sexta-feira, 21 de outubro de 2011

" O sexo e seus papéis" - 1 ( em sala)




Como o tema tem voltado à baila em rodas de amigos, salas de aula e facebooks,  aí vai:

 

“O que pretendemos neste texto é ver de que maneira alguns temas considerados pouco masculinos segundo uma sociedade ainda machista surgem nos filmes do diretor Vincente Minnelli  como forma de nos mostrar uma visão mais multifacetada da masculinidade.


De que maneira, para Minnelli, as noções do que é ser homem ainda eram completamente equivocadas naquele tempo, como se um homem não pudesse costurar, ser cabeleireiro, coreógrafo, bailarino ou decorador.


Numa linha semelhante, é como se um homossexual não pudesse ser bom de briga, jogar futebol, caçar ou realizar alguma outra prática associada ao universo masculino.


É importante notar que, uma vez que os questionamentos feitos nesses filmes ainda encontram eco em nossos dias, a conclusão a que podemos chegar é que a sociedade pouco progrediu nesse sentido nos últimos cinqüenta e tantos anos.


Em “Herança da Carne”, Theron é o rapaz de temperamento artístico que se encontra dividido entre a educação refinada da mãe e os modos machistas do pai, um rancheiro do Texas.

Temos a “feminilidade” do humanista interessado nas artes contra a masculinidade do guerreiro do século XX, caçador de animais selvagens. São dicotomias há muito desmanteladas, mas Minnelli as costura de modo a enredar uma série de subtemas.


Já em  “Chá e Simpatia”,  Tom é um  jovem de 17 anos cuja masculinidade é questionada desde o momento em que colegas universitários o vêem costurando em companhia de mulheres mais velhas. Começam a chamá-lo de “sister boy.”


O pai, em visita esporádica ao campus da faculdade, presencia uma partida de tênis, e nela percebe que a torcida para seu filho é bem diferente da que queria encontrar - um grupo minoritário de nerds-, e a torcida adversária é formada por sarados atletas.


O filme atrasa um bocado, propositadamente, a revelação que esclareceria se o sentimento que Tom sente por Laura, a esposa de um dos professores, é de amor de um homem por uma mulher ou de comunhão de dois espíritos semelhantes.  A engenhosidade de Minnelli está outra vez nas entrelinhas.

Estas permitem a intuição de que o sentimento poderia ter ambos os lados, o da sintonia espiritual e o da atração carnal, apesar de Minnelli, a certa altura, deixar meio evidente que é o segundo lado quem comanda.

( )....  Temos, assim, um herói que prefere tomar chá e conversar sobre artes ou ficar sozinho ouvindo música, a ir a farras universitárias e festas de pijama,  rituais das comunidades universitárias americanas.

Temos também uma mulher dotada de enorme coração, que entende os problemas da sociedade e os ruídos de comunicação entre os homens. 

Por fim, temos um ideário de comportamento masculino que oprime a todos, vítimas e algozes morais.

Em “Chá e Simpatia”, lidamos então com preconceitos profundos, com uma noção redutora e específica de masculinidade ( palavra repetida a todo momento dentro do filme), uma noção que anula todas as outras”.

 Luiz Carlos Oliveira Júnior e Sérgio Alpendre.

 (Continua...)

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