quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Caixa





Estão procurando lançar a obra completa de Ary Barroso em formato resmasterizado. Mas, por ora, não há quem assuma algum investimento, seja via apoio público ou da iniciativa privada.
Foco a imaginar o tempo levado para a consumação de um trabalho que, segundo consta, respeitaria as nuances das gravações originais.Barroso ficou mais conhecido pelo samba-exaltação (caso de Aquarela do Brasil, entre outras), embora sua obra não pare por aí.
Foi fértil em vários campos. Cantou a Bahia com rara vivacidade e complexidade musical, como em Na Baixa do Sapateiro, Os Quindis de Iaiá, No Tabuleiro da Bahiana...

Há a não tão enfatizada faceta da crônica nacional, como em Camisa Amarela. Enveredou pelo terreno da crítica social (Terra Seca era, aliás, sua composição favorita), para não falar no regionalismo de Maria, Caboca ou Rancho Fundo. Essa última feita em parceria com Lamartine Babo.

No campo da letra, Ary era respeitoso para com o senso de simplicidade, o que pode soar como ingenuidade, sem tomar tal palavra como algo pejorativo. Musicalmente, como Antônio Carlos Jobim, foi estudioso dos clássicos antes de partir para o terreno popular, tendo levado seu background para o “gênero”. Antes de emplacar como compositor, acompanhava, ao piano, os filmes nos cinemas da época. E, também como Jobim, foi inovador na música popular brasileira, contando quase sempre com orquestras das do porte de Fon-Fon.

Tomemos uma música como Na Baixa do Sapateiro. Executar algo supostamente singelo torna-se, na mesma hora, um gigante a ser domado pelos músicos. Já vivenciei o fato por mais de uma vez.

A obra de Ary Barroso talvez tenha sido a mais calorosa a se inscrever por essas plagas. Repleta de cores - em música e letra-, a compor quadros vivos, pulsantes, com suas quebras complexas de ritmo em inovadores molejos.

Que alguém acorde para um empreendimento que demanda tamanho esforço de resgate de uma obra de quem, tendo influenciado Tom Jobim, como o mesmo, permanece atual.
Uma palavra para suas partituras ou “pinturas sonoras”? Exuberância – com a doce precisão do definitivo.

2 comentários:

  1. Ary Barroso e pinturas sonoras? Beijos concordantes e tietes da maria neusa

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  2. Na escrita lépida a que me impus,não achei outro termo.Obrigado!

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