quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Jornal





A origem do jornal O Cidadão, no Rio de Janeiro, deve ser semelhante à de muitos outros jornais comunitários. Um grupo de jovens da comunidade cansou de ver uma grande mídia distorcer a imagem de seu bairro.

Quando se falava na Maré era para apresentar casos de violência, e só. Nenhuma iniciativa dos moradores, referente à qualidade de vida, esporte, entretenimento ou cultura era divulgada.

Diante desse quadro unilateral e de distorções, que nos faz lembrar o “básico”, ou seja, que a imprensa não registra exatamente “fatos”, mas versões de fatos, sem falar nas muitas vezes em que obedece a uma série de predisposições e achismos, que aqueles jovens decidiram por fazer um jornal de sua comunidade.
Querendo mostrar aos moradores locais uma imagem distinta da que uma mídia explorava, o projeto tornou-se realidade em 1999, incluindo a adesão de dois jornalistas profissionais.

Um dos fundadores do jornal afirma não ter sido fácil, a curto prazo, o processo de aceitação do jornal na própria comunidade. Muitos receberam a ideia com desconfiança, temendo revelar suas opiniões e críticas, contar suas histórias ou aparecer em fotografias.

Muito disso ocorreu por conta do que viam e liam em outros jornais, pela própria representação social de si, embutida em vários veículos.

No entanto, sem tamanha internalização das representações que vinham "de cima para baixo", a comunidade hoje se sente representada pelo O Cidadão, que passou a dar voz a vários grupos que por ali residem. Caso dos pescadores que vivem da pesca na poluída baía de Guanabara.

O jornal também promove campanhas educativas, como a realizada com a Companhia de Energia Elétrica, que trata de acidentes nas redes elétricas.

Há seções de dicas de vários cursos. E, nesses oito anos, O Cidadão vem ajudando na solução de problemas do bairro, referentes à educação, à saúde, saneamento básico, entre outros.

O jornal hoje sai com uma tiragem de 20.000 exemplares, distribuídos gratuitamente pelas dezesseis comunidades que formam o complexo da Maré. Seus recursos provêm de anúncios de publicidade e o apoio de algumas empresas.
Se alguém se interessar, conferir no www.ceasm.org.br. (se eu não estiver enganado).


Passadas as eleições, o que se notou em parte considerável da imprensa brasileira foi algo equivalente a uma torcida acirrada de futebol, nos termos da violência, e até mesmo da sabotagem de “fatos”.

Instalou-se por aqui um clima de terrorismo, na base de ataques imediatistas, colaborando para desfocar o leitor de questões pertinentes ao país.

Por muitas vezes, uma necessidade de frisar frases fora de contexto, ou “meias verdades”, o que dá mais ou menos no mesmo, como necessidade de chocar uma população, contando que a mesma só possuiria um único referencial de informação(ou de desinformação) para acompanhar.(O que muitas vezes procede).

Um grande grupo de classe média, outros de mais baixa renda, junto a certa elite econômica continuam se apegando às revistas de sempre, como atestado das “verdades que convém”, reproduzindo conceitos, valores, estereótipos do arco da velha, com suas desgastadas representações sociais, em tom de histérica teatralidade. Com isso, o debate se tornou frouxo.

Uma mídia na defensiva chega a cogitar a possibilidade, para eles concreta, de censura, quando nada disso é concreto.

Ou seja, falar meias verdades ou omitir tantas outras coisas não seria censura. Dessa forma, fica fácil trabalhar, escrever, na base de dois pesos e duas medidas.

Uma dessa revistas conta com um articulista, para quem tudo- (ou quase)-o que vem do pais é ruim. Provavelmente, o mesmo “jornalista” não seria aceito em revistas dos países que julga “amar”, tamanho espírito de porco.

Pseudo-intelectuais estão à solta para agradar a uma parcela significativa da classe média, a pessoas incautas, e a um grupo de elite econômica(que não sabe pesquisar por si mesmo). Não raro àqueles que apresentam uma necessidade de se sentir parte de uma “elite intelectual”.

Um país que nos deu Antônio Cândido, Sérgio Buarque e muita gente boa por aí, prefere, em várias parcelas, se contentar com a mediocridade gratuita... Ou nem tão gratuita assim, pois há anúncios, o preço dos exemplares e outros comprometimentos.

Enquanto isso, muitos jovens e mesmo algumas igrejas demonstram uma direta ou indireta aversão a ritmos e estilos brasileiros de música, por exemplo, como se tudo o que viesse de fora, já fosse por princípio, “mais nobre”, ou “mais santo”.

Por um lado, um ranço de mentalidade calvinista da “predestinação dos bons”.
Por outro, bolhas de proteção que, por ódio a si mesmas, preferem projetar uma imaginária superioridade em “outro continente”.
“Esquizofrenia ou autismo”, histórico - inclusive.

O preço é a omissão e a picaretagem, muita das vezes autoconsentida, como instinto de preservação psicológica pela(auto)enganação.

No caso, cabe não somente estudo, como muita terapia e autocrítica.

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