terça-feira, 27 de outubro de 2009
O Corpo que goza versus o Corpo que sublima(A Mulher e o Homem,o macho)
Levada Da breca,de Howard Hawks:O homem e a mulher em confronto?Ou o instinto de Vida(Eros)versus o Instinto de Morte?
Nessa screwball(comédia maluca)trepidante,o diretor decidiu por acentuar ainda mais sua ironia,presente inclusive nos filmes de aventura,faroestes,etc.
Nos filmes "de ação" os homens estão sempre envoltos em seus árduos trabalhos, por meio dos quais seus limites são transpostos com considerável sucesso(como de um winner norte-americano).São homens objetivos,pragmáticos em suas tarefas,realizadas com grande beleza nos gestos e primor tal qual dos feitos gregos épicos.No entanto,um elemento mais moderno se anuncia com força:o mais difícil dos limites será sempre uma mulher,que embaralhará um bocado os papéis dos sexos.
Que é onde entra a brecha dos heróis:seres tão abismados em suas tarefas, tão intrépidos,deixam vir à tona seu medo de perder "a si" em uma relação mais concreta.Ou seja,o medo da morte.
O homem nessa comédia é um cientista.Ou seja,aquele que sublima os medos por meio da ciência(assim como o protagonista de O Inventor da Mocidade).Existem,claro,várias formas dessa necessidade de sublimação nos demais filmes.Tanto mais em uma cultura maquínica,de grandes "previsões",como a norte-americana.
Nessas comédias a ironia muita das vezes se acentua,chegando ao ponto de, em Levada da Breca,o homem-cientista sisudo-se travestir de mulher frente a uma necessidade.E falta de opção.(É o que ocorrerá também em A Noiva era ele).
Portanto,na comédia da foto temos a mulher como o corpo que goza(ou seja,sem as estratégias habituais para burlar o medo da morte)versus o homem do corpo que sublima.Que sublima,seja por meio de suas obsessivas pesquisas e leituras,seja por meio de seu trabalho.E, sobretudo,estando prestes a se casar com uma "típica" castradora(mulher de gelo,igualmente maquínica e contempladora científica).
Ao se passar por travesti,torna-se incorporada toda a estratégia desse "temor da castração",(leia-se temor da morte)próprio a um homem já castrado e oprimido pela futura esposa(A figura do travestimento estará presente também no John Wayne,de Rio Bravo).
É então que entra Katharine Hepburn,que tenta devolver vida ao corpo desse homem.
Há toda uma série de elementos enriquecedores,tais como a busca de um leopardo que precisam a todo custo capturar,como esse corpo perdido e radicalmente cindido na castração.E,claro,o dinossauro de mentira- "compensação fálica do cientista"-que se quebrará ao final,assinalando um momento de morte em vida,de ruptura.Inclusive como humor de Hawks a apontar a fantasia da "perda de si" masculina.
Talvez e, por fim,seja essa quebra um momento da inclusão da morte como dado " a mais" da vida.
Que é onde voltamos ao início do comentário: Morte como outra força impulsionadora da vida ao lado de Eros,o impulso erótico de Katharine Kepburn.Quem sabe um dia não mais como confronto.Não mais como cíclica sublimação das fantasias de castração masculinas.
Mas isso, claro,não caberá ao filme resolver.
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