sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Prosseguimento- Mídia e Difamação: Comprometimento da democracia






"A República moderna e a democracia, em suas origens e fundamentos, basearam-se, uma vez associadas, na confiança e no "franco dizer" de todos os cidadãos, isto é, na liberdade de expressão, diversa, esta, da delação.

Porque hoje prospera a desconfiança como forma de sociabilidade, as delações programadas e premiadas- elaborações de dossiês sensacionalistas em época eleitoral ou denúncias por parte de funcionários e auxiliares do governo- estão se constituindo como práticas reconhecidas e aceitas pelo poderes instituídos e pela opinião pública, com recompensa cash e com a diminuição de penas criminais dos delatores quando estes são criminosos condenados pela justiça.

O convite à delação tem uma história, cuja expressão mais próxima foi a Revolução Francesa, que reablitou as medidas do Ancien Régime, em jornais publicados entre 1789 e 1791, como " A Denúncia Patriótica", "O Espião de Paris", " O Espreitador de Portas".

Denúncias de vizinhos, cartas anônimas, ou dossiês preparados para esses fins ocorreram também durante a ocupação alemã em Paris, bem como foi rotina nos regimes totalitários, na Alemanha durante o nazismo e na URSS, convertendo-se em política do Estado sob Stalin.

Da demagogia à difamação, do jogo com as engrenagens da justiça ao direcionamento da opinião pública, da obsessão com a segurança nacional ao patriotismo perverso, da vigilância cidadã ao fim da tranquilidade individual, da defesa do bem público à transgressão do espaço privado, a delação está ligada aos momentos mais sombrios da história.

O estudo da delação ao longo do tempo oferece-nos suas relações com o espaço público, em que se mesclam verdades e seu contrário, informações e falsificações, intervindo diretamente na formação da opinião pública".

(Olgária Matos)


Essa categoria de comportamento se constitui como ingrediente cultural, muito presente em ambientes de coleguismo, "clubes", fofocas familiares, competitividade científica ou artística, escolas, ambiente de trabalho, como forma de o sujeito delator, em processo vago de autoconstituição do ser, poder ganhar algo em troca. Seja dinheiro ou algum tipo de reconhecimento, com base no que considera como sendo "fraqueza do outro".

A convicção fanática, ou insuficiente ocorre na mesma medida de uma necessidade de autojustificativa para si e para os demais. Em vários casos, como dito por O. Matos, como sede de autopromoção.

Em outros casos (todos?), com fortes camadas de despeito inscritas no tabernáculo invejoso da carne.

Por isso, alguns diriam não se tratar da responsabilidade de alguém, mas de fraqueza da carne.

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