quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A Comunicação como (Re)produção do consenso ( Parte Um)






"O que se nota é que a qualidade de vida está associada a um estilo de vida, uma modalidade comportamental, ou seja, no atual contexto essa busca pode ser considerada uma imposição social para se obter o corpo perfeito com dietas, alimentos orgânicos e tratamentos alternativos para que os indivíduos se sintam pertencentes a determinado grupo e respondam aos anseios da sociedade.

Essa apologia do corpo perfeito é uma das mais cruéis fontes de frustração de nossos dias. É o que aponta a doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), Lilian D.Graziano. “A busca pelo corpo perfeito já é um agente agressor”. O que se observa é a escravidão das pessoas por um modelo inalcançável de beleza rotulado muitas vezes como saudável.

Já para o professor da Universidade Federal de São Carlos, Richard Miskolci, a ideia de qualidade de vida estabelecida hoje opera por um meio ainda mais perverso e eficiente. ”Vivemos em uma era em que o poder opera pela sedução. Somos constantemente convencidos e incitados a desejar este modelo de vida em que, por meio do consumo de técnicas e informação especializada, teríamos acesso à aceitação social plena. Esta busca contemporânea revela como, por trás do termo qualidade de vida, reside a busca conservadora de adequação a modelos propagandeados pela mídia, pelos “saberes” médicos e técnicos sobre o corpo, mas também de normalidade psíquica compreendida como conformismo político e comportamental.”

Assim, numa cultura contemporânea dominada pela mídia, os meios de comunicação são uma fonte profunda e muitas vezes não percebida de pedagogia cultural, pois contribuem para ditar padrões de como se comportar, o que pensar, comer, em que acreditar, o que temer e desejar. Somado a isso, vivemos em tempos da ditadura da magreza, da lipoaspiração, intervenções plásticas radicais - cada vez mais precoces-inibidores de apetite e soluções supostamente mágicas para manter o corpo esbelto. “Qualidade de vida, portanto, pouco ou nada tem a ver com ausência de doenças, antes como culto fascista da saúde compreendida como adequação a valores hegemônicos, o acesso ou suposto acesso a um privilégio de grupo que se confunde - muitas vezes - com um “racismo” da normalidade, do corpo ideal, da reprodução do que a sociedade tem como mais hegemônico. Por essa razão, é observado que os espaços que buscam captar e informar acerca dos fatos sociais atuais não conseguem uma identificação entre o exibido e o referente, o que existe é um fluxo na realidade, de onde os fatos são recortados e construídos, obedecendo a determinação ao mesmo tempo objetivista e subjetiva que vai além.

Tudo isso diz muito claro sobre as relações entre poder e a dinâmica social. O que deixam de lado e querem que as pessoas ignorem é o potencial mobilizador e transformador social desse fenômeno: que qualidade de vida seja tomada como um método, uma regra, um objetivo a ser buscado em todas as instâncias da vida social."
(Por Robson Rodrigues)

Foram observados aqui mecanismos utilizados por meios de comunicação, tendo em vista a produção de consensos, "prefabricados" histórica e imageticamente(Exatamente,a faceta da comunicação como produtora do consenso em que seres não se afirmam,mas mostram a necessidade desesperante da autoafirmação.).
Uma introdução para a postagem que virá em breve, procurando desdobrar um pouco desses processos em curso, a fim de notarmos como não nascem, simplesmente, de uma hora para a outra.

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