terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Paris de Minnelli é contraditoriamente acinzentada (continuação do e-mal)




O que você se referiu como sendo" trejeito infantis" guarda muita relação com a operação implicada na cena mais famosa de "Cantando na Chuva".

Em "Sinfonia de Paris", Gene Kelly chega à capital a fim de tentar sua sorte como pintor. E o que consegue, afinal?

A amizade de um grande músico frustrado que não consegue se apresentar na "Capital da Luz".

E quanto ao próprio Kelly? Para expôr suas pinturas somente se aliando a uma cafetina ricaça.

Em suma, Paris se desenha no filme como um lugar em que os " de fora" não conseguem se incluir naturalmente (talvez venha daí o caráter radicalmente anti-naturalista do filme). Muito menos quem é pobre. A arte, por fim, é uma mercadoria como outra qualquer.

O dilema, pois, para ele será: vender ou não sua alma?

No mais, o personagem encontra uma moça simples, balconista, por quem se apaixona. A rigor, seria ela a encarnação dos antípodas dessa cidade a princípio paradisíaca, mas que não passará de uma metrópole excludente.

Portanto, voltamos aos "trejeitos infantis" que são, na verdade, atos de resistência surrealista ao mundo hostil e mecanicista. A câmera do diretor e o corpo de Kelly trabalham com movimentos equivalentes às sutis pinceladas de Paul Klee e Joan Miró, desenhando linhas e curvas no espaço, a buscar realidades pré e pós-conscientes de enfrentamento livre e lúdico à máquina tentacular.

Na última e quase ininterrupta cena coreografada há um ambiente de caos, de seres tentaculares a impedir qualquer espaço para o "marginal protagonista". Daí a necessidade de formas - de caráter aberto, originário- que se contraponham a um mundo caduco.

Como podemos notar, um filme menor de Minnelli, mesmo feito à sua revelia não é tão bobo quanto aparenta ser.


" Walter Benjamim reflete sobre as questões da história. História que é violência, ruína, destruição, catástrofe.

Nesse horizonte, o herói não é mais o militante revolucionário, mas o flanêur, o andarilho na cidade, o poeta alegorista... a criança, o narrador, o colecionador- todas as figuras que a cidade não inclui, mas marginaliza como inúteis e sem localização produtiva definida.

Paris não é só a capital do capital. Paris é uma época. A época do desamparo do indivíduo.

A modernidade nos dá a experiência de um mundo "do qual os deuses já partiram ou ainda não chegaram".

(Olgária Matos sobre o pensamento de W.Bejamim).

A pergunta em Minnelli seria: é possível lutar contra um progressivo desancantamento do mundo, diagnosticado por Weber ou Benjamim?

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