domingo, 16 de janeiro de 2011

Versões de um país, via arte- 2




Gosto do Brasil. Devo dizê-lo antes de ser apedrejado em Praça Pública. Porém, no mesmo, avistamos ainda muito mal algumas de suas seitas presentes e quase preexistentes.

Voltando ao tempo: O Modernismo apresentava uma vertente mais à esquerda, com Mário e Oswald de Andrade. O segundo nome incentivaria, de certa maneira, uma visão menos ufanista da nação, sem deixar, por isso, de valorizar o nacional. Não que Mário de Andrade não fosse também, e à sua maneira, um desconstrutor e construtor de peso.

No período- e como acréscimo talvez desnecessário- haveria a turma do Verde-Amarelismo, liderada por Plínio Salgado. Tal faceta se converteria, posteriormente, no Integralismo de vertente Nazi-fascista, por sua feita e tendência.

Desde o início, Plínio e turma primavam por uma visão/versão bem oficiais do país, tratando de fazer a apologia de tudo o que havíamos construído até então. “Instituições perfeitas” deveriam ser supra-valorizadas, inclusive em moldes poéticos.

Segundo informações de um amigo, o Integralismo permanece vivo, sob o formato de resistente “sociedade secreta”.

Nos USA, sociedades secretas costumam estabelecer forte vinculação com decisivos setores da política. Já no Brasil, as ditaduras prolongavam um tipo muito específico de recorte, em nome do patriotismo e da dita “segurança nacional”.

Alguns artistas hoje em voga, filiados a uma vinculação entre local e global, passando de lambujem pelo nacional, passam a relativizar alguns dos "eternos signos" do ufanismo verde-amarelista.

Ok, o Brasil pode até ser “país do Futebol ou do Carnaval”. Mas ficaremos nesse repeteco ad infinitum, como leais papagaios, sem os devidos recortes no tempo?

Uma das artistas da chamada “música do pulso” é a rapper Nega Gizza.

Mulher de pulso, vinculada à música modal, em que elementos circulares, percussivos, absorvidos como “universo dos ruídos”- pré e pós existente à afirmação do canto católico gregoriano- se afirmam numa paródia a nosso “Hino da Independência” ( o mesmo criado sob "suspeitas independências"):


"País da democracia racial
Da mulata exportação
Da beleza natural
Brasil nação feliz
Um País tropical
País da fedofilia, futebol e carnaval”

Não vou morrer pelo Brasil
Não vou morrer pelo Brasil
Não vou morrer pelo Brasil.”

( extraído do cd “Na humildade”).

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