segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Blogs e críticas




Em alguns blogs,as questões referentes à critica de cinema voltam à baila.

Uma das perguntas que deveríamos nos fazer é:a quem interessa essas questões?
O que está sendo discutido de fato alterará a percepção do crítico em relação a seus textos?
Teríamos de padronizar uma "maneira certa" de se fazer uma crítica,de escrevê-la?

Esse blog que vos fala,por exemplo,não é um blog de crítica.O profissionalismo exigiria talvez outro tipo de elaboração,enquanto que o que se escreve por aqui é feito no calor da hora,captando rapidamente algumas percepções ou impressões,dependendo da ótica.

Se ainda não inventaram um edital de blog,o desse seria:Proposta de educação.Ou seja,um prolongamento do que já faço em sala de aula.
Estilo:Que seja uma casa aberta.

Outra questão a se fazer é:seria interessante falar sobre música,cinema, restringindo-se ao enfoque da arte pela arte?Ou algo escapa para a vida?
Certamente que música e cinema,por exemplo,não resumem a vida,mas estão entrelaçadas a meu ver.

Seria interessante fazer uma crítica esotérica,ou seja,para os já iniciados?
Tomara que não.O cinema,por exemplo,é a mais marginal das artes e um dos motivos estaria no fato de quase nunca ser visto como arte.E,por outro lado,os que o veem como uma delas,tendem a querer jogá-lo em nichos "respeitáveis",de chiqueza cult,embora vazia.
Um filme não pode ser comercial e artístico?
Como diferenciar um artista daquele que não o é na indústria,por exemplo?
Como diferenciar o artista do mero tapeador nos meios cults?
Um artista precisa sempre ignorar o público?
O crítico precisa sempre ignorar o público?Pra quem ele escreve,afinal?Para sua tribo?Para os que já leram Bazin?Pra quem entende teoria musical?

Repito que esse não é um blog que se propôs como sendo outra coisa que não de educação.E uma das estratégias de certos educadores é seduzir aquele que será formado ou informado.Ao menos,dos pedagogos menos conservadores.

A veia,digamos,mais poética vai de cada um.Uns tem muito dela dentro de si.Outros nada e apenas forçam.
Depende se o olhar do camarada é mais poético ou não.Se já trás isso dentro de si.E crítica é olhar.Cinema?Deveras.

O Affonso Romano de Sant`Anna num texto no Estado de Minas de Domingo sobre os óculos de Drummond em Copacabana cita Heidegger em algo como "a poesia é a arte de ver,desver e rever".
Mas lembrando aqui,o mesmo Drummond já falava:"O último trovador morreu em 1914.Tinha um nome de que ninguém se lembra mais".
No novo milênio haveria espaço para a poesia,depois que,por exemplo,o cancionista Chico Buarque decretou o fim da canção?
Então ouvir Cole Porter,Tom Jobim estaria fora de moda?
Mas a quem interessa a moda?Já que ela é tudo aquilo que,para ser o que é,tem mesmo de passar?
Ser poético é ser romântico?Essa é fácil e já respondo.Não.Nem sempre.

A dificuldade com a poesia mostra não que ela tenha morrido,mas que se encontra tão viva quanto certas formas de defesa próprias a uma maneira de se adequar a uma certa lógica no mundo,que tende a repeli-la.
O que é gratuito,a contemplação,por exemplo,em princípio seria o contrário do "dar lucro".Ao menos,imediato em um mundo cada vez mais veloz.Já que o que manda mesmo é a deusa informatizada,a deusa ciência,a deusa informação no mundo do espetáculo da sala de estar ou das ruas.
Daí que muitos filmes de Shyamalan ou de Tim Burton não sejam compreendidos.Uma música de Gershwhin ou de Burt Bacharach seja vista como melosa,um musical de Minnelli como "demodé".Inocente demais.Ok.As letras de Ary Barroso também seriam.De Cartola?Muitas.
Estamos viciados em "factualidades" e factóides.Somos escravos da lógica dos jornais,não somente da lógica tecnológica.
Desaprendemos certas coisas ou as tememos?O que podem pensar que sou se acreditar nessa fábula,nós tão cínicos e desiludidos,escravos da banalidade,não podemos simplesmente crer.Porque isso seria muito simples.

Mas e a simplicidade,dá lucro?

Um comentário:

  1. Oi Alessandro

    Retribuindo a visita e extendendo a discussão.

    Acho que o que o bruno escreveu não tem a ver exatamente com "crítica" missionária ou com a confissaõ de fé do crítico. Tem a ver sim com desgaste retórico e falta de autonomia criativa, porque parece que alguns críticos (especificamente de revistas, eletrônicas ou não, brasileiras e estrangeiras) cumprem um programa crítico. Cafetinagem intelectual.

    Abraço

    Francis

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