sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Homenagem Glauber






Viva a técnica que hoje nos permite tirar o apêndice sem dor, mas cuidado com ela quando começa a metrificar tanto o soneto que, no final das contas, provoca tudo menos o mais: isto é, poesia.

O cérebro eletrônico que domina "Alphaville" tolera a superplanificação acreditando nos bons resultados do homem. O pior é que ninguém mesmo sabe o que o homem deseja depois de casa, comida, educação e saúde. O cérebro se esqueceu disso.


Por isso, quando Lammy Caution revela ao Cérebro a “poesia”, o Cérebro degringola, entorta os filamentos, enlouquece.


Godard não investe contra a tecnologia porque ele mesmo a utiliza em seus filmes através da perfeita conjunção imagem/som. Mas como Godard despreza a técnica em função da estética, a técnica, para ele, entra como infra e não superestrutura...Paga o preço.


... ( )... Alguns artistas, evidentemente, conseguem o sucesso a partir da crítica: Visconti, em Rocco, é exemplo. E Visconti apelou para dramalhão operístico sem o menor pudor. Rocco, foi, antes de tudo, “obra de inspiração” que escapa à razão.


E a super - razão que os teóricos vêm querendo impor através dos tempos criou, ao lado de muitos esclarecimentos, muitos obstáculos à criação artística. Os teóricos, não quero atacá-los impunemente, defendem sempre uma ideologia. E a ideologia é própria dos teóricos, dos dominadores.


Nada, porém, mais insuportável para um artista do que uma ideologia que lhe determina caminhos ou finalidades. A finalidade ideológica de uma obra de arte, quando atingida, vem muito além de uma legislação estética. É o caso de Visconti que, sendo marxista, logrou resultados quando foi dominado pela “inspiração irracional”.


Jean-Luc duvida e quando pergunta o que não é para não ser perguntado, choca. É como Van Gogh pintando o que não era para ser pintado.

O que Godard pergunta é sobre a boa ou má consciência, sobre a falibilidade da máquina, do intranscendente.


Liberdade é problema relativo em nosso tempo... Sofre de funcionalidade e, nestes casos, a melhor coisa é meter uma granada na boca dos poetas, sujeitos que, há anos atrás, eram tidos como loucos, porque passeavam com suas amadas na lua.


Razão, pois, como liberdade, é questão de tempo e seria muito pedantismo achar que por aqui, no planeta Terra, as coisas estão em grande progresso. Há uma pobreza cultural enorme. Nunca se falou tanto em liberdade, nunca se perseguiu tanto artistas e intelectuais.


O artista, inquirindo sobre o real, pode até declarar falência na máquina. Ela não pode, por exemplo, fazer alguém experimentar tom de primavera: isso gera morte, é ilógico.

Dr. Van Braun, em Alphaville, quer condenar Lemmy Caution à morte”.

( Glauber Rocha)

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