quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Heráclito




Reflexão n.1


Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Nem ama duas vezes a mesma mulher.
Deus de onde tudo deriva
E a circulação e o movimento infinito.


Ainda não estamos habituados com o mundo
Nascer é muito comprido.

(Murilo Mendes)



Murilo, poeta mineiro, que passou pela geração desmistificadora do primeiro modernismo, com sua ironia frente ao domínio lusitanista, inclusive na linguagem.

Seu primeiro livro reconta a "História do Brasil", em outra chave, bem distinta da oficialesca(daquela gerada a partir da carta de Pero Vaz de Caminha).

A poeta trabalha sob tônica espiritual, o que seria coroado em uma obra com Jorge de Lima. E sempre mantendo uma forte relação com as artes plásticas das vanguardas da época, o que pode ser notado em seus poemas, repletos de imagens.

Sua busca sempre foi no sentido de revelar alguma ordem no caos.
Corpo e espírito, para ele, não seriam dicotômicos.

Há uma forte presença do sensorial em sua obra, assim como podemos notar nas referências à figura feminina, sempre com grande força na presença.

Amante de Mozart, por um lado e do imaginário, por outro, não abandonou um forte sentido de concreção em seus textos.
Esse último elemento seria radicalizado ao final, com um sentido de ascese não muito distante das preocupações de rigor formalista, à maneira das de João Cabral de Melo Neto, o engenheiro da linguagem.

Nem por isso deixaria de ser chamado- e não sem razão- de poeta do ar.

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