terça-feira, 23 de outubro de 2012



"A coisa que mais me toca no cinema de Ford, algo que desapareceu completamente no cinema, é o fato de os personagens serem confrontados à decepção e ao fracasso,
serem obrigados a digerir uma humilhação – diríamos agora uma ferida narcísi

ca – e continuarem a viver mesmo assim, sem chorar como pirralhos.
É inimaginável hoje conceber um filme como Fomos os sacrificados (They Were Expendable, 1945).

Outra coisa que também me agrada muito em seu cinema é a capacidade imediata de dar vida a toda uma série de personagens secundários, sempre "simples, fortes" e que são reconhecidos automaticamente.
Quando eu vejo os filmes, tudo parece evidente, mas ao escrever roteiros, noto como é difícil fazer um personagem secundário adquirir simplicidade do trato na multiplicidade das figuras. Para mim, é o produto de um enorme trabalho.

É preciso um talento enorme para chegar a isso.

A força de Ford é dar uma espessura humana a personagens que são imediatamente tipificados sem cair no clichê. É muito difícil. É um problema de personagens e não de atores.


(...) Todos os filmes americanos de aventura e ação celebram o culto ao individualismo e, no cinema de Ford, é curioso observar as correções muito importantes que o cineasta trouxe a essa ideologia.

Para ele, o homem é pequeno, seja ele forte ou fraco, ridículo se comparado à criação, à grandeza do universo. É seu lado pascaliano.

...

É muito raro no cinema, porque isso implica uma modéstia dos personagens e uma profunda modéstia do cineasta diante da criação que não se observa em qualquer outro lugar.”

Jean-Claude Brisseau- cineasta ( francês) contemporâneo

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