
Nunca fui lá muito fã da Revista Bravo. Mas para informação ou para o que se nomeia como tal, é preciso estar atento. Nesse caso, sempre me pareceu haver algo de uma decoração cult, sob pretexto de cultura.
Num dia em que saí para dar um passeio - ou não era bem isso?-, sei mesmo é que decidi fugir de um trajeto padrão e acabei, enfim, por comprar a última edição da revista. Lou Reed na capa pareceu-me uma ótima pedida, uma vez que o Velvet Underground sempre esteve entre minhas bandas favoritas de rock/pop, ao lado de Kinks, Beatles ou Talking Heads.
A matéria sobre o dito bardo parecia feita para totais principiantes no mundo pop. Mas o que considerei complicado foi o fato do texto praticamente quase omitir Lou Reed de suas preocupações. A bem da verdade, omitiu.
Procurei o artista e encontrei somente algumas menções esquálidas a ele, bem do tipo: “a música x fala de heroína”, dando-me a entender que aquilo, por si mesmo, seria a ousadia em sua obra. Ou seja, saio da ilustração da capa - da dita linguagem fática-, de sedução e ,automaticamente, retorno à mesma, desprovido de alguma observação sequer sobre o estilo musical do ex-Velvet, ou de uma análise relevante de suas letras. As demais matérias ou dicas sobre música correspondiam ao mesmo que ler os encartes dos discos citados.
Num dia em que saí para dar um passeio - ou não era bem isso?-, sei mesmo é que decidi fugir de um trajeto padrão e acabei, enfim, por comprar a última edição da revista. Lou Reed na capa pareceu-me uma ótima pedida, uma vez que o Velvet Underground sempre esteve entre minhas bandas favoritas de rock/pop, ao lado de Kinks, Beatles ou Talking Heads.
A matéria sobre o dito bardo parecia feita para totais principiantes no mundo pop. Mas o que considerei complicado foi o fato do texto praticamente quase omitir Lou Reed de suas preocupações. A bem da verdade, omitiu.
Procurei o artista e encontrei somente algumas menções esquálidas a ele, bem do tipo: “a música x fala de heroína”, dando-me a entender que aquilo, por si mesmo, seria a ousadia em sua obra. Ou seja, saio da ilustração da capa - da dita linguagem fática-, de sedução e ,automaticamente, retorno à mesma, desprovido de alguma observação sequer sobre o estilo musical do ex-Velvet, ou de uma análise relevante de suas letras. As demais matérias ou dicas sobre música correspondiam ao mesmo que ler os encartes dos discos citados.
Mas há também um texto sobre o À Prova de Morte, de Quentin Tarantino, filme que somente agora estréia nos cinemas do Brasil. Já o tendo assistido, gosto até mais do que de seu último, Bastardos Inglórios. Esse último foi chamado de festivo, embora confesse que percebo mais desse estado de espírito no À Prova, como se nele não houvesse nada além do prazer de filmar, do metamorfosear abrupto das cores, a partir da absorção de rudes corpos por suas lentes.
Tarantino, dessa feita, menos cita ou reverencia do que incorpora o estado de espírito de certos filmes de cinemas abandonados do passado, como se fosse um dentre eles, enquanto, gradativamente, irá lhes sobrepondo um visual mais apurado, sem sacrificar a inicial e plena internalização, de tom bruto e espontâneo. Como esteta “de baixo para cima”, menos cínico do que afetuosamente rude, a imagem prolonga uma digressão a apontar desde as primeiras imagens pós-créditos levadas quase à exasperação, ao inserir-se em nulo eixo narrativo. Imagem bruta modulada pelo lúdico. Licença poética, porém com nada de querer agradar ou bajular o espectador convencional ou tipicamente cult, ”esperto”.
O texto da Bravo parece dizer todo o tempo que o filme é genial, já que se trata mesmo de Tarantino, como se a grife, em si mesma, já contivesse o atestado de grandeza. Mais ou menos assim: “para que nos determos na obra, se o nome seria maior do que a mesma?” Garantia predestinada do objeto. Tal qual no caso de Lou Reed, era como voltar à foto da reportagem de mãos vazias.
Mas como nem tudo é programada assepsia nesse mundo, salva a reportagem sobre três grandes pianistas brasileiros. Dessa feita, são as declarações dos próprios instrumentistas que orientam o tom da matéria, conferindo substância à revista, praticamente como se não houvesse mediação de críticos ou jornalistas. Arnaldo Cohen, que interpreta Liszt, traz belos insights: “O romantismo, para ele, não é algo puramente emocional. E continua: “Penso nessa escola estética como um artesanato das emoções organizadas”.
À frente: ”Liszt mostra que o grande piano é aquele que, justamente, não soa como piano. No final da única Sonata que escreveu, ele escreve um crescendo com pleno conhecimento de que o piano é um instrumento percussivo e que, portanto, não se pode obter esse efeito. Através de notas trêmulas, ele, no entanto, consegue mimetizar uma orquestra”.
E conclui: “Sou um defensor ferrenho da obra de Franz Liszt. Para mim, ele é um exemplo de liberdade de expressão. Sabia carregar nas cores, tanto do ponto de vista do intelecto, quanto do emocional... uma ponte entre tudo e tudo”.
Terminada as declarações, a Bravo podia voltar agora à condição decorativa de revista “de cultura”. Joguei-a ao lado, hesitando a dispô-la como enfeite em minha sala, ou oferecê-la, com mesmo propósito, a um amigo dentista. Recortei a reportagem de exceção, mas acabei por doar, por fim, a revista ao amigo. Já que, talvez, naquela sala, entre Caras, Novas, Vejas e bocas, estaria cumprindo seu papel “cultural” em festival pré-selecionado da mídia brasileira.
Ps. Como a Bravo é da Editora Abril, bom deixar aqui registrado que o grupo acaba de comprar o sistema Anglo de ensino. Vamos Abrilzar um pouco mais, como fiéis herdeiros de Victor Civita?
Nenhum comentário:
Postar um comentário