segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Mostra: Glauber Rocha/ Minnelli






“Chá e Simpatia”, por Glauber Rocha:



“Chá e Simpatia” é o mais antibrutal dos filmes saídos de Hollywood nos últimos anos: coloca o fundamento da brutalidade na concepção do falso homem, ao passo que apresenta uma solução de paz e de tamanho amadurecimento que não se pode, de maneira qualquer, manter uma postura mais rígida contra esses momentos de grande importância humana e social que o cinema chama a si como complexo cultural mais importante de nossa época.


A denúncia contra o nível mental do universitário e da família classe-média americana situa-se como a mais objetiva por ser menos dogmática e é carregada de uma indignação racional e fria, quase de um sociólogo.


Isso percebe-se em “Chá e Simpatia” antes mesmo de se evidenciar o drama do jovem poeta pálido e cabeludo, tipo do “anti-homem”, vítima da espetacular masculinidade americana que, não entendendo a fragilidade humana ou a reclusão ou a ternura, ou o poético como também fatores/construção do másculo, o excluem para o campo dos vulgarmente chamados frouxos.


O problema de “Chá e Simpatia” não é de homossexualismo: é antes de inadaptação do “anti-homem”, do antibrutalista na consciência de um país tão eminentemente guerreiro (tão bomba atômica, tão armas nucleares, tão colonialista, racista, tão rock, tão cheio de desespero juventude transviada e agora de uma geração literária bêbada e devassa por medo da guerra) , que não pode compreender o triunfo da poesia sobre o futebol.


“Chá e Simpatia” é um filme de triunfos: vitória da ternura e elevação da mulher sobre os homens de musculatura e fala grossa; a seqüência na qual Deborah Kerr se entrega ao jovem Tom Lee é o selo dessa dignificação feminina: é uma revelação de potencialidade de amor inato na mulher, sem respeito geográfico ou político.


Por isso, “Chá e Simpatia” não é apenas um filme bonito, sensibilizante, mas um filme de intensas profundezas.


Foi preciso, antes de se propor a contar o drama de Tom Lee, criar um mundo de terna interiorização. Não buscar o original carregado, mas antes permanecer nos "símbolos eternos" e mesmo num recurso gasto do cinema: o retrospecto.

A câmera mergulhando pela janela vai, todavia em tal ritmo e a música de Adolph Deutsch funciona tão oportuna que a evocação do passado se faz em clara poética. As flores são a simbólica cenografia de Minnelli. O ritmo lento. As interpretações intensas, mas despidas de estilizações.

A linguagem direta, sem “planos audaciosos” ou cortes magistrais: criar de tal maneira uma ambiência real até que o espectador se sinta integrado e vivendo com Tom Lee.

Vincente Minnelli em “Chá e Simpatia” revela-se um diretor maduro e em mãos como as suas o argumento de Robert Anderson não descambou para o “melodramático”.


“Chá e Simpatia” é um filme limpo, enxuto, e só talvez excessivo na seqüência final, quando Tom lê a carta. Aí, não só a dublagem em português prejudicou, como também poderia descobrir-se uma intenção de provocar lágrimas: mas a câmera movimenta-se com tanta classe que as habilidades artesanais de Minnelli superam as lágrimas.


O elenco é de notável comportamento. Deborah Kerr marcha para ser a grande atriz de Hollywood, enquanto o jovem John Kerr é um Tom Lee convincente, uma perfeita encarnação do poeta deslocado entre os vermelhos sexuais da comunidade americana”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário