terça-feira, 20 de setembro de 2011

Revisões- Luis Buñuel





O Anjo Exterminador




A rigor, um experimento do cineasta espanhol Luis Buñuel em torno de burgueses trancafiados em uma casa. Os cortes e a câmera acompanham vai e vens de seres que se debatem como em uma gaiola, um pouco como “Os Pássaros”, de Hitchcock.



Mas se há aqui algum tipo de purgação, como no caso do citado filme do mestre do suspense, ela se encontraria no momento em que , por fome, os personagens chegam a sacrificar as ovelhas da dona da casa, ao passo que falas afirmam que faltaria ainda muito para que se chegue à ovelha pura.



Para o cineasta, por mais que se tente purgá-las, certas elites não conseguem escapar de seu próprio eixo.


É nesse ambiente de prisão, com cada qual aliado à sua mania, soberba e chaga, que poderemos entrever, pelo tipo de montagem e movimentação de câmera empregados , a condução em espiral de outro filme do diretor, “O Alucinado” , em que, se passando em ambiente composto igualmente por abóbadas e reentrâncias tipicamente barrocas, o protagonista, inconscientemente, devora-se a si mesmo de forma paulatina, crescente.


São obras de aparência clássica que, aos poucos, revelam-se possuídas por um timbre espanhol nada distante da pintura de um Rembrand e, principalmente, de Velázquez, em seu provocativo e algo sutil, desenvolto descentramento.


Continuadoras, portanto, de uma herança e de um estado de espírito de um barroco espanhol, mais afeito aos círculos do que às retas.



Ao acompanhar as reentrâncias dos espaços foi preciso suspender o sentido mecânico do tempo, transformando-o em um grande presente perpétuo, alucinatório, de forma que os seres não tanto recorressem a seus jogos representativos, de cartas marcadas.


Teríamos, agora, personagens acuados pelo instante distendido ou pelo fantasma da morte- habitualmente escamoteados pela pompa de "respeitabilidade" no cotidiano de grupo.


Em " O Anjo Exterminador" e "O Alucinado" , Buñuel revela-se em exímio domínio de sua arte . Virtuosístico, mas sem grande alardes, como o Jean Renoir de “A Regra do Jogo”.



(Continua...)




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