domingo, 20 de dezembro de 2009

Papai deseja casar








Bom descobrir que há mais gente no mundo a reconhecer a grandeza de um Vincente Minnelli(exercício narcísico?),para além dos falsos truísmos de que fazer musicais,comédias e melodramas seria recorrer a algo "menor" ,menos "profundo."
Já viram uma comédia ou musical ocupar alguma dessas listas "respeitáveis" de melhores filmes de todos os tempos?
Continuaremos eternamente pagando pau para os velhos paradigmas europeus e nos esquecendo de que o cinema é também uma arte do século XX?Prosseguiremos a querer ignorar que Charlie Chaplin,o primeiro artista a ser reconhecido como aquele a dar "status" de arte a um "recurso" tão desprezada à época, fazia comédia,melodrama e musical(em suas coreografias dançantes de caiado fonâmbulo),tudo,além do mais,misturado?Ele era amado pelas vanguardas mais sensíveis e inteligentes da época e nenhum deles parece ter feito acomodadas e rançosas restrições a seu gênio.Inclusive Élie Faure,que o comparava a Shakespeare,o que para um crítico de arte de seu porte não era pouco.
Abaixo um comentário sobre um supremo momento de Minnelli,extraído do Signododragão,do Bruno Andrade(alguém certamente não preconceituoso em sua ótica de cinema,até que me provem o contrário).E é justamente de rigor que estamos a falar,não só do crítico,mas do mestre-maestro Minnelli:

"É mais possível que dentre os auto-proclamados herdeiros de Minnelli o único verdadeiro sucessor seja aquele cuja arte pareça a mais distinta e distante possível, e é nesse sentido que Jean-Claude Rousseau me parece um digno sucessor do Minnelli. Há nos dois uma maneira (evidentemente ambos chegam a esta através de métodos distintos), uma maneira de fazer com que por meio de fechos sucessivos o ator se cole gradualmente ao cenário, o que permite ao ator que recorre aos velhos truques de marionetes estriadas liberar-se de certos vícios e ao cenário de ser mais que uma decoração simplória um tanto afastada da câmera (como ocorre em 98% dos cineastas que tentam decalcar os trabalhos de Minnelli, Sirk, Ophüls etc.). Tanto ator como cenário vêem-se liberados por essa forma, e é assim que o ator pode, por exemplo, comunicar a tranqüilidade absoluta da sua performance, simplesmente representando por meio de uma efração daquilo que está ao seu redor, enquanto o cenário passa ele mesmo a atuar sobre a cena; passa a ser, enfim, décor.
Uma idéia que tive após assistir The Courtship of Eddie's Father, facilmente o melhor filme a que assisti neste ano."

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