sábado, 22 de agosto de 2009





O outro filme da revisão-Scorsese, O Rei da Comédia, que sempre foi um dos mais queridos por mim: Uma espécie de livre ensaio sobre a ânsia da fama.De Niro aqui foge ao estereótipo mais "viril" dos demais filmes. Não que não seja um homem propício à violências mil. A primeira delas, segundo o filme, é a de viver sempre no universo do espetáculo, dentro ou fora do proscênio.
De Niro faz um clown de marca maior, mais Arlequim que Pierrô,sujeito a todos os delírios possíveis ou impossíveis de grandeza, um homem banal( pra se dizer o mínimo)que se vê como Rei.A chave de Scorsese é a da ironia maior, roçando sempre um certo horror do "vazio" como sutil denúncia dos tempos. Poucos filmes de Scorsese são tão atuais. O que há de mais atual que a boçalidade tornada púlpito de "reis" e rainhas"?
Por outro lado, será que a personagem vivida por Jerry Lewis sequestrada pelo "futuro rei" de Niro seria tão inocente, ou aquilo que o cômico vivido por Lewis mais tema seja justamente o que talvez não passe de uma descarga( com o perdão do trocadilho)de uma matriz igualmente demente? Qual seja, a lógica televisiva.
Sem maiores especulações, o que importa é que essa atitude de amordaçar o rei Jerry Lewis não passa de uma espécie de obediência ao "comando de Maquiavel", o Príncipe: "os fins justificam os meios", o que traduzindo para o contexto do filme não passaria de:os fins justificam os "mídia". O que importa para de Niro é chegar lá.
Por outro lado, por seu aliciamento hipnótico, a mídia não deixa de representar um certo paternalismo.De Niro ainda vive com a mãe, sendo a criança.Não há resquício de uma figura de pai em seu lar. Logo, Jerry Lewis, o raptado, não passa de um Pai simbólico e a atitude brutal do protagonista é meramente reativa frente ao poderio de Papai,mas de uma violência afim à violência própria ao aliciamente midiático(sempre brutal em sua constituição).
O Rei da Comédia aborda com muita ironia uma violência entre grupos e mesmo gerações.Com o sucesso final desse "louco personagem", o que se dá é uma substituição de poderes em novas moedas. Ele agora será o novo Príncipe da mídia. Sua molequice se adequará perfeitamente a esse veículo com idade mental e emocional a um tempo cínica e estagnada.
É sabido que Scorsese recusou inicialmente esses script até o momento em que viu como aquilo tudo era perfeitamente coerente com a mentalidade televisiva e da fama dos "novos tempos". Por esse lado, Jerry Lewis talvez represente também a genial comicidade do próprio Jerry Lewis que estaria infelizmente "defasada" frente ao reino do cômico freak, grotesco, tornado mitificação, mercadoria,etc.
A rigor, Scorsese evita qualquer estado de espírito que envolva alguma nostalgia.Seu filme é lúcido, bem humorado, com essa ironia que beira o terror, mas sem ceder para nenhum "outro lado".Nesse difícil equilíbrio, entre o mais áspero e o mais irônico e bem humorado é que se dá o fino jogo de O Rei da Comédia, disposto a uma brincadeira/ diálogo inteligente e honesta com o espectador.
E é também por esse seu espírito de modéstia,de aparente despretensão que pode passar desapercebido que se trata, na verdade, de um de seus melhores filmes. E provavelmente o mais atual.

Nenhum comentário:

Postar um comentário