Cessa o teu canto!
Cessa, que, enquanto o ouvi,
ouvia uma outra voz
como que vindo nos interstícios
do brando encanto
com que o teu canto vinha até nós.
Ouvi-te e ouvi-a no mesmo tempo e diferentes
juntas a cantar.
E a melodia que não havia se agora a lembro, faz-me chorar...
Foi tua voz encantamento que,
sem querer, nesse momento
vago acordou um ser qualquer alheio a nós que nos falou?
Que anjo, ao ergueres a tua voz,
sem o saberes,
veio baixar sobre a terra onde a alma erra,
e com suas asas soprou as brasas de ignoto lar?"
(Fernando Pessoa)
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