segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Em sala: Cinema e Nazismo- 2








ARQUITETURA DA DESTRUIÇÃO / Undergångens Arkitektur / The Architecture of Doom (1989), de Peter Cohen




"Conhecemos o nazismo pelos seus efeitos: a guerra, os campos de concentração, o genocídio – em suma, um período de trevas sem precedentes na História. Conhecemos bem menos seus fundamentos.



É sobre eles que trabalha este documentário realizado pelo diretor Peter Cohen.


Cohen procura entender como raciocinavam Hitler e seus seguidores, a partir da missão que se atribuiu o nazismo: embelezar o mundo. 



Não é um ponto de partida inédito. Sabe-se que Hitler tinha a obsessão de regenerar a Alemanha – e a Europa – a partir dos conceitos de beleza e saúde. 




A demonstração, ao contrário, é. O paradoxo nazista, para ele, é: como conceber um mundo dominado pelos ideais de beleza e saúde e chegar aonde chegou? Para buscar uma resposta convincente
o diretor revirou arquivos em toda a Europa, EUA, Israel. 



Aqui, entra o papel das imagens. Conhecem-se muitas ideias de Hitler: seu culto à Antiguidade, o temor do caos,
a alergia ao que considerava degeneração.


Mas como elas constroem um pensamento político, um sistema de crenças? Como, enfim, arquitetam a destruição? 



É a isso que só as imagens podem responder. 



Basta ver artistas, médicos, arquitetos com uniformes militares (bem antes da guerra) para entender o caráter nefasto da proximidade entre arte, ciência e poder. 



Esse caráter se evidencia sobretudo na propaganda produzida pelo nazismo. Cohen justapõe essas peças:

Uma exposição de "arte purificada" e outra de "arte degenerada", um documentário sobre os efeitos tenebrosos da miscigenação (difundia-se a crença de que ela era responsável for deformações
 e criava-se disposição favorável à eliminar essas vítimas do passado) e outro conclamando a população a confiar em seus médicos.



Mais adiante, confrontam-se as ruínas de Atenas aos projetos arquitetônicos de Albert Speer.




Daí a propor a extinção dos judeus, a volta da escravatura, a eliminação de civilizações inteiras é um passo. E essas ideias não se tornam menos monstruosas só porque se mostram em seu funcionamento sistemático. Ao contrário. 



É quando mostra a sua face humana que o nazismo é mais tenebroso.


Nos faz lembrar que os caminhos do mal são bem menos lineares do que tendemos a acreditar. Pior, que não existe um nazismo morto e exorcizado.


Ele foi um fenômeno cotidiano, em certos aspectos ameno, quase delicado. 


Expor essa natureza e os perigos que traz – para
o futuro –, fazê-lo com clareza e inteligência são aspectos que tornam Arquitetura da Destruição um trabalho documental e histórico primoroso".

 (I.A.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário