domingo, 8 de agosto de 2010

O Bicho indutivo






Segue um excerto de um texto aparentemente simples, mas oportuno. Pensei nele, de início, para os alunos do ensino médio. No fundo, como alguns ainda estão no fundamental (apesar da idade), pode servir a quem se interessar por.



“Tenho muito medo desse bicho. Ele vive matando. Prefere o sangue de crianças, trabalhadores, indígenas e pobres em geral. Seu lema é antigo e atual: ” Decifra-me ou devoro-te”. Sua base é o mercado. Seu negócio é vender. Por isso, trabalha com o desejo dos consumidores. ”E quem pensa a partir do desejo nunca tem o suficiente”, explica o professor Jung Mo Sung. Entre os efeitos mais notórios do bicho papão acham-se os seguintes:

Exclusão social:

Cresce a categoria dos considerados não-gente. Hoje, quem não tem poder econômico, não é. Os excluídos não contam por que, ao sistema, nada acrescentam. Por esse motivo, são tratados como coisas que falam. Expressão utilizada pelos romanos em referência aos escravos. Existiam as coisas que falavam e as coisas que não falavam. Escravos eram coisas que falavam, mas não eram escutados.

Culpabilização da vítima:

O sistema leva você a acreditar que todo fracasso é culpa sua. Quem não consegue competir, passa a pensar que ele é incompetente e que sua incompetência tem um preço. Quem se sente culpado, habilita-se a aceitar que deve pagar uma pena. E, quem é penalizado constantemente, vai perdendo a autoestima e dignidade. Quem perde a dignidade, passa a pensar que não tem direitos, e perde também a vontade de lutar.

Consumo ilimitado:

Hoje vivemos os efeitos de uma globalização sedentária. O capitalismo nos quer assim: Não críticos e ativos, mas ativistas (ou desocupados) ingênuos. Enquanto fazemos coisas, não paramos para pensar. E se não paramos para pensar, não questionamos. O ativismo tem seus agregados: a irritação, a angústia, existencial, a tensão, a intolerância, etc, levando à depressão, à doença e mesmo à morte. De tudo é salutar livra-se.


Não podemos imitar “o bicho que exclui, devora e depreda“.

(Dirceu Benincá, Doutorando em Ciências Sociais, PUC-SP).
dirceuben@gmail.com)

Pergunta: quais seriam as várias formas de exclusão, muitas desdobradas das já citadas?


“Não há uma sociedade muito religiosa, muito militarizada. Mas há uma imposição da imagem. E a tentativa de responder permanentemente a essa imposição é vivida como um impositivo. E talvez o depressivo, em relação a isso, sofra o pior tipo de culpa, que é a culpa por não obedecer ao preceito moral que aparentemente lhe é favorável.

É diferente da culpa que o sujeito sente quando contraria todos os seus impulsos: uma moral rigidamente repressiva, que não permite o prazer.
O sujeito se sentiria culpado por não responder, mas de certa forma ele perceberia que é uma moral que vai contra seus impulsos. Hoje a moral vai “a favor”.
Você Tem de se satisfazer, ter tudo de bom: sexo, objetos, lazer e, ao mesmo tempo, subliminarmente, todo esse tempo é atravessado pelo ritmo de tempo do trabalho”.

(Maria Rita Bicalho Kehl


Dicas de alguns filmes:

Um Retrato de Mulher(Fritz Lang)
Scarlett Street(Fritz Lang)
Um Corpo que Cai(Hitchcock)
Crash,Estranhos prazeres(David Cronenberg)
Videodrome(D.Cronenberg)
Casamento ou Luxo(Chaplin)
Tempos Modernos(Chaplin)
O Professor Aloprado(Jerry Lewis)
Errado para cachorro(Frank Tashlin)
Sabes o que quero(Frank Tashlin)
Em Busca de um Homem(Frank Tashlin)
Blow up(Michelangelo Antonioni)
ShowGirls(Paul Verhoven)
O Crepúsculo dos Deuses(Billy Wilder)
Se Meu apartamento falasse(Billy Wilder)
Adeus,Amor(George Sidney)
Falsa Loira(Carlos Reichenbach)
O Dinheiro(Robert Bresson)
A Turba (King Vidor)
O Absolutismo(Roberto Rossellini)
Amarga Esperança(Nicholas Ray)
Elogio ao Amor(Jean Luc Godard)
Prenome Carmem(Godard)
Cassino(Scorsese)
Os Bons Companheiros(Scorsese)
O Casamento de Maria Braun(Fassbinder)
Esse Obscuro Objeto do Desejo(Luis Buñuel)


Entre tantos outros.


Importante encará-los, primeiramente, como especificidade de obras, e não como ilustração de alguma teoria prévia de algum filósofo ou sociólogo. Afinal de contas são,antes, arte e não filmes de tese.


Claro que, um vez realizada,a obra não pertence mais ao autor ou tão somente a ele.Tão interessante quanto seria pegar programas televisivos,dos que pululam com mais força por aqui e acolá, levá-los para dentro de sala de aula e provocar novos olhares junto ao grupo.

Malhação seria um belo começo,pela capacidade de criar, descriar e recriar modas instantãneas, que mobilizam tanta gente alvoroçada nas ruas.Vários grupos se agregam por meio de cada grife lançada, que funcionaria, para eles,como atestado de inclusão e de pertencimento imaginários.
"Reconhecimento'' pelo espelho da bruxa do conto de fadas,tal como em Branca de Neve.


E as lojas que se virem- com e no tempo- para darem conta da fome.

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