domingo, 10 de janeiro de 2010

Um pouco mais dos Besouros




Lembro-me de uma frase,não sei bem de quem,cuja idéia é de que "reconhecer o Srg. Pepper´s é fácil.Difícil seria reconhecer o Srg. Pepper´s nas gravações de 63,64,por exemplo".
Ouvindo essas gravações ontem,muito há de se confirmar disso.Os Beatles já tinham uma musicalidade,uma graça e riqueza diferenciada de texturas sonoras e harmonias vocais muito antes.

Voltando a um ponto.No Álbum Branco a sensação é de que as músicas foram simplesmente jogadas ali,sem maiores critérios.Nesse período,cada integrante passava a se isolar cada vez mais,existindo o momento Lennon,o momento McCartney,o momento Harrison.O sentido de química de banda estava se perdendo,se diluindo.Ou bem já havia se perdido.
Com o Abbey Road,segundo um desejo do McCartney,a banda volta à pleno vapor para seu disco de despedida,que faz praticamente um balanço e releitura de seus momentos,sobretudo naquele que antes era o lado B do vinil:As múltiplas colagens de várias canções compôem uma densidade e unidade a partir de um instrumental integrado,apesar de todas as diferenças(eles já sabiam que iriam se separar).Mas o sentido de coesão é certo,como se estivessem dando o máximo de si sabendo ser aquele seu último momento.Trata-se de um "tour de force"de musicalidade,em que parecem se superar.

Voltando um pouco novamente...Com Help os Beatles ainda insistiam em algumas regravações sem pé nem cabeça como Act Naturaly e o estado de espírito era de tentar manter um estilo reconhecido como sendo "Beatle",apesar da banda já estar amadurendo.Inclusive,tal contenção às vezes forçada seria notada no anterior Beatles For Sale,em que as meditativas No Replay e I´m a loser que abriam o disco, aos poucos iriam também cedendo para um bocado de mais do mesmo,o que seria explicitado em inúmeros regravações ao estilo Carl Perkins.Nem por isso o disco deixava de conter pérolas como Every little thing ou I don`t want to spoil the party,entre uma e outra.
A virada se daria com um disco de aparência clássica,mas com o melhor dos Beatles mais meditativos e líricos,o chamado Rubber Soul.Afinal,como um disco com um solo tão sofisticado de acordes em Nowhere man,com cítara em Norwegian Wood,com um solo de piano como o de In my Life,com a pegada instrumental no apelo de The Word,entre outras, já não seria uma assunção de "outra coisa"?
O tom existencial,ou mesmo existencialista de I`m a loser aqui seria radicalizado.Sem haver uma fúria como a do posterior Revolver,Rubber Soul foi feito em espírito de festa,apesar de seu tom tanto evocar o introspectivo do ambiente Inglês(dessa Inglaterra talvez nublada).Mas o disco é,antes,uma festa na maneira de integração de vocais, de harmonias,instrumentais e,claro,de melodias perfeitas,umas seguidas das outras(sem maiores espaços para os buracos,as lacunas da maioria dos discos,inclusive dos deles).
Para se notar onde se fazia toda a diferença,poderíamos procurar ouvir o solo com acordes,ou o enriquecimento harmônico no vocal,nos violões e nas guitarras e,claro,o contrabaixo de Paul,totalmente empenhado em desenhar melodias e harmonias,o que fugia ao modelo de marcação e de cadência que representava o instrumento no rock-pop até então.
O sentido de coesão instrumental desse disco clássico,sóbrio e inovador na surdina só seria retomado no último Abbey Road,em que,como já dito,a integração de banda caminharia ao lado de igual sentido de sobriedade.

Ps. À parte isso tudo,haveria posteriormente nos Beatles um outro tipo de preocupação com as texturas psicodélicas que não as do Revolver,naquele que seria o Srg. Pepper´s,com seu estilo de confeitaria pop,repleta de recheios(de bolos,glacês,...),cuja obra-prima se encontraria na última música do disco,chamada A Day in the life.O espírito geral do disco ganha aqui uma densidade inusitada como fecho e clímax,com a meditatividade à par de outro grande momento do disco,a música She´s leaving home,e ainda hoje surpreende.Por vezes, parece ser mais um disco do produtor e maestro George Martin do que dos demais.Certamente com Paul ali incitando tudo,já que se tratava de um projeto dele,o que pode ser notado pelo número de composições desse beatle.Bem,e o resto é mito.

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