quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Impressões de Chico e de Crítica Musical




Como toco instrumento musical e canto,ainda que já de um bom tempo pra cá somente em minha própria casa(ou seja,não me tornei profissional),música para mim é mais fácil de ouvir e executar do que de falar a respeito.
Não sendo músico profissional,pegando as coisas que ficam meio caídas por aí,de ouvido ou de "pileque mental,auditivo",como poderia falar a respeito?Aliás,de música popular conheço pouquíssimas pessoas que saibam falar.
Normalmente citam muito letra,mas essa não é a música,e a coisa fica descabeçada,desarticulada ao ponto do vazio.O livro do Pedro Alexandre Sanches sobre a MPB de Paulinho da Viola,Chico,Ben e Caetano analisa somente palavras,o que, a meu ver,seria um grande equívoco.Paulinho chegou a reclamar disso e com toda a razão.
Daí pega-se uma música do Chico Buarque para dizer que não é lá grande coisa por não ser fiel a uma postura política do passado.Tá,mas e a estética?
Exigir posturas fixas,políticas(que seja)de artistas é totalmente fora de lugar.Ideologia nessas horas castra tudo,tal como as escolas,os modismos na arte, que só vão criando amarras com o tempo.
Como diz um dos Caymmis:depois que a obra do Chico passou a ser mais influenciada pelo Tom Jobim,as pessoas não conseguiram acompanhar.
Não é cópia.Influência,como tudo.Cultura se alimenta de cultura,arte de arte.O Pedro Alexandre diz pejorativamente que as músicas do disco "Cidades",por exemplo,revelam uma postura de indefinição.
O que ele chama de indefinição, a meu ver, são os elementos musicais do impressionismo,que Debussy,por exemplo,fazia uso para criar justamente esse tipo de atmosfera mais fugidia.Para quem já viu uma pintura impressionista, encontra-se por ali um tipo de indefinição visual,uma certa captação do transitório,que vai se dissolvendo,se fazendo quase onírico,a confundir as instâncias do tempo e do sonho com aquilo a que se convencionou chamar de "realidade".
O prólogo,por exemplo,da música do Chico "A Ostra e o Vento"-trilha do belíssimo filme homônimo de Walter Lima Júnior-é praticamente uma citação do "Prelúdio à Tarde de um Fauno",de Claude Debussy.No desenrolar,a letra vai sugerindo movimentos de vento e ondas do mar que,por sua feita,a música vai se encarregando de consumar em sua atmosfera de etéreas e pendulares oscilações.
Certa a afirmação de Caymmi sobre a herança jobiniana,pois tal músico já carregava consigo fortes elementos de Debussy.Se o crítico não pega isso,seja por ficar remoendo a letra,seja por fazer exigências políticas sem eira nem beira,a música há tempos que já se foi.Se perdeu.

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