quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Notas



Obrigado pelo comentário abaixo, Garrel, pois que ontem à noite estive pensando algumas coisas quando saí com alguns amigos, e daria agora para puxar o gancho. Trangressão(ou não trangressão) é um dos termos da moda. Pior do que ele é "alternativo".

Fingimos ser chiques usando o marketing pessoal do "alternativo", embora não saibamos bem o que isso hoje seja, de fato, após a "alternativez" já ter se tornado mercado, com o cinismo a tomar conta. Perdemos o bonde da história com rótulos paridos nos 60. Há a esquerda festiva caduca, junto aos cinismo da direita festiva autoindulgente.

A palavra de desordem-ordem da tribo em questão é contestar. Não são, a rigor, de ação, mas de reação. Gostam de "provocar" enquanto nada produzem, a viver de esquizofrenia e autismo.

Ontem saí com uma turma de psicólogos existencialistas que me disseram que a bissexualidade seria uma boa, embora não vivam a mesma no dia-a-dia. Consideram que dizer isso, por si mesmo, possa significar contra-cultura.

Quando a "cultura" ainda não foi assimilada no país, falar em contracultura soa engraçado- logo hoje, em que o mercado é feito para todas as predileções. Como bacana é o cara que se considera da trupe "sexo, drogas e rock and roll", mas não pega ninguém, não fuma maconha, e nem tampouco exibe seus dotes musicais rockeiros. Chegando a idade, começa a carregar o ranço dos instintos não satisfeitos na adolescência.

Falei aos amigos psicólogos: até estudei piscologia, mas naquela época "não havia pego" nenhuma mulher e em uma cultura rigidamente patriarcal acabei partindo, de vez, para as tentativas de conquista. Enfim, quando consegui pegar a primeira, a bissexualidade já havia se tornado moda, de forma que perdera a graça ser parte integrante da "contracultura" sem cultura, ou da sexualidade sem vivência.

Ah, desculpem a digressão: Lembrei do Lobão por esses dias. O cara que foi porta voz de primeira na luta pelo barateamento dos cds em um embate, de início, ingrato contra as grandes gravadoras. Muitos, claro, protestaram. As corporações não abaixaram a bola dos preços, e hoje sabemos que, com ou sem Lobão, perderam a guerra para a pirataria. Digo isso, pois considero Lobão um bom político, melhor do que artista. Ele que adora criticar bossa-nova e cia.

Nesse ponto, é como o "alternativo" de hoje e seus marketing. Só reage, pois sua obra não suportaria a comparação com a dos músicos que ama execrar, o que já virou hobbie de quem sente muito tédio e despeito. Lobão, ao contrário de muitos, talvez não sofra de recalque sexual. Bossa-nova continha muita chatice, mas o que havia de bom deixou um enorme legado estético, não somente pelas obras dos criadores envolvidos, quanto pelos grupos que posteriormente surgiriam, inclusive os ligados ao rock. Ou seja, estética e política, no caso do discurso de Lobão, não combinam. Lobão guarda recalque do sucesso, junto ao primor estético que nunca atingiu em suas músicas.

No começo do novo milênio, Suba apostou na modernização de nossa música, reutilizando a bossa-nova, o que não se daria somente no Brasil, pois há outros exemplos.


A última "digestão",se me permitem- digressão: Passei hoje os olhos pela lista da Rolling Stone sobre as melhores músicas do pop. Dos Beatles, por exemplo, entre "coisas boas" há obviedades mais tolas como Can´t buy me love ou Ticket to Ride.

Precisavam ter "caprichado" tanto nesse lado A? Pois que You never give me your money, She´s leaving home, Sexy Sadie, entre tantas outras, nem pensar? O pop é a cultura que mais desperta mistificação, pois os caras que escrevem a respeito parecem só ouvir o "gênero" a vida toda. Já merece estudo, para publicações melhores.

Concordo também que a MPB tenha se tornado uma espécie de instituição quase intolerável. Contudo, só saber separar as coisas, ouvir mais músicas. Viver e estudar um pouco mais.

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