terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O Reino da fofoca





O episódio envolvendo João Gilberto e a proprietária do local onde reside acabou por gerar algumas “polêmicas”.

João mora de aluguel em um Ap, no qual receberia poucas visitas. E, além do mais, não abre seu espaço para a interferência de pedreiros nas janelas. Diante do fato - supostamente-, a dona do prezado “saloon” correu atrás de uma ordem de despejo para o artista.

Afinal, o que isso tudo quer dizer? Talvez nada. Mais um exercício de extrema nadificação, sobretudo quando passa a ocupar as páginas dos principais jornais e revistas do país.

A história parece ser mais simples do que parece. Uma batalha entre dois “velhos’”? Provavelmente entre o gênero feminino, que muita das vezes apresentaria maiores caprichos para com artefatos como uma casa, e o masculino, que se veria mais desligado de certos detalhes da mesma. Uns são “de Marte”, outros “de Vênus”. Quem sabe uma mistura disso tudo, com alguma inveja a ocupar o espaço no coquetel das intrigas?

Parece, em todo caso, não ser algo que diga lá muito respeito à alimentação midiática em torno da lenda de que João Gilberto seria um “chato, recluso”, etc. Contudo, por que não vampirizar um pouco mais em cima dessa imagem, desse confortável estereótipo de homem, a fim de vendermos revistas e jornais, já que não podemos perder, de jeito maneira, nosso sagrado espaço para a internet?

Se João é recluso, problema (ou não) dele. A reportagem até menciona que o músico recebe algumas visitas. Há os que nem isso. E deveríamos, portanto, achincalhá-los, por mais estranho que nos pareça?

Na Era da frenética autoexposição, ainda que superficial - vide Big Brother e Cia -, não suportamos certos “comportamentos desviantes”. Ora, mas João ainda estaria “à frente” dos que não recebem ninguém.

Se o artista é um mito, o que conta para a imprensa são “manias”. E, por uma vez mais, brasileiros tomam elementos pessoais, de caráter privado como mais significativos do que os “profissionais” (artísticos, nesse caso). Dessa maneira, julgamos purgar nossas taras e loucuras no outro.

É também como no livro “Raizes do Brasil”, do sociólogo Sérgio Buarque - aqui reeditado -, na atitude de um congresso quando legisla em causa própria, esmagando, de vez, a instância pública.

Ou, principalmente, quando alunos mimados – por obra e cumplicidade dos pais - encaram a escola com tamanha indignação, tão logo professores não atendam a seus vorazes caprichos. Concepções dogmáticas que se traduzem em corporações.

Em suma, como uma maneira corporativa de enxergar o mundo, a educação, as artes, a política, “as notícias”.

Diante da cultura do mimo, e - por que não - da fofoca, sobre a música de João Gilberto de nada saberemos.

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