terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Cinema e Terrorismo




Ratificando talvez o que foi aqui falado sobre Gene Kelly e trupe,encontrei esse texto do professor de cinema Peter Wollen:

"Dezembro de 1951.Este foi o mês em que o veterano jornalista anticomunista "Doc" Matheus citou especificamente Cantando na Chuva em "O cinema limpou mesmo a casa?",um artigo que foi um verdadeiro marco por exigir que os estúdios se empenhassem com mais entusiasmo na tarefa de expurgar a esquerda e por levar à quase institucionalização da lista negra nos termos da Legião Americana.Dezenove longos meses se passaram antes que o estúdio e Kelly conseguissem encontrar uma solução satisfatória.
É tentador procurar interpretar Cantando na Chuva em função do clima político no qual foi feito:notar,por exemplo,que a história gira em torno do desmascaramento de um plano para pôr na lista negra Kathy Selden(a heroína vivida por Debbie Reynolds),plano concebido por um informante e reforçado pelo emprego dos meios de comunicação para pressionar um estúdio desfibrado que,afinal,coloca o lucro acima dos princípios..
Resta a tragédia de Hollywood ter-se deixado intimidar a ponto de perder grande parte de seus talentos ou que,ao fim e ao cabo,só os tenha mantido à custa de conformismo e concessões humilhantes,que debilitaram e destruíram sua energia criadora desde aquela época até os anos 60.A profundidade dessa tragédia ainda não foi reconhecida em sua magnitude.
..creio que foi o macarthismo,no sentido amplo do termo-ou seja,a determinação de destruir todos os traços da cultura da Frente Popular-que primeiro e tragicamente limitou os musicais da MGM e finalmente levou-os à paralisação.Desse ponto de vista,parece apropriado que as últimas produções da Freed Unit,em 1959,tenham sido Os Subterrâneos da Fome e Essa Loura vale um milhão(direção de Vincente Minnelli),o último e heróico ato de resistência de Judy Hollyday,Betty Comdem e Adolph Green(os roteiristas de Um dia em Nova York,Cantando na Chuva,A Roda da Fortuna e Dançando nas Nuvens)".

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