quarta-feira, 11 de agosto de 2010






Apesar de parte considerável das interpretações das músicas de Ary Barroso ter sido realizada por Carmen Miranda, o compositor favorito da moça parecia ser Assis Valente.Ao fruirmos ou observarmos uma letra de sua autoria,entenderíamos parte dessa afinidade.
Se Carmen foi importante referência para os tropicalistas nos anos 60: “Tons Zés”, Mutantes, Gilberto Gil, Caetano, Duprat,...,assim como Chacrinha e seu: ”Eu vim para confundir e não para explicar.Frase,a rigor, de autoria bíblica,atribuída a Jesus Cristo,será que a esse específico movimento ou desmovimento- como quer Caetano-da contracultura, Assis Valente teria passado meio batido?

Gilberto Gil havia sido seduzido pela batida inovadora de Jorge Ben-antes do mesmo tornar-se Jor-, que,à falta de conseguirem explicá-la,foi chamada pelo próprio autor como samba esquema novo,título da obra que mobilizara João Gilberto,viciado nos compassos do músico ao ouvi-los e reovi-los em rito diário.

Mas se a bossa nova de Tom Jobim, João Gilberto, Vinicius e, para quem queira, Jonny Alf, João Donato(... Carlos Lyra, Baden Powell e agregados),havia aberto espaço para os tropicalistas- como os últimos afirmariam-,o estilo influente,ao menos via Jobim,prolongaria Pixinguinha, Noel Rosa,Ary Barroso,Custódio Mesquita, Radamés Gnattalli,entre outros. Aliás, se fosse para ficarmos em Tom Jobim, o chamado sincretismo constituiu-se como intrépido, apesar da calma aparência. Um “continente musical”, de que nos fala o pesquisador musical André Diniz, pois haveríamos de falar também em Drummond, Guimarães Rosa, Dorival Caymmi, cancioneiro americano, jazz, os impressionistas clássicos, Stravinsky, Villa-Lobos. Uma síntese que teria tudo para não emplacar e que, de certa maneira, não parecia tão afinada à visão mais exotizada e maneirista do país, posteriormente proposta pelo Tropicalismo.

Esse já era um outro tempo, que pariria a poesia e o cinema marginais e,dentre eles,o referencial Bandido da Luz Vermelha,obra-prima do cinema brasileiro, provocada por Rogério Sganzerla frente aos anos de chumbo na ditadura.O maneirismo tropicalista torna-se compreensível quando instalado em uma dialética potência/impotência, mais do que pela montagem homem urbano/ rural ou ”alta” e “baixa culturas”,sobrepostas à maneira da poesia cinematográfica de Oswald de Andrade.
Se Jorge Ben e seu País Tropical,entre outras,poderia ser uma referência para o movimento,e se Carmen passou a ser incorporada ao tipo de turbilhão sonoro e imagético propostos,o que diríamos, em história e arte,de Assis Valente?

“Salve o morro do Vintém, pendura a saia, eu quero ver o Tio Sam tocar pandeiro para o mundo sambar,o Tio Sam está querendo conhecer nossa batucada, anda dizendo que o molho da baiana melhorou seus pratos, vai entrar no cuscuz, acarajé e abará. A Casa Branca já dançou a batucada, com ioiô e iaiá”.

O início da letra, composta talvez nos anos 30, continha a célula afirmativa de Tom e João, “os possíveis matrizes” do tropicalismo: “Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar o seu valor”.
Aliás, mais do que apropriado que a Carmen Miranda da fase pré-exportação, em seus rompantes de alegoria e intuição, o tivesse como compositor de predileção.

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