quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Hitch -1





...."Janela Indiscreta e "Um Corpo que cai" resumem, como talvez nenhum deles, o método hitchcockiano em forma e conteúdo.




O diretor em questão se notabilizou por ser um minucioso controlador de cada recurso de seu cinema- um demiurgo, por excelência- que, no primeiro filme citado, cria mundos a partir de um artifício cenográfico para um prédio de Nova York e, também, para o que se encontra quase invisivelmente ao redor da mesma construção: a rua, seus sons, etc.


No segundo caso, Hitchcock faz de um homem com acrofobia (medo de altura), alguém que se dispõe a fazer de uma mulher morta, idealizada, algo vivo e a seu alcance. Ou seja, tornar o fantasmagórico verdadeiro e totalmente possuído para o ser em questão, via artifício.

Hitchcock não era um manipulador sádico, como tantas vezes foi ou ainda pode ser visto. Sua obra apresenta plena consciência do processo manipulador pela qual se constrói, mas também se desconstrói, em âmbito problematizador.

Se em Rope (Festim Diabólico), os assassinos querem manipular a vida e a morte, pensando estar além tanto de uma quanto de outra será por intermédio de uma postura limite e da figura de um professor-consciência das coisas- que serão desmascarados por quem que teria sido- (involuntariamente?) a própria cabeça do crime.

O educador mencionado estará inserido, principalmente ele, no processo da penalização final.


Envergonhado das ideias plantadas com imprudência nas mentes e almas dos jovens, situa-se, ao final da obra, de costas para a câmera, com uma iluminação esverdeada, doentia a sugerir as camadas implícitas e implicadas.

É como se todo o plano manipulador fosse explicitado no momento em que o professor reconta o crime de sua própria mente. Ele parece ter estado lá, como uma ideia fantasma a orientar os detalhes.

Na medida em que o filme se desenvolve, as luzes se tornam de néon, mais artificiais, não somente pela passagem do dia à noite a criar o suspense, ou o clima doentio que se evidenciam.



Enfim, é todo um artifício que se autoproclama, de mente e de cinema, com a iluminação do prédio do lado de fora da janela principal a incidir, sem nenhuma cerimônia e como autodenúncia, na sala de estar onde ocorre a cena.

Trata-se de uma forma de linguagem, de um simulacro que se nomeia enquanto tal.

( continua...)

Alessandro

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