quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Versões de um País- parte 3





Enquanto a caixa com versões remasterizadas da obra de Ary Barroso parece não encontrar ainda apoio público ou privado para o lançamento, seria interessante relembrar alguns mitos e fatos a respeito do compositor de Ubá.

Como me disseram que em um blog não se deve escrever muito, não sei se seria possível resumir Ary, ou qualquer outro, com facilidade.

Quando surge a bossa nova nos anos 50, haverá uma divisão entre músicos e críticos brasileiros diante de um estilo que incorporava elementos “estrangeiros”, como o jazz. Ary Barroso, apesar de admirar Vinicius de Moraes - inclusive como compositor- foi dos que não viram o novo estilo com boa fé.

Em todo caso, não se tratava de exclusividade do autor de “Aquarela do Brasil”. A maioria dos sambistas gerados nas primeiras décadas do Rio de Janeiro guardava singular apreço por aquilo que parecia nos representar. Sobretudo, porque a grande maioria havia padecido de segregação, proveniente das concepções higienistas herdadas da Europa.

Noel Rosa escreveu uma de suas melhores canções do ponto de vista formal, em que ironizava a influência do cinema falado em nossa linguagem, como lugar de status de um esnobismo "chique” e vazio para "franceses tupininquins".

Jobim e turma que pareciam, de início, negar tais compositores "clássicos" assumiriam, posteriormente, influência dos mesmos. No caso de Noel, não haveria como evitar um histórico de formação do Rio de Janeiro e, aliás, dos próprios compositores do novo estilo em sua relação de transação entre o asfalto e o morro.

No de Ary, além de alguns dos mesmos motivos, se tomarmos uma composição como “Camisa Amarela”, por exemplo, nota-se um intrépido trabalho de melodia e harmonia, que seria justamente retomado pela bossa nova.

“A música de Camisa Amarela, com suas transições harmônicas complexas e uma linha melódica elaborada, se adapta plenamente à temática. Além da prosódia perfeita - o acento da melodia coincide sempre com o da letra-, a linha melódica é marcadamente ascendente sempre que os versos citam os refrões carnavalescos “A Jardineira” e” A Florisbela”, cantados pelo folião. O processo de composição de “Camisa Amarela”, artesanal e crítico, evoca o que mais tarde vai caracterizar a bossa nova”, segundo Santuza Cambraia Neves, pesquisadora de música popular e professora da PUC-Rio.

Logo passada a "onda da bossa ", Jobim regravaria Ary Barroso em excelente versão instrumental para seu disco Stone Flower. Sua versão para “Na Batucada da Vida” entraria em uma coleção de cds, realizada em homenagem ao compositor de “Camisa Amarela", por iniciativa de Almir Chediak.

Nos anos 70, Elis Regina consumaria um ajuste de contas com o “passado”, em suas regravações para “Aquarela do Brasil” e “Na Batucada da Vida”- essa última considerada por muitos como superação da versão disseminada por Carmen Miranda. Se fato ou não, podemos relembrar que João Gilberto, menestrel modernista da bossa, regravaria o compositor por diversas vezes.


Pausa para o lanche....

(A foto acima mostra Villa-Lobos, compositor brasileiro erudito afinado ao popular em encontro com Ary Barroso).

Um comentário:

  1. È sempre bom conhecer mais sobre ary barroso.

    Abraços.
    estamos seguindo seu blog.

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