quinta-feira, 30 de julho de 2009

Rejuvenescendo O Pop




Há uns dez anos mais ou menos quando tive contato com as letras dos Talking Heads me pareceu muito enfadonha aquela festa narcísica entre seres indiscerníveis em "mocas comunitárias". Já hoje quando ouço ao primeiro trabalho da banda, não foco as letras( isso já era para ser óbvio naqueles tempos), mas me surpreende o tom de arrojo e o o respiro de frescor lançados por David Byrne naquele universo musical pop que ficava bem estagnado, seja por certas estripulias do prog, seja pelo tom algo dark quase gótico de muitas músicas ressaquentas das utopias dos anos 60.
Não que não haja ressaca nos Heads, mas não deixa de ser uma ressaca revitalizada por um espírito de descoberta, de injeção de arrojo e vitalidade naquele universo algo Tanático( mortal) do período. Depois disso Brian Eno, que era dos Roxy Music, se juntaria a Byrne e também a David Bowie... e o resto é história, ou bem História.
Esse primeiro trabalho dos Heads já remete às experimentações futuras com Eno e ao trabalho desse com Bowie no Lodger (1979), que já tem muito do que posteriormente seria chamado de "World Music".
Não gosto tanto de um Andy Warhol, por exemplo, quanto das pinturas de um Edward Hopper ( aliás, a distânca entre um e outro é enorme pra mim), mas como sempre ouvi música pop com destilado prazer por vezes despretensioso, fica fácil embarcar na jornada dos Heads, onde o espírito de descontração se casa com a inovação musical, sem nunca abandonar a ênfase nas superfícies, mas aqui em suas máximas, ou quase máximas possibilidades.
David Byrne, por sua vez, ainda dentro desse mesmo espírito algo inquieto, descobriria uma certa música brasileira e na sua " latino coletânea"abriria com Jorge Ben( ainda não Jor) em sua fase áurea.
Já nesse primeiro trabalho dos Heads podemos ver todo esse estado de espírito inquieto, nada conformista de Byrne a resgatar uma energia na música popular dos anos 70 de forma inédita.
Recomendo desde já a pérola!


Um comentário:

  1. "Talking Heads: 77".

    Obra-prima inquietante. O caráter teatral do canto de Byrne (incrivelmente expressivo, debochado, doidivanas, sem deixar de ser dramático a seu modo), a pegada seca, quase áspera da banda, e as belíssimas composições terminam por delinear um disco antológico.

    (Sandro)

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