"Quando
a China era um furacão no universo do cinema, na virada dos anos
1980/1990, o nome de Abbas Kiarostami começou a surgir na Europa. A
China, vá lá. O Irã era algo mais inesperado.
Não era, até onde se sabia, uma cultura direcionada às coisas do cinema.
Não era, até onde se sabia, uma cultura direcionada às coisas do cinema.
Kiarostami foi uma dupla surpresa. De uma hora para outra, o cinema parecia ter ganho um novo Roberto Rossellini.
A elegância de seus planos não tem nada a ver com um cinema inculto. Revela um perfeito domínio das imagens.
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Kiarostami gosta de filmar itinerários. O filme que mais o influenciou foi A Estrada da Vida, de Fellini. E a Vida Continua já era um road movie turbulento. Ao longo do trajeto em que o diretor de cinema procurava um jovem ator com quem havia trabalhado anteriormente.
Essa intervenção do diretor não é narcisista. O diretor e o filme, seus trajetos e destinos, se identificam.
Ambos percorrem o país à deriva, topando com estradas intransitáveis, casas destruídas, pessoas que sobrevivem à catástrofe. O diretor toma o rumo que o filme toma e vice-versa. A realidade os arrasta. Não uma realidade que preexiste ao filme, mas que se forma junto com ele.
Esse caminho, Kiarostami percorre com elegância exemplar, sem nunca perder o sentido da beleza. Uma beleza cujo fundamento é o homem. Não se trata de um retorno puro e simples ao Neorrealismo italiano.
Mas a herança de Rossellini, de um cinema essencial, em que só se filma o necessário e em que se transita da realidade física do homem para a espiritual, estão lá.
Ninguém tenha dúvida: Kiarostami não é um desses meteoros exóticos, que fazem estilo, jogam poeira nos olhos do espectador e desaparecem sem deixar sinal.
É um diretor de cinema grande, simples. A retrospectiva com seis de seus filmes será, com toda certeza, um dos pontos altos da Mostra Internacional deste ano. "
( I. Araújo)
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