sábado, 1 de agosto de 2009

O Bardo (Parte 2)










Abaixo um dos melhores poemas de um dos maiores poetas do século XX:
William B. Yeats, numa bela tradução e, certamente muito trabalhosa, de Augusto de Campos (Para muitos, inclusive T. S. Eliot, Yeats era o maior).





Rumo à cidade santa


William Butler Yeats


VIAJANDO PARA BIZÂNCIO



(Tradução: Augusto de Campos)




Aquela não é terra para velhos. Gente jovem, de braços dados, pássaros nas ramas — gerações de mortais — cantando alegremente, salmão no salto, atum no mar, brilho de escamas, peixe, ave ou carne glorificam ao sol quente tudo o que nasce e morre, sêmen ou semente.
Ao som da música sensual, o mundo esquece as obras do intelecto que nunca envelhece. Um homem velho é apenas uma ninharia, trapos numa bengala à espera do final, a menos que a alma aplauda, cante e ainda ria sobre os farrapos do seu hábito mortal; nem há escola de canto, ali, que não estude monumentos de sua própria magnitude.
Por isso eu vim, vencendo as ondas e a distância, em busca da cidade santa de Bizâncio. Ó sábios, junto a Deus, sob o fogo sagrado, como se num mosaico de ouro a resplender, vinde do fogo santo, em giro espiralado, e vos tornai mestres-cantores do meu ser.
Rompei meu coração, que a febre faz doente e, acorrentado a um mísero animal morrente, já não sabe o que é; arrancai-me da idade para o lavor sem fim da longa eternidade.
Livre da natureza não hei de assumir conformação de coisa alguma natural, mas a que o ourives grego soube urdir de ouro forjado e esmalte de ouro em tramas, para acordar do ócio o sono imperial;
Ou cantarei aos nobres de Bizâncio e às damas, pousado em ramo de ouro, como um pássa- ro, o que passou e passará e sempre passa.


William Butler Yeats


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