quarta-feira, 31 de outubro de 2012



" Incisivo e corajoso, mas longe da fúria militante de seus primeiros trabalhos , Bellocchio parece sobrepor às discussões políticas e religiosas o sentimento supremo da identifica
ção com a dor alheia. Sim, políticos são oportunistas, o Vaticano é hipócrita, mas não é isso o que mais importa....


Momentos de uma densidade ímpar pontuam essa narrativa plural, que mescla o documento e a ficção.

A silhueta do senador recorta-se escura e solitária contra a imagem do Parlamento em convulsão, projetada numa tela.

A atriz retirada deixa o filho junto ao leito da filha em coma, recomendando ao rapaz: “Fale com ela, opere o milagre; diga ‘a palavra’”, o que remete ao clássico Ordet – A palavra, de Dreyer.

A mesma atriz, durante um sono agitado, na poltrona ao lado da filha, recita as falas culpadas de Lady Macbeth. Políticos na banheira fumegante de mármore de termas antigas revivem o Senado da Roma imperial.


O passado e o presente, a arte e a vida, o fugaz mundo midiático e o humanismo perene, Shakespeare e a Bíblia, tudo se entrelaça com uma desenvoltura notável, num ritmo ao mesmo tempo compassivo e eletrizante, pelas mãos de um cineasta que atingiu a plena maturidade artística e ética.

Outros grandes filmes vêm por aí, mas este é, desde já, um dos destaques da mostra".

"A Bela que Dorme" ( Eluana Englaro), Marco Bellocchio


Do texto do José Geraldo Couto

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